Almada, um concelho para todos por Célia Margato

Mobilidade em Almada 

Os cidadãos no seu quotidiano necessitam de fazer deslocações mais perto ou mais longe, sendo que estas devem ter por base uma cultura urbana consonante entre os modos de vida praticados e todos (mas todos) os modos de transporte: dos motorizados aos não motorizados, dos públicos aos privados. A mobilidade precisa de diversidade! Por conseguinte, o desenvolvimento das cidades deve ser socialmente inclusivo e ecologicamente sustentável, o que na vertente da mobilidade implica um plano estratégico com objectivos definidos no tempo no sentido de priorizar os modos de transporte coletivos e não motorizados. A mobilidade deve ser acessível e amiga do ambiente!


Com o plano adequado os resultados vão acontecendo com satisfação desde que a missão seja trabalhada com eficácia e eficiência num espírito de flexibilidade e equidade por todos os cidadãos. A mobilidade tornou-se um direito de cidadania!
Como introdução enunciei acima três parágrafos que ditam o fundamental e que conduzirão a minha abordagem neste exercício de transmitir uma visão superficial sobre o assunto. A mobilidade é um importante tema da actualidade e muito há a dizer dele quando nos debruçamos sobre as transformações desde há algum tempo em Almada.
Nesta nossa cidade, como em tantas localidades do mundo que evoluem e têm relações de dependência ou partilha com a envolvente, os habitantes deslocam-se para as suas actividades profissionais, comerciais ou outras entre tantas... Tal como quem é de fora também se desloca à cidade da mesma forma e pelas mesmas razões, criando-se fluxos de entrada e de saída.
Pela diversidade de pontos a aceder e de modos de transporte possíveis, qualquer solução de logística urbana deve passar por um estudo prévio das populações locais ou outras possíveis no tempo: sua caracterização demográfica, modos de vida e perspectivas de evolução. É o conhecimento profundo de quem são e o que querem os cidadãos, que permite definir um plano de mobilidade que responda eficazmente aos objectivos e crie condições prósperas de vida e bem-estar na cidade.
No meu entender, em Almada falhou-se quando o município avançou num plano de mobilidade que em teoria até vence prémios mas em que na prática perde pela falta consonância com grande parte do público-alvo... Era o que a maioria da população desejava!? Era o adequado aos modos de vida!? As sugestões, reclamações e críticas construtivas dos cidadãos foram atendidas!? Foi feita alguma análise de satisfação no decorrer do tempo!? Estas são algumas das questões para muitos em aberto...
Naturalmente que há sempre quem fique beneficiado na sua experiência de vida pessoal ou familiar e opine que o que se fez é o melhor, mas tais não representam a população! Só a estatística rigorosa através de estudos de opinião ou satisfação por inquérito, pode revelar a importância das reações.
Por sensibilidade cívica atrevo-me a enunciar que o que tem vindo a ser feito com grande investimento nos últimos anos pela mobilidade de Almada, fica muito à margem de uma realidade local que precisa de desenvolvimento a todos os níveis, nomeadamente de pontos de interesse sócio-económicos, para uma vida própria sustentável!
Quaisquer “remendos” que agora se estejam a fazer e outros que se façam face a pressão cívica, sobretudo de quem se sente prejudicado na sua vida, não passarão disso mesmo e nunca serão suficientes ou solução de boa continuidade para a cidade. Só uma nova estratégia com uma perspectiva profissional séria através de uma equipa dedicada e competente fará a cidade renascer e projectar-se na sua envolvente urbana!
Almada está descaraterizada na sua identidade social e comercial pela transformação urbana implícita no plano de mobilidade. Além da brutalidade que é o atravessamento do metro pelas vias principais da cidade com tudo o que implicou no trânsito automóvel, a deslocalização de serviços essenciais de proximidade para outras zonas diversas menos centrais sem que houvesse uma política estratégica para a dinamização de novos negócios na cidade (comércio, serviços, turismo), mais a agravante do estacionamento pago sem alternativa e com as atitudes lamentáveis da Ecalma, afastaram o interesse por Almada.
No contexto a ligação de tantos de nós almadenses às boas vivências do passado perdeu-se sem que se vislumbre desenvolvimento positivo. A população com que hoje nos cruzamos na cidade está envelhecida ou senão diferente nas atitudes e na forma de socializar. Os espaços pedonais que deveriam ser do agrado do cidadão comum nos seus tempos de compras ou convívio, tornaram-se barreiras psicológicas na evolução das dinâmicas de vida em Almada. Quem recorre ao comércio e serviços da cidade é sobretudo porque reside na zona e fá-lo pela conveniência ou porque procura especificamente algo que necessita, se não prefere as alternativas sem a rigidez dos modos de transporte e de estacionamento!
Na minha visão do futuro, a optimização da mobilidade em Almada continua por resolver e agora com mais dificuldade. Muito do que foi feito, como seja o traçado do metro, não tem desconstrução possível... Mas Almada precisa de um novo plano abrangente e sistémico que como prioridade vá ao encontro dos cidadãos, bem como de uma desejável visão próspera para o futuro de tão fantástico concelho como é o nosso!
Será que a mesma política que trouxe Almada ao que ela é consegue vir a fazer melhor? Gostava de me surpreender... Fica o desafio, pelos cidadãos!




Célia Losa Margato 

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