Bloco apela ao bom senso no Porto de Setúbal

Catarina Martins solidária com estivadores. "Responsabilidade é das empresas"

Catarina Martins pede ao Governo que volte a sentar-se à mesa com estivadores e empresas de trabalho portuário para acabar com a paralisação no porto de Setúbal. A coordenadora do Bloco de Esquerda esteve com os estivadores que estão em protesto há praticamente um mês. O Sindicato dos Estivadores admite contactos para novas reuniões depois das negociações falhadas da semana passada.Catarina Martins apela à responsabilidade do Governo e pede que a lei seja cumprida. A líder do Bloco de Esquerda acusa ainda as empresas de "não respeitarem os direitos" dos trabalhadores do porto. No entanto, desde o inicio desta semana, três armadores internacionais, deixaram de escalar o porto de Setúbal, desviando os contentores maioritariamente para os portos espanhóis de Vigo e de Santander.
Catarina Martins visitou estivadores 

"Nós temos ouvido dizer que a paralisação nos portos é um problema para a economia. Mas o problema não está nos trabalhadores; está em empresas que acham que podem operar no nosso país contratando ao dia ou ao turno", disse Catarina Martins num encontro com estivadores eventuais do porto de Setúbal.
"Quem ataca a economia em Portugal não é seguramente quem luta pela dignidade de quem aqui vive e de quem aqui trabalha; é quem achar que pode fazer coisas indignas, como contratar ao dia. Se aceitarmos que pode ser assim em qualquer área da economia, estamos a dizer que no nosso país pode haver a lei da selva em tudo", acrescentou.
Solidária com o protesto, Catarina Martins dirigiu-se aos estivadores eventuais do porto de Setúbal para elogiar a determinação que têm revelado no que considerou ser uma luta contra o regresso ao passado.
"Sabemos que os vossos dias são muito difíceis, mas quando um trabalhador levanta a cabeça pelos seus direitos, está a faze-lo por si e pelo país todo. E por isso a nossa solidariedade é também de quem vos agradece a vossa determinação, porque são uma voz forte que se faz ouvir neste país, a dizer que não queremos praças da jorna, não queremos viver no século XIX. E exigimos que os trabalhadores tenham contratos de trabalho como deve ser", acentuou.
"É preciso negociar encontrar uma solução que respeite os vossos direitos. Qualquer pessoa que diga que os vossos direitos estão a ir contra a economia do país, deve querer voltar para um lugar qualquer muito escuro do passado, para onde nós não queremos voltar", sublinhou.
Catarina Martins defendeu ainda a urgência de se retomarem as negociações interrompidas na passada sexta-feira, com vista à regularização dos trabalhadores eventuais do porto de Setúbal, considerando que a exigência do sindicato era muito simples.
"As negociações foram paradas e não é claro porque é que foram paradas, porque o que os sindicatos o que pediam é algo muito simples como a contratação dos trabalhadores que têm a ver com necessidades permanentes do porto de Setúbal. Não podemos ter um porto com 300 trabalhadores em que só 30 é que têm contratos de trabalho. Ninguém acredita que o porto de Setúbal só precisa de 30 estivadores. O que está aqui em causa é regularizar a situação laboral de quem trabalha", disse.
"Eu acho que nos insulta a todos como país, que, numa área tão importante para a economia como os portos, possam existir empresas que contratam pessoas ao dia e ao turno. É uma chantagem intolerável. O que é preciso, neste momento, julgo eu, é a serenidade, mas também a determinação, de obrigar toda a gente a voltar à mesa de negociações. E obrigar estas empresas que operam nos portos a cumprir o mais básico do direito do trabalho: garantir um contrato de trabalho a quem aqui está" concluiu.

Três armadores internacionais trocaram Setúbal por portos espanhóis
Desde o dia 3 de Dezembro, três armadores internacionais, a McAndrews, a Tarros, e a Arkas, deixaram de escalar o porto de Setúbal, desviando os contentores maioritariamente para os portos espanhóis de Vigo e de Santander. Esta decisão resulta do conflito laboral iniciado há várias semanas pelos estivadores do SEAL – Sindicato dos Estivadores e da Atividade Logística no porto de Setúbal e deverá provocar uma quebra de 70 por cento na carga de contentores movimentada pelo porto sadino.
“A partir do inicio desta semana, o porto de Setúbal vai perder 70 por cento das suas cargas em contentores. Três armadores, a McAndrews, Tarros e Arkas, decidiram deixar de escalar o porto de Setúbal porque não querem suportar mais custos acrescidos. E foram para portos espanhóis, maioritariamente para os portos de Vigo e de Santander”, revelou Diogo Marecos, administrador da Operestiva, citado pelo Jornal Económico, uma das duas empresas fornecedores de pessoal de estiva aos operadores de terminais portuários em Setúbal.
Segundo os dados fornecidos pela Autoridade da Mobilidade e dos Transportes, no mês de Dezembro do ano passado, o porto de Setúbal movimentou 12.211 TEU (medida padrão equivalente a contentores com 20 pés de comprimento).
Se estes três armadores não regressarem ao porto de Setúbal, estaremos a falar de uma ‘fuga’ de cerca de 8.550 TEU neste mês de Dezembro, por comparação com o mês homólogo de 2017. Ou do ‘desaparecimento’ de de mais de 106 mil TEU num ano, tendo conta os dados do ano passado. Isto, se não houver mais debandadas de armadores internacionais do porto de Setúbal.
A paralisação do porto de Setúbal não está só a prejudicar o segmento da carga contentorizada.
A fabricante automóvel Autoeuropa corre sérios riscos de ter de suspender a produção já durante esta semana, enquanto a The Navigator está a exportar pasta e papel através de outros portos nacionais, mas com custos acrescidos em tempo e dinheiro.
A situação de impasse agravou-se a partir de sexta-feira passada, dia 30 de Novembro, com o fracasso do processo negocial entre estivadores do SEAL – Sindicato de Estiva e Atividades Logísticas e operadores do porto de Setúbal, mediado pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino.
Com o Governo fora do processo e as posições a manterem-se irredutíveis por parte do SEAL e dos operadores portuários, resta pouca margem de manobra às empresas que utilizam regularmente o porto de Setúbal.
Neste momento, o porto de Setúbal está praticamente parado.

Agência de Notícias com Lusa 

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