Lagoa de Santo André aberta ao mar esta segunda-feira

Lagoa encontrou-se com o mar na presença de centenas de pessoas

Os trabalhos finais de remoção de areia para abrir o canal que liga a lagoa de Santo André, no concelho de Santiago do Cacém, ao mar decorreram esta segunda-feira sob o olhar atento de centenas de curiosos. Durante cinco dias, duas máquinas giratórias cavaram um canal pelo cordão dunar que separa as águas da lagoa e do mar, tendo os derradeiros trabalhos culminado ao final da tarde de ontem, com a remoção das últimas línguas de areia. Anualmente, a ocasião traz centenas de pessoas à Lagoa de Santo André, que não querem perder um espetáculo de rara beleza. A abertura da Lagoa ao mar visa a renovação da água da lagoa, a limpeza e lavagem do seu fundo e a entrada de algumas espécies piscícolas, com destaque para os alvins e enguias. O processo, outrora feito pela força de “braços e bestas”, foi substituído já há vários anos por "bestas sem braços", as máquinas.
Vários surfistas "apanharam as primeiras ondas" da ligação ao Mar  

O derradeiro esforço das máquinas foi acompanhado atentamente por uma moldura humana de centenas de pessoas que se estendeu ao longo dos cerca de 300 metros de comprimento do canal, entre as quais aguardavam atentamente alguns surfistas, na expectativa de conseguir apanhar a onda que se forma com a força da água que sai da lagoa em direção ao mar.
"Desde que eu faço este trabalho, vêm centenas de pessoas que acham graça, isto de facto é um acontecimento histórico e é normal", disse hoje em declarações à agência Lusa Isabel Pinheiro, responsável do departamento de recursos hídricos do litoral da Administração Regional Hidrográfica do Alentejo.
A abertura da lagoa permite a renovação das águas e a exportação de matéria orgânica e nutrientes para a faixa costeira, assegurando também a entrada de sedimentos arenosos e organismos (peixes e invertebrados), que garantem a continuidade da atividade piscatória na lagoa.
A empreitada é feita artificialmente no equinócio da primavera desde o século XVII, antigamente com a força do homem e de animais e, mais recentemente, com o recurso a máquinas, numa empreitada promovida pela Agência Portuguesa do Ambiente, através da Administração Regional Hidrográfica do Alentejo.
O processo é executado anualmente nesta altura do ano porque é "a altura em que as marés são mais favoráveis e porque estamos no período da lua nova", explicou  Isabel Pinheiro.
"Na lua nova a diferença entre a maré cheia e a maré vazia é maior, ou seja as amplitudes das marés é maior e favorece o esvaziamento e depois o reenchimento [da lagoa]", ou seja, "favorece a eficiência de toda a operação", esclareceu.
Após ter permanecido aberta "menos de dez dias" no ano passado e com uma previsão de "dez dias" de abertura para este ano, a intenção é manter "o canal aberto pelo menos um mês" de forma a "cumprir os objetivos de qualidade", disse a responsável da Administração Regional Hidrográfica do Alentejo.
Para isso, a Agência Portuguesa do Ambiente, planeia pela primeira vez "uma reabertura", caso "venha a ser necessário", ou seja, se o canal for fechado naturalmente nos próximos 30 dias.

A maior lagoa da costa Alentejana 
Centenas de pessoas juntam-se  para verem a abertura ao mar
No passado a componente balnear não tinha expressão, mas hoje não é de descurar. “Ao melhorarmos a qualidade da água das lagoas isso reflecte-se positivamente. Muitas pessoas procuram aqueles locais”, sublinha o diretor regional do Alentejo da Agência Portuguesa do Ambiente. 
Este é um procedimento se faz há vários séculos: para evitar que se torne um pântano, a lagoa é aberta artificialmente no início das marés-vivas da Primavera.
Outrora com recurso à força de braços e tracção animal, hoje com maquinaria pesada, é aberto um canal na areia das dunas. “Vêem-se coisas muito interessantes como espécies de peixes a subir. Eles notam a diferença de salinidade (a água doce a ir para o mar) e tentam migrar e isto é visível a olho”, conta André Matoso.
O momento da abertura e as horas que se seguem são de uma “beleza invulgar” e, é por isso, que são cada vez mais os que comparecem para assistir ao acontecimento.
Considerada como o maior sistema lagunar da costa alentejana, a lagoa está classificada como Zona Húmida de Importância Internacional (sítio Ramsar) e faz parte da Reserva Natural das Lagoas de Santo André e da Sancha, criada em 2000, estendendo-se na zona costeira de parte dos concelhos de Santiago do Cacém e de Sines, no litoral alentejano.
Este ano, a abertura da lagoa de Melides, no concelho vizinho de Grândola, decorreu no mesmo dia, por volta das 16h15, algo que não costuma acontecer, até porque, neste caso, nem sempre é necessário recorrer a métodos artificiais para renovar as águas, já que, por vezes, a própria lagoa rompe naturalmente o cordão dunar.

Agência de Notícias com Lusa
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