Meco: Pais admitem pedir fim de segredo de justiça

Testemunha que viu corpo amarrado "disposta a falar"

Os familiares dos seis jovens que morreram em Dezembro, na praia do Meco, formalizaram o pedido para serem assistentes no processo, em fase de inquérito, e apelaram ao único sobrevivente da tragédia para que fale com eles sobre o que aconteceu. O advogado pediu que a investigação seja "célere", dizendo acreditar que o Ministério Público e a Polícia Judiciária não precisem do prazo máximo previsto na lei para os inquéritos para chegar a uma conclusão sobre a ocorrência.

País das vítimas mortais formalizaram pedido no tribunal de Almada 
Os familiares dos seis jovens que morreram em Dezembro, na praia do Meco, em Sesimbra, formalizaram ontem o pedido para serem assistentes no processo, em fase de inquérito, e apelaram ao único sobrevivente da tragédia para que fale com eles sobre o que aconteceu.
À saída do Tribunal Judicial de Almada, Fátima Negrão e Fernanda Cristovão, familares das vítimas, disseram que têm recebido centenas de e-mails de jovens com informações que podem ter interesse para a investigação e que, uma vez selecionados, são reancaminhados para as autoridades competentes que lideram o processo.
"Não estamos a fazer uma investigação à parte. Estamos a fazer o nosso trabalho de casa", declarou Fátima Negrão aos jornalistas, revelando que, no total, já receberam centenas de e-mails com informações relacionadas com o que se terá passado no Meco.
A testemunha que viu o corpo de um estudante com os tornozelos amarrados "está disposta a falar e a 
colaborar com a justiça", afirmou esta segunda-feira a mãe de Pedro Tito Negrão, um dos seis universitários da Lusófona que morreu na praia do Meco.
"Não vi as fotos, pelo que não me posso pronunciar, como é óbvio. Por isso, apelamos a quem tenha essa informação que a transmita a quem de direito para que as imagens possam ser analisadas", disse Fátima Negrão, à saída do tribunal de Almada.
"Foi antes do fim de semana [que receberam a denúncia, através de um email", acrescentou a mãe do aluno, que deu conta de "mais de 300 mensagens" recebidas com informações relevantes, a maioria com os autores "identificados e com contactos telefónicos".

Luta pela verdade dos factos 
"Estamos a receber centenas de mensagens, do mais variado teor e que são muito importantes. Vão ser todas analisadas, respondidas e grande parte vai fazer parte do processo", adiantou a familiar, reforçando o pedido de ajuda: "Pedimos a todos os colegas que nos ajudem. Não estamos a culpar ninguém, apelamos mais uma vez  aos colegas que se juntem a nós e que nos façam entender, de uma vez por todas, o que aconteceu". 
Insistindo que o único objetivo é a descoberta da verdade, as mães de Pedro Tito Negrão e Carina Soares, Fátima Negrão e Fernanda Cristovão, respetivamente,  aproveitaram para insistir na ideia de que gostariam de falar com o único sobrevivente, João Miguel Gouveia, apontado como Dux da Comissão Oficial de Praxes Académicas da Lusófona.
"Ele ainda não falou connosco", lamentaram ambas as mães, observando que isso seria uma "situação normalíssima". Asseguraram que vão "continuar a insistir" para que tal conversa aconteça.
Fontes ligadas ao processo admitem que João Miguel Gouveia deverá ser ouvido em breve pelos investigadores, tendo Fátima Negrão confirmado que há indicações de que o jovem e único sobrevivente manteve recentemente uma reunião com responsáveis da Universidade Lusófona.
Fernanda Cristóvão, mãe de Carina Soares, outra das vítimas, acrescentou, ainda, que não tem dúvidas de que o que aconteceu no Meco foi praxe, uma vez que "desde o primeiro minuto" que a filha lhe disse "que ia para uma reunião de atividades de praxes para 2014".

Advogado pede "celeridade" na investigação  
Familiares querem saber ao pormenor o que se passou na praia 
O representante dos pais questiona o trabalho da Polícia Marítima e alerta que caso se confirme a existência de alguma reunião na universidade com o sobrevivente "será muito grave".
Depois das famílias terem entregue ontem, no Ministério Público de Almada, o requerimento com objetivo de se constituírem como assistentes, o advogado revelou que ainda esta semana tenciona tentar perceber, junto das autoridades, "o que está ser feito". Vítor Parente Ribeiro justifica: "Se me disserem que não estão a fazer nada e que o fim do segredo de justiça não prejudica a investigação, então vamos requerê-lo. Não podemos chegar ao fim do processo sem que nada se saiba", refere.
Vítor Parente Ribeiro, advogado das famílias das vítimas, disse que a constituição destes como assistentes é o "primeiro passo" no sentido da descoberta da verdade, observando que não há qualquer desconfiança quanto às linhas de investigação que o Ministério Público e a PJ de Setúbal estejam ou venham a adoptar no inquérito à morte dos seis jovens. Para o advogado, a vantagem de os familiares se constituírem assistentes é a de terem acesso aos despachos e poderem pedir a realização de certas diligências que podem ser importantes para o apuramento da verdade.
"Às famílias, o que interessa é a descoberta da verdade", concluiu o advogado das famílias.
Vítor Parente Ribeiro pediu que a investigação seja "célere", dizendo acreditar que o Ministério Público e a Polícia Judiciária não precisem do prazo máximo previsto na lei para os inquéritos para chegar a uma conclusão sobre a ocorrência.

Investigação  já é tardia, diz Pinto Monteiro
Fernando Pinto Monteiro, ex-Procurador-Geral da República, critica o tempo que se perdeu até se iniciar a investigação da tragédia do Meco, em que seis estudantes universitários perderam a vida em Dezembro de 2013.
Citado na edição desta segunda-feira do Diário de Notícias, Pinto Monteiro afirma que "as investigações para casos destes devem ser feitas prontamente, tanto na recolha de indícios como de depoimentos, que é para não haver tempo de as testemunhas falarem com amigos e combinarem versões".
O antigo PGR sustenta esta observação como sendo "fruto da experiência de mais de 40 anos como magistrado".
As seis vítimas que morreram na praia do Meco (quatro raparigas e dois rapazes) faziam parte de um grupo de sete estudantes universitários que tinham alugado uma casa na zona, para passar o fim de semana.
Segundo as autoridades, uma onda arrastou-os na madrugada de 15 de Dezembro, mas um dos universitários conseguiu sobreviver e dar o alerta. Os corpos dos restantes foram encontrados nos dias que se seguiram.
Numa carta enviada à agência Lusa, a família de João Miguel Gouveia, o único sobrevivente do grupo de universitários, sublinha: "No local certo e perante as instâncias competentes, no tempo necessário para que todas as diligências sejam efetuadas, o sobrevivente prestará todos os esclarecimentos".

Agência de Notícias
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