Atlântico "ceifa" 12 vidas numa semana

12 mortes no mar do Meco e da Costa de Caparica em menos de uma semana 

O mar voltou a roubar vidas. No espaço de uma semana, 12 pessoas não resistiram à força mortífera das ondas cavaleiras no mar do distrito de Setúbal. Os avisos das autoridades continuam a ser desvalorizados e quem se arrisca não sabe ao que vai Uma embarcação de pesca desportiva naufragou no sábado, na Costa da Caparica, em Almada, e matou seis dos sete tripulantes que seguiam a bordo. Foi a segunda tragédia em sete dias depois de, mais a sul, numa praia do Meco, seis estudantes terem sido levados por uma onda - e onde as autoridades já conseguiram resgatar o corpo de quatro das vítimas. Falta apenas resgatar um corpo do mar. Em ambos os incidentes houve apenas um sobrevivente.

12 pessoas perderam a vida este mês no mar do Meco e da Costa 

Infeliz coincidência: em sete dias, 12 pessoas foram traídas pelas 'ondas cavaleiras' que atingem a costa portuguesa com mais incidência nesta altura do ano. No Meco - sete jovens universitários da Lusófona foram arrastados por aquele fenómeno marítimo e apenas um escapou com vida. E, sábado, à noite, outros números iguais - bem perto daquele local, na Costa de Caparica, sete pescadores lúdicos naufragaram quando se aproximaram da zona de rebentação deste tipo de ondas. Cinco morreram agarrados à embarcação e dois chegaram à margem - embora só um tenha sobrevivido -, aumentando-se, assim, a cifra negra para 12.
Nenhum corpo das seis vítimas do naufrágio ocorrido, este sábado, na Costa de Caparica, Almada, tinha colete, apesar de a embarcação ter coletes salva-vidas, segundo a Polícia Marítima.
O barco de recreio com sete pessoas a bordo afundou-se ao princípio da noite, junto à Praia do CDS, na Costa de Caparica. Seis pessoas morreram. O único sobrevivente do acidente, um homem de 37 anos, conseguiu nadar até à praia onde pediu auxílio. Passou a noite no Hospital Garcia da Orta e regressou a casa ontem à tarde.
“Ele não consegue falar, agarra-se às pessoas a chorar”, contou o amigo José Alberto Saraiva à TVI.
Seis dos sete tripulantes viviam no Barreiro. A embarcação Cochicho saiu de uma garagem no alto do Seixalinho onde Michel é mecânico na oficina do pai. Ali trabalhava também o amigo que ainda tentou salvar.
“Conseguiu arrastar um colega dele de trabalho até à areia mas faltaram-lhe as forças ou o outro desistiu de viver. Houve alguém que o ouviu pedir socorro e que o foi salvar dentro de água ainda”, disse o amigo do sobrevivente.
Aos dois mecânicos juntavam-se quase todos os fins de semana um antigo serralheiro, de 60 anos, o proprietário de um talho, além de outros três amantes da pesca, todos na casa dos 50.
O barco Cochicho tinha sido alugado em Peniche e vinha do Cabo Espichel, em Sesimbra, para o Barreiro, de onde eram todos os homens, passando pela Cova do Vapor. A tarde fora passada a pescar na Arrábida e nas geladeiras que mais tarde deram à costa, juntamente com canas de pesca partidas, havia robalos e douradas. Por razão que está por explicar, disse o chefe Pacheco Antunes, da Capitania de Lisboa, a embarcação aproximou-se demasiado da costa e das ondas altas, o que terá provocado o desgoverno e afundamento.

Autarcas lamentam perdas de vida
 Seis tripulantes do Cochicho perderam a vida na Costa de Caparica 
O presidente da Junta da Caparica, Ricardo Martins, admitiu também que o acidente ficou a dever-se à forte agitação marítima.
Apesar de a embarcação ter coletes salva-vidas nenhum dos corpos tinha colete, notou o chefe Pacheco Antunes, concluindo que a polícia marítima já comunicou o caso ao Ministério Público.
Foi cem metros a norte da praia do CDS que apareceu o primeiro corpo, cerca das 20 horas. Os outros cinco apareceriam mais tarde na areia da praia Nova, em frente ao bar Dragão Vermelho, o mesmo local onde os Bombeiros de Cacilhas depositaram o "Cochicho".
Um deles, há alguns anos, num acidente semelhante foi o único sobrevivente num grupo de três pessoas. Sobreviveu 12 horas no mar à espera de ajuda. Morreu no sábado agarrado ao barco com a praia à vista.
O presidente da Câmara do Barreiro, Carlos Humberto, lamentou hoje a morte de seis pescadores do concelho na sequência do naufrágio. "Mais um acidente no mar deixou o presidente da Câmara do Barreiro, consternado e lamentando profundamente o desfecho do naufrágio na Costa de Caparica", refere a autarquia, em comunicado.
"O autarca apresenta sentidas condolências aos familiares e amigos das pessoas que perderam a vida", conclui o comunicado.

Corpos aparecem no Meco
Às portas do Natal, o mar começa a devolver “os meninos do Meco” à família. As autoridades encontraram nesta segunda-feira mais três cadáveres do sexo feminino perto da praia do Meco. Segundo a Marinha, tudo indica que poderão ser elementos do grupo de jovens desaparecidos a 15 de Dezembro naquela praia do concelho de Sesimbra. Às 17h45, continuava por resgatar o corpo de um rapaz.
Segundo a informação disponibilizada pela Marinha na sua página de Internet, o primeiro dos três corpos foi recolhido às 10h30 pela corveta Jacinto Cândido, que está envolvida nas operações de busca no mar, retomadas ao início desta manhã depois de interrompidas devido a agitação marítima.
O corpo foi localizado pela lancha de fiscalização Águia, em coordenação com o Centro de Busca e Salvamento Marítimo de Lisboa e a Capitania do Porto de Setúbal, a cerca de 2300 metros em frente à praia do Meco. Os outros dois foram localizados durante a tarde pela Polícia Marítima, que continua a patrulhar a área, a 300 metros do local do acidente.

Corpos ainda por identificar 
Apenas falta encontrar um dos cinco corpos desaparecidos no Meco 

Já no domingo tinha sido recolhido em frente à praia da Pipa o corpo de outra mulher, que também deverá ser uma das jovens desaparecidas. No entanto, depois de oito dias no mar, o corpo está irreconhecível e nenhuma das famílias conseguiu identificá-lo. "Quando o corpo permanece tantos dias dentro de água, há o desluvamento da pele [que impossibilita, nomeadamente, a recolha das impressões digitais] ao qual se junta a acção da fauna marinha", explica o director da delegação do Sul do Instituto de Medicina Legal, Jorge Costa Santos.
Nestes casos, o reconhecimento visual não é possível. Em alternativa, foi pedido às famílias dos jovens que indicassem os sinais particulares das vítimas que possam continuar preservados. Está também a ser elaborado o registo das fichas dentárias. Mas a prova de "confirmação e identificação positiva" só será possível através da comparação de perfis de ADN, em laboratório.
"É um procedimento que só deverá estar concluído daqui por duas semanas", diz Jorge Costa Santos. Ou seja, só em Janeiro é que as famílias terão a confirmação acerca da identidade dos corpos.
O mar, apesar de bonito, é sempre “muito perigoso” nesta altura do ano na costa atlântica. E no Natal, as autoridades apelam, mais, uma vez para ventos fortes e agitação marítima violenta. Não arrisque.

Agência de Notícias
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