População da Quinta do Conde pede mais segurança

Uma vila vestida de branco para pedir mais segurança 

Um grupo de cidadãos da Quinta do Conde, em Sesimbra, organizou  uma marcha silenciosa de homenagem, indignação e protesto pela falta de condições de segurança dos homens e mulheres das forças de segurança. Sábado à tarde, centenas de pessoas, vestidas de branco e de flor na mão, juntaram-se para recordar as vítimas do triplo homicídio que tirou a vida, a 29 de Agosto, a um militar da GNR, a um agente da PSP e ao filho. A marcha serviu também como uma forma de protesto das forças de segurança contra a falta de condições de trabalho das diversas forças de segurança do país. A PSP e a GNR pedem ao governo que tome medidas para evitar que se repitam casos como este. Foi a 29 de Agosto que Rogério Coelho, de 77 anos, saiu de casa com uma arma em direção à casa do vizinho, matando-o a ele e ao filho, tudo por causa do barulho feito pelo ladrar da cadela. O homem, contam agora algumas investigações, terá agido por "impulso". Os desentendimentos eram "profundos" e a zanga durava à mais de uma década. Rogério vai aguardar julgamento na prisão de Setúbal.  
Mais de um milhar de pessoas pediu mais segurança para autoridades


"Tomei a iniciativa de organizar a manifestação na sequência da tragédia que nos levou três pessoas da comunidade, sendo que dois deles eram agentes de polícia, da GNR e da PSP", disse aos jornalistas Maria Bell, promotora da manifestação deste sábado através de uma rede social na Internet.
"É preciso que o MAI (Ministério da Administração Interna) comece a dar uma maior atenção a estes agentes, à polícia à GNR, porque esta situação está a revoltar vivamente a população. É bom que eles (MAI) se debrucem sobre isto e que façam uma melhor apreciação, porque as coisas não podem continuar assim. Eles (GNR e PSP) precisam de mais efetivos nas ruas, não podem ir dois agentes, num jipe velho, acorrer uma situação destas".
Maria Bell, antiga colaboradora da Cruz Vermelha, decidiu convocar a manifestação na sequência do triplo homicídio que ocorreu no passado dia 29 de Agosto na Quinta do Conde, quando um homem assassinou um vizinho agente da PSP, e o filho deste, acabando, pouco depois, por também balear mortalmente um jovem militar da GNR Nuno Anes, de 25 anos, que acorreu ao local do crime em serviço.
Entre os manifestantes, que desfilaram este sábado entre a Junta de Freguesia da Quinta do Conde e o posto local da GNR, participaram também representantes de sindicatos de polícia e da Associação dos Profissionais da Guarda (APG).
"Lamentamos que estas situações aconteçam e que continue a não haver o reconhecimento da profissão e do risco que nós temos. É preciso que alguém que tutela as forças de segurança reconheça que a nossa profissão, por situações como esta, é uma profissão de risco, uma profissão de desgaste rápido", disse aos jornalistas José Miguel, vice-presidente da Associação dos Profissionais da Guarda.
"Alguém tem de pensar na forma de legislar como se deve reconhecer o risco e a profissão de agente da autoridade."

"Melhores condições de segurança para as forças policiais"
Uma opinião corroborada por Leonel Madaíl dos Santos, do Sindicato Nacional da Carreira de Chefes da PSP, são necessárias alterações legislativas para que os primeiros elementos das forças de segurança que chegam ao local tenham uma maneira de trabalhar diferente e mais apoiada pela lei.
"O que acontece geralmente é o inverso: se têm uma intervenção mais musculada são criticados e, por vezes, são punidos; se não têm, poderão ocorrer situações como esta que ocorreu na Quinta do Conde", disse.
Para Peixoto Rodrigues, do Sindicato Unificado da Polícia, que também reclama melhores condições de segurança para as forças policiais, os acontecimentos da Quinta do Conde constituem também um sinal para o poder político".
Ainda de acordo com o responsável do Sindicato Unificado da Polícia, "isto é um sinal que a própria sociedade está a dar ao poder político. A sociedade está cada vez mais violenta há uma grande falta de respeito pelo próximo", disse Peixoto Rodrigues, acrescentando que a prevenção deste tipo de situações se deve fazer através do investimento na educação.
"Estas coisas resolvem-se com investimento nas escolas. Isto ensina-se nas escolas - o respeito pelo próximo - através dos manuais escolares. Caso contrário, este tipo de violência vai continuar", concluiu o responsável do Sindicato Unificado da Polícia.

Rogério já tinha prometido "matar" a família Pereira 
As três vitimas foram atingidas a tiro no dia 29 de Agosto 
Foi a 29 de Agosto que Rogério Coelho, de 77 anos, saiu de casa com uma arma em direção à casa do vizinho, matando-o a ele, ao filho e um militar da GNR que acorreu ao local, tudo por causa do barulho feito pelo ladrar da cadela do agente da PSP. Agora, entrevistadas pelo jornal Sol, fontes próximas do atirador contam pormenores que ajudam a entender a intencionalidade de Rogério, que acreditam ter agido “por impulso”. “Ele chegou a dizer-me que não ia morrer sem ‘limpar’ esta família”, contou um amigo.
A mesma fonte admite ainda que, apesar de calmo, Rogério era um homem muito impulsivo, que rapidamente decidia “espingardar” sobre os problemas quando estes apareciam.
Fica assim confirmado o caráter irascível de Rogério que, no dia do homicídio, tinha chegado a casa de um dia calmo no trabalho na construção civil, e ainda fez uma sesta durante a tarde, até ao momento em que o ladrar do cão da vizinhança o acordou.
Os desentendimentos com o vizinho da moradia branca na esquina desta rua de casas baixas - António José Pereira, de 52 anos - eram profundos e arrastavam-se há mais de uma década. Começaram por causa do antigo cão do agente - que quando morreu foi substituído pela atual cadela - e nunca mais pararam de aumentar. António Pereira, recrutado da PSP para ser motorista do gabinete do primeiro-ministro, chegou a apresentar duas queixas contra o homicida: uma em 2005 e outra em 2011. Na primeira, o construtor civil foi condenado a pagar uma indemnização por ter agredido o PSP com um martelo na cabeça. A segunda foi feita há quatro anos, por injúrias, mas os vizinhos falam em agressões. “O sr. Rogério chegou a pedir-me que fosse sua testemunha porque o agente lhe dera um murro e partira os óculos, mas recusei porque não assisti a nada”, contou ao Jornal Sol, Sérgio Soares, que vive na casa amarela mesmo em frente da do homicida e que também estaria na sua mira. “Já nessa altura, ele dizia alto que ia matar o PSP”, recorda o vizinho, lembrando que as trocas de palavras entre os dois eram frequentes.
A 29 de Agosto, o construtor civil acabou mesmo por abater o agente a tiros de caçadeira, quando o PSP descarregava o seu carro em frente a casa. O filho, Diogo, que aos 23 anos estudava no Instituto Universitário de Lisboa e fora aluno do Colégio Militar, foi baleado logo a seguir quando veio em socorro do pai. “A mulher e a filha do PSP só escaparam às balas porque não saíram logo de casa”, conta um outro vizinho.

Um dos principais construtores da região 
Rogério faz parte de um grupo de construtores que, a partir da década de 70, fizeram crescer a Quinta do Conde. Foi ele que ergueu várias dezenas de moradias, casas geminadas e prédios baixos na vila. É ainda proprietário de uma dezena de imóveis e lojas, diz um especialista imobiliário da região.
Fez fortuna no ramo. Nasceu no Alentejo, na região de Alcácer do Sal, mas foi em Setúbal que começou na construção civil. “Trabalhou ali muito tempo, por conta de outrem, mas depois foi para o estrangeiro e trabalhou em vários países árabes”, conta um antigo amigo, que se incompatibilizou com ele há uns anos por causa de um negócio. “Era um fura-vidas e trabalhou a vida inteira para dar à família algum desafogo”.
Nos últimos tempos, apesar de reformado, continuou a dirigir as obras de várias moradias, contratando mão de obra entre os vizinhos e vivendo da sua venda ou aluguer. Junto à farmácia, tem andares e lojas arrendadas: uma que vende rações, outra de telecomunicações e o cabeleireiro de Luís Castro, seu inquilino há 16 anos e onde ia pontualmente recolher a renda no dia 10 de cada mês.
Parte dos negócios envolviam também a única filha, Fernanda, que sempre viveu no primeiro andar da moradia dos pais, com o filho, de 15 anos, e a filha Liliana, de 21, ex-concorrente do programa Casa dos Segredos, de quem o avó muito se orgulha. Desde 2004 que Fernanda, conhecida por ‘Bia’, era sócia de uma empresa de planeamento de projetos de construção civil na Quinta do Conde, através da qual vendia os imóveis construídos pelo pai. Abandonou a empresa em Maio deste ano.
Não se sabe o que nessa tarde provocou a gota de água que desencadeou a fúria do construtor e fê-lo carregar a caçadeira com chumbos, balas e zagalotes e disparar a matar sobre as três pessoas da Quinta do Conde.
Pouco antes, mandara a mulher às compras no seu carro e a filha, ‘Bia’, contou à vizinha que o pai a trancou em casa, quando ela o viu a pegar na arma. “Estamos destroçados”, disse ao Sol a filha do homicida, recusando falar à imprensa. No dia seguinte à tragédia, a família saiu da casa onde mora para se isolar da polémica. A moradia está desde então fechada, com os estores corridos.

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