CUF do Barreiro vai ser património nacional

Direção-Geral do Património avança com classificação de imóveis da antiga CUF

A Direção-Geral do Património Cultural vai iniciar um procedimento de classificação de um conjunto de imóveis ligados à atividade industrial e à obra social da antiga CUF, no Barreiro. O processo de classificação do património foi despoletado por um grupo de cidadãos, intitulado “Em defesa do Posto Médico da CUF”, que avançou com o pedido de classificação de vários espaços históricos da antiga CUF para impedir também a demolição do edifício do antigo posto médico. Os responsáveis da Baía do Tejo, proprietária dos imóveis, já disse que apesar de "quer atrair investimento para o parque empresarial", quer respeitar a história e o património. Apesar disso, no documento, a que a Lusa teve acesso, é explicado que o antigo posto médico da CUF não está incluído por "o atual estado de degradação não o justificar".
Bairro Operário de Santa Bárbara vai ser património nacional 

Os responsáveis da Baía do Tejo, proprietária dos territórios da antiga CUF, e da autarquia do Barreiro referiram, durante a apresentação da iniciativa, nesta quinta-feira no Barreiro, que a Direção-Geral do Património Cultural vai avançar com o processo e que em breve o procedimento será publicado em Diário da República.
"Existe uma preocupação da Baía do Tejo com a defesa do património. Queremos atrair investimento para o parque empresarial, mas respeitando a história e o património. Esta decisão de iniciar o processo de classificação vem a favor da preservação", disse Jacinto Pereira, presidente da Baía do Tejo.
O presidente da Câmara do Barreiro, Carlos Humberto, referiu que no início do Plano de Urbanização do território da Quimiparque e zonas envolventes já tinha sido identificado património para se pedir classificação.
"Do que propúnhamos no plano, existe um elemento, que são as chaminés, que não está considerado, mas que vamos tentar incluir no prazo de consulta pública. A abertura desta classificação é muito positiva", disse o autarca, lembrando o património também existente ao nível da moagem e do setor ferroviário.
O processo de classificação do património foi despoletado por um grupo de cidadãos, intitulado "Em defesa do Posto Médico da CUF", que avançou com o pedido de classificação de vários espaços históricos da antiga CUF para a Direção-Geral do Património Cultural  de modo a impedir também a demolição do edifício do antigo posto médico.
A Baía do Tejo está a avançar com a requalificação da rua da União, no concelho do Barreiro, local onde se situa o edifício do posto médico da CUF, sendo esta a rua que faz a ligação entre a saída do parque empresarial da Baía do Tejo e o centro do Barreiro.
Além da obra de requalificação da rua, que vai originar a demolição de alguns edifícios, como o antigo posto médico, esta intervenção tem o objetivo de intervir na requalificação de toda a zona envolvente, com a criação de passeios e espaços verdes.

Antigo posto médico da CUF vai mesmo ser demolido 
Antigo posto médico da CUF está em ruínas 
"Avançamos com uma proposta para a classificação de um conjunto de imóveis. É um edifício que tem muito valor arquitetónico, quem passa por fora nem se apercebe de todo o seu valor, e também é importante ao nível da obra social de Alfredo da Silva", disse à Lusa Regina Dinis, membro do grupo.
Os elementos do grupo, que já efetuaram uma petição pública, realizaram diversas reuniões com responsáveis e foram ouvidos na Assembleia da República, e receberam a resposta da Direção-Geral do Património Cultural , que vai avançar com a classificação de edifícios, mas deixa de fora o antigo posto de médico.
No documento, a que a Lusa teve acesso, é explicado que o antigo posto médico da CUF não está incluído por "o atual estado de degradação não o justificar", mas os elementos do grupo garantem que não vão desistir e vão levar também o caso ao ministro da Cultura.
"O antigo posto médico está recuperável e até podia haver fundos comunitários para uma intervenção. Vamos avançar com uma reclamação dentro do prazo legal. No fundo, estamos todos a pagar a demolição de um edifício histórico que é propriedade de uma empresa pública", afirmou António Ferreira, também membro do grupo, salientando que existiram "muitas contradições" ao longo do processo.
"Aconteça o que acontecer, nós já ganhámos com este processo. Não havia nada, o património estava a ser destruído aos poucos e, por nossa iniciativa, agora já têm que pensar duas vezes", acrescentou Ana Pinto.
A Direção-Geral do Património Cultural  pretende classificar a Casa Museu Alfredo da Silva mais o antigo posto da GNR, o Museu Industrial e Centro de Documentação, o Bairro Operário de Santa Bárbara, o Mausoléu de Alfredo da Silva, edifícios da primeira geração Stinville, edifícios da antiga central a vapor, o Armazém de Descarga e Moagem de Pirite, o Silo de Sulfato de Amónio e o Silo de Enxofre.
"O antigo posto médico não está no processo de classificação e a sua demolição vai avançar como previsto. Esta classificação ia avançar mais dia menos dia, foi acelerada por esta intervenção, mas é positiva e vai no sentido que temos defendido", disse Jacinto Pereira, referindo que acredita que quando as pessoas perceberem a intervenção no seu todo, o projeto será "consensual".

Alargar o centro do Barreiro e ter o bairro operário como um monumento
O autarca Carlos Humberto explicou que não se avançou com a classificação do património até que estivesse definido o plano para a zona e por questões formais, mas referiu que a Direção-Geral do Património Cultural  pretende classificar o que a autarquia já defendia e acrescentou alguns elementos.
"Este plano é muito mais que o posto médico e não se trata apenas de construir uma rua. É deitar abaixo os muros que separam a fábrica da cidade, é uma visão estratégica de abrir o território e alargar o centro do Barreiro e ter o bairro operário como um monumento, numa zona verde, sem nada em seu redor", disse, explicando que na fase de consulta pública a autarquia está a ponderar acrescentar outros elementos.
Sérgio Saraiva, administrador da Baía do Tejo, considerou que o projeto e a visão global para toda a zona não é compatível com a manutenção do antigo posto médico e restantes edifícios no local.
"Esta classificação aconteceu mais cedo, mas não muda o projeto da rua da União e não causa constrangimentos, vai trazer é mais responsabilidade. Por exemplo, na requalificação da Casa Museu, que pretendemos avançar, vamos ter que pedir um parecer, mas isso faz parte do processo normal", explicou.

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