Tinta de choco e tricô contra petróleo na costa alentejana

Dizer não ao petróleo no Alentejo com tinta de choco e tricô 

Uma dezena de activistas cobriram-se de tinta de choco, na marginal de Sines, na tarde de sábado, enquanto outros pegavam em agulhas para tricotarem uma linha vermelha contra a exploração de petróleo na costa alentejana. Sob um céu momentaneamente encoberto, mas que não afastou o calor, nem as pessoas do pequeno areal da praia de Sines, algumas associações ambientalistas aproveitaram a oportunidade para sensibilizarem o público do Festival Músicas do Mundo, para os riscos da exploração de petróleo e gás no litoral português. O consórcio liderado pela petrolífera italiana Eni tem "tudo preparado para avançar" com o furo exploratório no mar, a 46 quilómetros ao largo de Aljezur e a 80 quilómetros de Sines, diz presidente executivo da Galp. 
Manifestantes contra exploração de petróleo em Sines  

"Não ao furo, sim ao futuro", lia-se no chão, no início das escadas que descem para a Praia Vasco da Gama, onde muitos festivaleiros ainda descansavam da noite anterior e se preparavam para os sete concertos com que terminou a 19.ª edição do festival Musicas do Mundo.
Dezenas de activistas ambientais, do movimento Alentejo Litoral pelo Ambiente e da campanha nacional Linha Vermelha, entre outros, aproveitaram o pretexto para uma acção surpresa, inspirada na Greenpeace.
Ainda de toalha na mão, Eugénia Santa Bárbara, da Alentejo Litoral pelo Ambiente, explicou à Lusa o que foi preparado. "Quisemos simular um derrame de petróleo e os impactos que isso tem, normalmente, na fauna e na flora", explicou, recordando que há um furo previsto para Aljezur, de três mil metros de profundidade, já no início de 2018, e frisando os "impactos ambientais, mas também económicos e sociais, no turismo e na pesca", da exploração de petróleo.
A tinta de choco, biológica e preparada em casa, com que dez activistas se cobriram e desceram até à praia, para "criar uma imagem que fosse forte", só foi conseguida com a ajuda das peixeiras de um mercado lisboeta, contou.
Em paralelo, a Linha Vermelha desfiou agulhas e linhas para "alertar e consciencializar os portugueses para a exploração do petróleo e do gás em Portugal", explicou Catarina Gomes, responsável pela campanha nacional que recorre às artes do tricô e do croché para desenhar uma estratégia "mais leve" e "convidativa", porque, "quando as pessoas ouvem estes assuntos, sobre o petróleo, qualquer coisa relacionada com activismo, ou coisas mais sérias, assustam-se".
Mesmo quem não sabe tricotar é bem-vindo, sublinha a activista, contando que uma centena de pessoas já deu uma ajuda com as agulhas, na marginal de Sines.
Adultos, jovens e crianças têm posto mãos ao tricô, de norte a sul, para ajudarem a "tecer a maior linha vermelha que seja possível" e "com ela percorrer o país".
Desde que começou, há sete meses, a linha, com 15 centímetros de largura, já vai em quase quatro quilómetros. A campanha só acabará quando os nove contratos para exploração de petróleo e gás forem cancelados.

Galp projeta furo de petróleo no Alentejo para 2018
O consórcio que integra a Galp Energia prevê avançar com o primeiro poço exploratório de petróleo na costa alentejana no próximo ano, de preferência entre Abril e Junho, disse o presidente executivo, Carlos Gomes da Silva.
Em conferência de imprensa, o presidente da Galp Energia disse que o consórcio, liderado pela petrolífera italiana Eni, tem "tudo preparado para avançar" com o furo exploratório no mar, a 46 quilómetros ao largo de Aljezur e a 80 quilómetros de Sines.
"A janela fechou. Neste momento, temos projetado para 2018 o poço de avaliação, que para além de avaliar o potencial marítimo em termos energético, avalia também a biodiversidade e o potencial marinho".
A Galp Energia desistiu de avançar com a pesquisa de petróleo em três das quatro concessões que detinha na bacia de Peniche, o que levou a petrolífera a registar uma imparidade de 22 milhões de euros nas contas do semestre.
Em conferência de imprensa, o presidente executivo da Galp Energia afirmou que a petrolífera decidiu manter somente uma das áreas de pesquisa ao largo de Peniche, sem referir quais das quatro foram abandonadas (Camarão, Ameijoa, Mexilhão e Ostra).
"Decidimos devolver a concessão em três áreas da bacia de Peniche. Tomámos a decisão de abandonar estas áreas antes de furar", disse Carlos Gomes da Silva, referindo que a decisão foi tomada com base na análise aos dados geológicos recolhidos.

Agência de Notícias com Lusa
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