Festa da Moita termina no próximo domingo

A tarde do fogareiro espera uma multidão de gente 

A popular Tarde do Fogareiro, já considerada um dos momentos altos das Festas em Honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Moita, vai acontecer hoje a partir das 13 horas. Após a largada de toiros, a principal avenida da vila da Moita é transformada num local único de animação e convívio: as mesas e cadeiras são colocadas ao longo da avenida, os fogareiros, espalhados um pouco por todo o lado, acendem-se e as entremeadas, os couratos e as bifanas começam a assar-se e os amigos vão chegando, enchendo a Avenida Dr. Teófilo Braga. A animação, que se estende pela tarde fora, vai estar a cargo do Grupo de Bombos de Stª Maria de Jazente de Amarante e da Charanga Huga Huga; a Banda Musical do Rosário. A novidade deste ano vai ser o “Fogareiro Elétrico” que vai percorrer a avenida com o grupo “Pão com Manteiga”. Estes são os últimos dias de uma das mais importantes romarias a sul do Tejo; a Rainha das Festas do Sul, como os moitenses gostam de chamar à sua festa. A procissão em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, no passado domingo, foi a celebração religiosa mais marcante das festas, com a bênção das embarcações e de toda a população. Até domingo, último dia de festividade, ainda há muita coisa para ver.

Nossa Senhora da Boa Viagem percorreu as ruas da vila no domingo 


Perderam-se no tempo as origens das festividades em honra de Nossa Senhora da Boa Viagem, na Moita, tal como hoje as conhecemos. Mas se não é conhecida a data exacta da primeira festa, o mesmo não acontece com a devoção a Nossa Senhora da Boa Viagem, pois em documento da época pode ler-se que terá começado em 1633.
Dantes, como hoje, quem viajava corria inúmeros perigos e apelava à protecção divina. A Fé das gentes, que se ocupavam na faina da pesca ou no transporte de passageiros e mercadorias, e dos próprios viajantes justificava assim a grande devoção à Senhora da Boa Viagem, a quem recorriam nas horas de maior aflição.
A festa era, pois, o momento privilegiado de acção de graças por toda a protecção concedida e um momento alto de vivência cristã. Além da Missa solene com pregação e da imponente Procissão em honra da Padroeira, com a cerimónia da bênção das pessoas e dos barcos no cais da vila, a festa era ocasião especial para administração dos sacramentos, em especial o Baptismo e o Matrimónio, e para a prática da caridade, contribuindo os fiéis com as suas esmolas para as despesas do culto, para a manutenção da igreja e para o cuidado dos mais pobres. Foi assim desde sempre e voltou a ser assim este ano.

A procissão em honra de Nossa Senhora
Barcos engalanados, janelas com colchas, mulheres de terço nas mãos a acenar à passagem de cada santo (e são muitos), uma multidão que se estendia por diversas ruas da vila da Moita, reflectiam a intensidade da vertente religiosa dos festejos
Junto ao Rio Tejo, a chegada da imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem, foi recebida com aplausos, muitos gritos e muita fé pelos homens do mar. Sentia-se uma forte emoção, no momento em que o Sacerdote, procedeu à cerimónia de bênção dos barcos no cais.
Antes da procissão centenas de pessoas cumpriam as suas promessas colocando velas, numa fila que se estendia, marcada por um profundo sentimento de religiosidade.
Sentia-se na multidão um sentimento de fé. Uma multidão onde se cruzavam diferentes gerações e os mais diversos extractos sociais.

Milhares de pessoas nas ruas 
Milhares de pessoas acompanharam a procissão 
“Sou de Viana  do Alentejo mas é aqui que venho todos os anos. E pergunta porquê? Porque acredito nesta Santa, acredito na sua força e na capacidade que a nós têm de guiar para lá da razão”, dizia ao ADN, Leonilde Esteves sentada no Varino Boa Viagem, em pleno Tejo. Era uma entre as milhares de pessoas que por ali estavam, vindas um pouco de todo o país. 
De Lisboa veio Natércia Ribeiro que é "filha de pescadores e o meu avô fazia a viagem entre as margens do Tejo. Foi com ele que conheci esta ‘Boa Viagem’ que me faz regressar todos os anos. E olhe, já lá vão 55 anos seguidos que cá venho”. Com ela, já vêm três filhas, e dois netos". São todos, dizem,  “devotos da festa". 
Mais frente, entre a multidão que enchia a pequena Igreja da Moita, encontrei Isabel Leal que saiu da Maia, nos arrabaldes da cidade do Porto, para dar a conhecer a "sua terra" a uma neta de 16 anos. "Nasci aqui perto da Igreja e aos 25 anos fui-me embora para o norte por amor. Volto cá por vezes e arrepia-me esta devoção linda. É aqui que tenho parte do meu chão, das minhas raízes e a minha fé. Tinha de vir cá este ano ano e mostrar isto à minha neta que nunca tinha vindo para o sul". A neta, Filipa, ficou a gostar imenso. "É a primeira vez que venho cá mas é tudo tão bonito. As ruas, a igreja pequenina, os barcos tão bonitos e coloridos, as pessoas. Pensava que ia ser 'bué chato' mas estou a divertir-me imenso e... quero voltar muitas vezes. Pena ser longe!".
A Procissão saiu da Igreja Paroquial, pelas 17.30 horas, percorrendo as principais ruas da vila, acompanhada pela Charanga da Guarda Nacional Republicana a Cavalo, Fanfarra dos Bombeiros Voluntários da Moita,  por diversas bandas filarmónicas  e do grupo de Escoteiros.
A imagem da padroeira era acompanhada por um cordão humano com centenas de pessoas. Percorreu as ruas principais, o cais da Moita, protegeu os barcos e as gentes e regressou à sua casa já noite dentro.
“Foi uma das mais bonitas procissões” dizia Maria Albertina que veio do Pinhal Novo em nome de um fé “apaixonada” pela padroeira da Moita e de todos os viajantes.

Hoje é a tarde de Fogareiro
Tarde do Fogareiro atrai milhares de pessoas à vila da Moita  

A Festa, porém, não é só religiosa. Hoje, por exemplo, após a largada de toiros da manhã, as gentes da Moita, amigos e forasteiros, transformam a principal avenida da vila da Moita num local único de animação e convívio. Na rua, são colocadas mesas e cadeiras, seguidas dos indispensáveis fogareiros, com as brasas acesas prontas, para grelhar os petiscos. Com a chegada da animação pelo Grupo de Bombos de Santa Maria Jazente, de Amarante e a tradicional dança do Huga Huga, pela Charanga da Banda Musical do Rosário, fica completo o mais famoso almoço dos festejos populares que se prolonga pela tarde fora.
A Tarde do Fogareiro é já uma das mais fortes atrações da Festa da Moita, onde se esperam mais de 20 mil pessoas. "Nem mesmo a chuva prevista pode estragar a animação", diz a organização. A novidade deste ano vai ser o “Fogareiro Elétrico” que vai percorrer a avenida com o grupo “Pão com Manteiga”. 
De facto a chuva tem "estragado" a Festa mas as pessoas continuam a vir e a divertir-se. Até domingo, último dia de Festa, há mais toiros à solta nas ruas e na Praça de Toiros Daniel do Nascimento, muita música, [Rita Guerra chega na noite de domingo ao Palco principal, depois de por lá terem passado Richie Campbell, Herman José e Emanuel], muitos comes e bebes, muitos bailaricos nas ruas da Festa, o cortejo etnográfico no domingo e, também nesse dia, chega o Portugal em Festa, o programa da SIC, que promete levar o nome e as imagens da Moita ao país e ao mundo. A Festa acaba, manda a tradição, com um fogo de artificio junto ao cais da Moita.

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