Montijo "bloqueia" aeroporto antes das eleições

Autarquia quer mais tempo e mais garantias de investimento na cidade 

O Governo queria fechar o acordo para a localização  no Montijo do aeroporto complementar à Portela, antes das eleições. No entanto "as dúvidas" da Câmara do Montijo travaram esta pretensão. O executivo municipal chefiado pelo socialista Nuno Canta, diz ter recebido o projecto de memorando, da Secretaria de Estado dos Transportes, no dia 18 de Setembro, com pedido de resposta até dia 23, mas a autarquia solicitou esclarecimento de algumas questões. Na passada sexta-feira, o secretário de Estado dos Transportes assegurou que o aeroporto no Montijo vai avançar, independentemente do próximo Governo, pois há “um amplo consenso” entre todos os intervenientes.
Câmara do Montijo adiou acordo para vinda de aeroporto 

De acordo com uma notícia do jornal Público, a Câmara do Montijo respondeu "a dizer que o memorando não cumpria, não clarificava determinadas coisas”, explica Nuno Canta, acrescentando que “há ali questões que estão pouco clarificadas e que nós, Câmara Municipal, apesar de concordarmos com a vinda do aeroporto e com o objectivo geral do memorando, não podíamos assinar de cruz”.
E quais são as dúvidas? Uma das questões que o autarca refere é que o documento expresse o compromisso de que seja a ANA – Aeroportos de Portugal a pagar um conjunto de infra-estruturas, designadamente acessibilidades, que o município inclui num caderno de encargos apresentado anteriormente à tutela.
Uma condição, diz Nuno Canta, “fundamental” para que a autarquia socialista assine o memorando. “Obviamente não ficará logo espelhado o valor das obras, o projecto definitivo ou outro tipo de pormenorização, mas terá de estar [no documento] uma linha e uma filosofia geral, na sequência do que já falámos com a ANA Aeroportos e que, de algum modo, já consensualizámos”, diz o presidente da autarquia.
Segundo o autarca, o texto do memorando é “muito genérico”, diz “apenas” que “a ANA compromete-se a assegurar a adequada conectividade do terminal civil do Montijo”. O que Nuno Canta interpreta como uma referência “somente às ligações nacionais, à Ponte Vasco da Gama, que nós também queremos, mas falta dizer que é preciso também construir avenidas no Montijo, designadamente a circular externa”.
Sobre o momento em que surge o memorando de entendimento para fixação da localização do aeroporto complementar à Portela, o autarca, estabelece uma ligação com as eleições legislativas.
“Sem a Secretaria de Estado ter conversado com a Câmara sobre este assunto, imagine, de repente aparece-nos assim um memorando, sem haver uma conversa ou alguma ligação, percebemos o que está em jogo”, realça o autarca.
Nuno Canta em declarações ao ADN e à PopularFM, em Junho, referiu que o Montijo vai dar o seu apoio "aos necessários estudos ambientais, segurança, ordenamento, protecção civil, por forma a reduzir os possíveis impactos no território”, bem como o seu empenho em “atrair investimento, emprego e infraestruturas públicas para a cidade, de modo a enquadrar as potencialidades turísticas decorrentes da nova infraestrutura aeroportuária” e continuar empenhado em que o município “seja parte activa em todo o processo de construção da nova infraestrutura aeroportuária”.

Projecto não está em causa 
Para Bruno Vitorino, presidente da distrital social-democrata, este "é um processo que está a ser tratado há muito tempo e que será assinado quando estiverem reunidas as condições. As eleições não são a razão para o timing mas também não devem ser um obstáculo. Esperemos que a posição da câmara não tenha motivações eleitorais”, disse o dirigente "laranja" [que é também candidato nas listas da coligação Portugal à Frente em Setúbal, nas eleições de domingo]. Bruno Vitorino disse ainda ao jornal Púbico que acredita  que “a Câmara tenha sido surpreendida com um documento agora”.
Em Julho, o ministro da Economia, que tutela esta questão dos aeroportos, anunciou que a opção era o Montijo. O governante vai estar nesta quinta-feira nesta cidade, como dirigente do CDS-PP e acompanhado por Maria Luís Albuquerque, cabeça-de-lista da coligação Portugal à Frente pelo distrito de Setúbal, numa acção de rua da campanha da coligação. Na passada sexta-feira, o secretário de Estado dos Transportes assegurou que o aeroporto no Montijo vai avançar, independentemente do próximo Governo, pois há “um amplo consenso” entre todos os intervenientes.

CDU diz que aeroporto complementar "não é solução" 
CDU defende aeroporto de raiz no Campo de Tiro de Alcochete 
Visão diferente tem a CDU do concelho. Os comunistas reafirmam a sua discordância por "considerar que a melhor solução para o concelho, a região e o país será a construção por fases dum novo aeroporto no Campo de Tiro localizado nas freguesias de Samora e de Canha", disse José Serra da Graça, membro da CDU na União das  Freguesias do Montijo e Afonsoeiro. 
A hipótese de utilizar a Base Aérea do Montijo como aeroporto civil tem, de acordo com os comunistas, "problemas e inconvenientes de vária ordem, em contrapartida, das vantagens publicamente conhecidas", explica aquele membro da CDU. "Quanto aos benefícios diremos que os graves problemas que esta solução comporta são de tal monta que é impossível compensar com a benesse da construção de mais umas duas ou três vias de acesso", diz o autarca da CDU. 
Relativamente ao turismo "falta demonstrar que o Montijo beneficie, e além disso este será um local de transbordo quer para Lisboa, quer para outros destinos turísticos, sendo ponto de partida e não de chegada", diz Serra da Graça que dúvida ainda da criação de emprego no concelho. "Os postos de trabalho que serão inevitavelmente extintos em Lisboa, esses trabalhadores manterão o seu posto de trabalho e serão naturalmente deslocados para o Montijo", conclui o autarca da CDU.



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