Rapaz dos pássaros vira arte em Setúbal

O Rapaz dos Passarinhos está nas paredes do Auditório José Afonso 

Vicente Inácio Martins era uma criança quando Américo Ribeiro o fotografou numa rua qualquer em Setúbal. O jovem vendedor de pássaros está agora representado num mural com cerca de 20 metros de altura no Auditório José Afonso bem no centro da cidade, uma obra tridimensional com a assinatura de Sérgio Odeith, integrada no projecto "Arte em Toda a Parte".  

Odeith recuperou imagem com mais de 80 anos do rapaz dos pássaros 

Como será ter mais de 90 anos e ver o nosso retrato de infância num mural de 20 metros? “O Rapaz dos Pássaros” é uma fotografia da autoria de Américo Ribeiro captada nos anos 30, agora reproduzida por Sérgio Odeith num mural, inaugurado na passada sexta-feira, 28 de Março.
O fotojornalista, dedicou a vida a documentar visualmente a cidade de Setúbal, e deixou um vasto espólio fotográfico, onde se encontra este retracto de uma criança, Vicente Inácio Martins - hoje com mais de 90 anos – que na altura vendia pássaros, descalço pelas ruas. Ver esta imagem, conta o artista trouxe alguma nostalgia da sua própria infância: “Quando era criança, adorava pássaros. E também me lembrei que o meu pai contava que também andava sempre sem calçado quando era pequeno”.
Esta é a quarta iniciativa do projeto “Arte em Toda a Parte”, desenvolvido pela Immochan, em parceria com a Câmara  de Setúbal, no âmbito da construção do centro comercial Alegro Setúbal.
Através do “Arte em Toda em Parte” várias obras de arte de rua criadas por artistas conceituados estão a beneficiar esteticamente diferentes locais da cidade de Setúbal.
A inauguração do mural “Rapaz dos Pássaros” contou com as presenças não apenas de Odeith, da presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira, e do diretor-geral da Immochan, Mário Costa, mas também do menino retratado, Vicente Inácio Martins, atualmente com 91 anos.
Parco em palavras, Vicente Martins olha “com satisfação” para o mural que ocupa toda a empena sul daquele equipamento cultural de Setúbal.
A descoberta do menino da imagem deu-se por um acaso, com Sérgio Odeith a recordar que, dois dias depois do início do projeto, foi abordado por um homem. “Ele disse-me: ‘Esse é o meu tio e ainda está vivo!’ Quis logo falar com o senhor e foi o que aconteceu. O facto de o ter conhecido pessoalmente deu uma carga emocional ainda mais forte ao projeto, até porque, sendo os meus pais alentejanos, já tinha uma grande ligação com a imagem, pois cresci com pintassilgos e todo o género de pássaros”, disse o autor da obra.
Vicente Martins ainda recordou ao público presente na inauguração o pregão com que corria as ruas na altura. “Quem meeerca pássaros?”, desafiava, então, o pequeno vendedor os transeuntes sadinos.

Valorizar a cidade e a sua gente através da arte 
Vicente Martins, ao meio, era o rapaz dos pássaros nos anos 30 
Maria das Dores Meira sublinhou no momento da inauguração o orgulho com que Setúbal ostenta agora a nova criação. “Obrigada, Sérgio [Odeith]. Olhe que há mais coisas para fazer na cidade”, disse a autarca. 
A chefe do executivo setubalense enfatizou igualmente a importância do trabalho desenvolvido por Américo Ribeiro, a quem o projeto presta também uma homenagem, realçando que a esta é “uma obra de arte que valoriza um equipamento da cidade”.
A presidente da Câmara Municipal salientou ainda a importância e originalidade do “Arte em Toda a Parte”. “Não conheço mais nenhum projeto em que uma empresa, que está a investir e a criar postos de trabalho com um projeto desta natureza e dimensão [Alegro Setúbal], também tenha tido a preocupação de enriquecer com obras artísticas a cidade em que está a apostar”.
Mário Costa, para quem o “Arte em Toda a Parte” teria “sido impossível sem o apoio que a Câmara de Setúbal está a dar”, realçou que o principal objetivo do projeto é, “através da arte, valorizar a cidade e a sua gente”.
O mural “Rapaz dos Pássaros”, que pode ser visto a várias centenas de metros de distância, é quase todo a preto e branco, com exceção das aves, coloridas a graffiti.
À reprodução da fotografia original, tirada, a preto e branco, há cerca de 80 anos, Odeith acrescentou ainda adornos tridimensionais ou anamórficos, característica que o distingue como artista, presentes na pintura da moldura e da assinatura da obra, transmitindo a sensação de profundidade.
Sérgio Odeith levou nove dias a completar a obra, com um de paragem pelo meio, porque, explicou com humor, “o Benfica jogava nessa altura”.
Tal como as restantes obras do “Arte em Toda a Parte”, este mural vai ser usado como motivo decorativo, através de uma reprodução, no futuro Alegro Setúbal.






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