Ordenação do novo bispo de Setúbal decorreu domingo

José Ornelas, o bispo missionário escolhido pelo Papa Francisco 

No ano de comemoração dos 40 anos da criação da diocese de Setúbal, D. Gilberto Canavarro dos Reis, bispo de Setúbal anunciou a resignação do seu cargo apostólico por ter atingido os 75 anos de idade. José Ornelas de Carvalho foi ontem ordenado bispo na Catedral de Setúbal, diocese onde foi enviado pelo Papa Francisco como “missionário” para revitalizar as “sementes da fé”, numa região com a prática religiosa “mais baixa” do país. Para o bispo nomeado para Setúbal, o facto da diocese ser uma região periférica, tem no seu território “as grandes possibilidades mas também os grandes desafios humanitários, económicos, sociais”. José Ornelas de Carvalho afirmou na primeira saudação aos diocesanos que deseja ser acolhido “como irmão e como um dom”, numa nova comunidade que “não é nem quer ser” uma “organização fechada. 
Diocese de Setúbal ordenou novo bispo 


A tarde é de chuva. À porta da igreja de Santa Maria da Graça, em Setúbal, dezenas de padres aguardam na rua. Mesmo em frente à Sé, uma estrutura de ferro e um ecrã gigante já estão montados. Várias pessoas começam a chegar e tentam entrar na igreja. O pároco responsável pelas entradas indica que nem todos os fiéis poderão assistir à celebração, daí o dispositivo de luz e som instalado fora do recinto. 
No interior da catedral, a expetativa é grande. Para a diocese, o dia é de festa. Além de a igreja de Setúbal acolher a imagem peregrina da Nossa Senhora de Fátima, que andou pelo distrito a semana passada, é a cerimónia solene de ordenação do novo bispo. Por isso, o altar está decorado com flores e nas naves laterais, as 400 cadeiras já se encontram preparadas para receber os vários bispos do país. 
Enquanto esperam, os membros da assembleia ensaiam a música de entrada. Entretanto, os sinos começam a tocar e a imagem entra na Sé, ao som do cântico alusivo às aparições de Fátima. Os bancos reservados às instâncias do poder local e leigos, com responsabilidades pastorais estão tomados. 
Depois deste momento solene e emotivo é a vez de o futuro bispo entrar na sua nova casa pastoral. Novamente, os sinos tocam a rebate e inicia-se o cortejo, composto por todos os bispos convidados e membros do clero vicarial. Por fim, chega José Ornelas Carvalho, acompanhado por D. Manuel da Silva Martins, D. Gilberto Canavarro dos Reis e D. Manuel Clemente, cardeal patriarca de Lisboa, que presidirá à cerimónia. De sorriso no rosto, José acena e é recebido com uma forte salva de palmas proveniente de uma multidão de fiéis. Vários fiéis tentam aproximar-se e tirar uma fotografia. 
Minutos depois,  José é ungido com óleo e recebe o anel de bispo e a bíblia sagrada pela mão de D. Manuel Clemente. Em seguida é distribuída a comunhão a todos os presentes. Durante esse período é entoado pelo coro um cântico a várias vozes, em latim. Terminada a música, o recém-empossado recebe ainda a mitra, isto é, a insígnia pontifical em forma de chapéu colocada na cabeça e o báculo, uma espécie de cajado, que relembra a função do bispo de conduzir os caminhos dos seus fiéis.

Aproximar a igreja das pessoas 
Finalmente com um novo estatuto, D. José dirige-se pela primeira vez àquela que será a sua nova comunidade. O recém-bispo começa por agradecer a presença de todos os membros do clero, da sua família, autoridades locais e população leiga. Aproveita ainda para referir que “todos somos chamados a servir e que a igreja deverá ir ao encontro dos mais pobres e necessitados”, sendo essa uma das propostas da sua missão. 
Antes mesmo da bênção final, o terceiro bispo de Setúbal demonstra uma enorme alegria por testemunhar a visita da imagem peregrina da Senhora de Fátima e congratula-se pela presença dos seus antecessores, elogiando o “excelente” serviço episcopal, realizado ao longo dos 40 anos de existência da diocese.
"Peço, pois, que me aceiteis como irmão e como um dom. Esses são os sentimentos mais verdadeiros para convosco”, disse o novo bispo da Diocese de Setúbal no fim da celebração de ordenação episcopal.
“A vós, pois, caros irmãos e irmãs desta Igreja de Deus em Setúbal, peço licença! Peço-vos licença para entrar e fazer parte da vossa comunidade. E peço igualmente que me acolhais como irmão”, acrescentou. Para D. José Ornelas, “Igreja não é nem quer ser uma organização fechada em si mesma”.
“Temos o gosto de ser parte da Igreja de Deus que se estende pelo mundo inteiro”, recordou. Para o novo bispo da região sadina, a Igreja enfrenta o desafio de não pensar “apenas em si própria”, mas abrir “os olhos e o coração” e sair “ao encontro dos que mais precisam”.
D. José Ornelas recordou o encontro com o Papa Francisco em que lhe pediu para “ser missionário em Setúbal”. “A partir desse encontro, eu aceitei, de coração inteiro, esta proposta, como um dom e um chamamento de Deus, confiando na presença do seu Espírito e na vossa oração, comunhão e oração”, lembrou.

População assídua na ajuda aos mais necessitados
“A Diocese de Setúbal é uma das que tem uma prática religiosa católica mais baixa. No entanto, mais de70 por cento das pessoas foram batizadas. Isto significa que há um caminho a percorrer de revitalização das sementes da fé que as pessoas têm e de encontrar expressões e modos de encontro e de comunhão aberta a todas estas pessoas”, disse D. José Ornelas.
Em entrevista publicada na edição do semanário digital Ecclesia, D. José Ornelas referiu que “uma das coisas mais simpáticas” que encontrou na Diocese de Setúbal foi o compromisso ao nível social, concretizado com muitas parcerias e “comunhão de interesses por tantas pessoas. Quando temos por interesse as pessoas que precisam, o resto passa para segundo plano”, sublinhou.
“Talvez não sejam tão assíduos à Eucaristia mas são muito assíduos na ajuda aos mais necessitados, o que é o princípio do verdadeiro Evangelho”, acrescentou.
D. José Ornelas considera que é “preciso que se dê oportunidade aos leigos de sentirem que a Igreja é sua e que têm não simplesmente deveres a cumprir, mas a alegria de participarem numa comunidade viva”.
O bispo nomeado para Setúbal disse que “os movimentos ajudam as pessoas a participarem ativamente na Igreja e a serem acolhidas”, “desde que não venham dividir a comunidade”, e espera “muito” do contributo dos religiosos e das religiosas.
D. José Ornelas foi nomeado pelo Papa Francisco como terceiro bispo da Diocese de Setúbal no dia 24 de Agosto de 2015, sucedendo a D. Gilberto Reis, bispo desde 1998, e a D. Manuel Martins, responsável pela diocese desde o ano da criação, 1975, até 1998.
Superior geral dos Sacerdotes do Coração de Jesus (Dehonianos) entre 2013 e 2015, D. José Ornelas tem 61 anos, é natural da Madeira, foi ordenado sacerdote em 1981 e depois foi professor de Ciências Bíblicas na Universidade Católica Portuguesa, área em que se doutorou em 1997.

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