Festival de Teatro de Almada arranca esta quarta-feira

"Este ano temos o festival possível..." 

Esteve em risco e foi preciso a câmara municipal fazer um financiamento de emergência, mas o Festival de Almada regressa esta terça-feira, 4 de Julho. A programação  inclui peças de teatro, concertos e espetáculos de rua, entre os dias 4 e 18 deste mês. A 35.ª edição do evento terá 24 produções, 11 atuações de música e quatro performances de rua. O Espetáculo de Honra que abre o festival deste ano será o burlesco “Bigre”, da companhia francesa Le Fils du Grande Réseau. Há produções de companhias de todo o mundo: desde a Alemanha ao Burkina Faso, passando pelo México. Encenadores como David Marton, Rafael Spregelburd, Pippo Delbono e Jöel Pommerat participam no evento. Haverá ainda “Carmen”, de Diogo Infante; “Lulu”, com encenação de Nuno M. Cardoso da peça de Frank Wedekind; ou “Bonecos de Luz”, de Rodrigo Francisco, a partir de textos de Romeu Correia. 
Bigre abre este noite o festival de Teatro de Almada 

Na apresentação do 35º Festival de Teatro de Almada, o diretor Rodrigo Francisco reconheceu que o “corte de verbas» afetou a programação e não fugiu ao problema. "O público habituou-se a ver as melhores companhias mundiais. Este ano não foi possível", lamentou em conferência de imprensa, recorrendo à muito futebolística expressão “omoletes sem ovos” para ilustrar as dificuldades.
De um orçamento total de 576 mil euros, apenas 91 mil, o equivalente a 16 por cento, provêm dos subsídios da DGartes. Um corte drástico de 25 por cento (cerca de 110 mil euros) anunciado em Maio, quando a programação anual já tinha sido fechada em Janeiro. "Ou se cortava na programação, ou se cortava o festival", explicou a presidente de Câmara, Inês de Medeiros, para quem a Companhia de Teatro de Almada tem a especificidade de trabalhar em duas frentes – a programação anual e o festival – e, por isso, não deve ser tratada sob os mesmos critérios de outras companhias.
E uma vez que "o município quer que o festival continue a ser uma referência e o grande evento mobilizador da cidade e do concelho", viabilizou o festival através de apoio financeiro reforçado. "A Câmara acorre de forma excepcional no apoio ao festival porque consideramos que o Estado central não se pode alhear do maior festival de teatro do país", sublinhou a autarca.
"Não se pode, por isso, ter como missão promover a internacionalização da cultura portuguesa e, em simultâneo, reduzir em 25 por cento o financiamento do que mais contribui para essa mesma internacionalização", lamentou a autarca.
Em "ano de grandes dificuldades", "Bigre", da companhia francesa Le Fils du Grand Réseau, foi a peça escolhida pelos espectadores da edição do ano passado para o Espectáculo de Honra que, como é tradição, inaugura o festival. Uma repetição da abertura de 2017.
A poetisa, dramaturga e tradutora Ivette Centeno é a homenageada. A coreógrafa Olga Roriz será a responsável pelo programa de formação O sentido dos mestres, a decorrer nos dias 9, 11 e 12 de Julho na Casa da Cerca.
No dia 14, o centenário do nascimento de Ingmar Bergman, a coreógrafa apresenta A Meio da Noite, espetáculo de homenagem ao realizador. Um outro tributo é o de Diogo Infante a Carmen Dolores. "Carmen" estará em cena de 12 a 15 de Julho no Teatro da Trindade.

As escolhas do diretor 
Não  há questão mais atual do que a das fronteiras. “Tem que ver com os próprios criadores que, quando fazem espetáculos, estão já a responder ao contexto em que vivem e, inevitavelmente, fazem espetáculos sobre aquilo que os toca”, refere Rodrigo Francisco, diretor do Festival de Teatro de Almada que acontece, como sempre, entre 
4 e 18 de Julho.
“Neste caso é uma companhia mexicana. Com o que aconteceu recentemente nos EUA e com as medidas que foram tomadas, há um espetáculo, que curiosamente é de um autor espanhol, sobre essa temática que ganha atualidade...” Com encenação de Ignacio García 
e texto de Juan Carlos Rubio, a peça chama-se Arizona, estará em cena no sábado e no domingo, 7 e 8 de Julho, no Fórum Romeu Correia e retrata um casal norte-americano que se dirige para sul para vigiar a fronteira, integrado num programa de patrulhamento 
do deserto.
“Nós procuramos a diversidade, é esse o traço da nossa programação. Olhando para os 24 espetáculos que temos em sala vemos uma panóplia vasta de temas e formas de fazer teatro”, diz o diretor do Festival de Teatro de Almada. “Temos espetáculos sem palavras, temos espetáculos de texto puro e duro, temos espetáculos de dança e acabamos com um recital de poesia que é também um documentário”, sublinha Rodrigo Francisco.
O festival abre de novo com o espetáculo que foi a escolha do público na edição anterior; no caso, Apre – Melodrama Burlesco, peça que coloca 
em diálogo as peripécias de três habitantes 
de um prédio de subúrbio.
Rodrigo Francisco destaca também a importância de contemplar os artistas emergentes na programação do festival, que 
se distribui por salas em Almada e em Lisboa. 
“Há dois espetáculos que gostava de referir: Liliom ou a Vida e a Morte de um Vagabundo, apresentado no Teatro Municipal Joaquim Benite, de Jean Bellorini, que dirige o Teatro Gérard Philipe e, com menos de 40 anos, é já uma referência no teatro europeu; e A Sonâmbula, encenado por David Marton, de origem húngara, 
que faz uma revisitação da ópera do Bellini com instrumentos modernos”. 
 Dos 24 espetáculos, nove são portugueses: casos de Nada de Mim pelos Artistas Unidos (5 a 8 de Julho) ou Colónia Penal pela Ar de Filmes/Teatro do Bairro 
(5 a 17 de Julho).



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