Aluno de Massamá queria “matar indiscriminadamente”

Funcionária e alunos esfaqueados em Massamá não inspiram cuidados


Lançou "very light" na sala de aula, esfaqueou três alunos e uma funcionária da Escola Secundária Stuart de Carvalhais, em Massamá, em Sintra. Tinha mais armas na mochila. Colegas dizem que era bom aluno, mas introvertido. O comandante da Polícia de Segurança Pública de Sintra, Hugo Palma, disse que nenhuma das pessoas esfaqueadas à tarde numa escola secundária de Massamá "inspira cuidados". Serão as nossas escolas seguras?

Aluno de 15 anos atacou ontem colegas e funcionárias em Massamá 

Gonçalo, de 15 anos, surpreendeu todos, na tarde de segunda-feira, na Escola Secundária Stuart de Carvalhais, em Massamá. Pouco passava das 16 horas quando aquele aluno do 11.o G tentou entrar na aula de Português. A professora fechou a porta, em jeito disciplinar por já passar da hora, mas Gonçalo empurrou-a e, ato contínuo, lançou um "very light" para o chão.
O fumo atordoou os alunos, que começaram a gritar e a correr para fora da sala. Beatriz, de 16 anos, foi a primeira a tentar sair e foi esfaqueada pelo colega, num braço. Entre gritos, fumo e pânico, outros dois menores foram atingidos pelo colega, um deles no tórax, até que a funcionária do pavilhão G surgiu e tentou travar o agressor.
Gonçalo não hesitou e, munido de uma faca de cerâmica de cozinha, desferiu um golpe no pescoço de Nazaré Lopes, funcionária da instituição há mais de dez anos.
A funcionária, de 40 anos, que sofreu um golpe no pescoço e foi levada para o Hospital Amadora-Sintra, e um dos três alunos esfaqueados, um jovem de 16 anos, foram transportados para hospitais da Grande Lisboa, mas apresentam apenas ferimentos ligeiros, confirmou a PSP local.
O adolescente de 16 anos, encaminhado para o hospital de Santa Maria, em Lisboa, "não corre risco", disse também à Lusa fonte daquele estabelecimento.Os outros dois alunos não chegaram a receber tratamento hospitalar, tal como um quarto jovem que não foi esfaqueado, mas caiu de uma escada quando tentava apanhar o suspeito.

Vontade de cometer “assassinato em série”
"Tentámos apanhá-lo, quando lhe agarrámos a mochila, ele largou-a e continuou a correr", disse um dos alunos que o perseguiu e que revelou o conteúdo da mala: "Lá dentro estavam ainda mais facas e álcool", disse, atestando a informação confirmada depois pela PSP, que dava conta de mais três facas de cozinha, gás pimenta e duas embalagens de álcool.
O rapaz acabou por ser detido pouco depois, não apresentou resistência, mas segundo fonte policial apresentava um quadro de alguma difusão mental e foi dizendo que a sua intenção era matar os colegas da escola. “Queria cometer um assassinato em série, como se vê nas televisões”, terá dito à polícia.
"Ele é calmo, até cordial, ninguém estava à espera disto. Foi um grande susto, primeiro a bomba a rebentar, depois o fumo quase a sufocar-nos", disse uma colega, logo interpelada por outra: "Ele tem problemas. Uma vez partiu uma janela da escola e esta semana disse à turma que os ia matar a todos".
Uma professora do Gonçalo, que preferiu o anonimato, destacou que era bom aluno, apesar de um pouco "estranho" e "muito introvertido".
Os pais de Gonçalo ficaram espantados e quando chegaram à esquadra da PSP de Massamá encontraram o filho aparentemente calmo, mas não conseguiram ajudar as autoridades a descrever qualquer traço de distúrbio da personalidade. Será presente ao juiz do Tribunal de Menores esta manhã.

Escolas são pouco seguras dizem pais e sindicato da PSP

Pais e PSP querem mais segurança nas escolas portuguesas 
No dia em que adolescente esfaqueou colegas e funcionária de escola em Massamá, pais e sindicato da PSP afirmam que ainda há muito a fazer no que toca à segurança escolar.
"A segurança nas escolas fica aquém do desejável", garante Paulo Rodrigues, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP), reagindo ao episódio desta segunda-feira em Massamá.
“É preciso, cada vez mais, ter atenção aos miúdos que têm famílias desestruturadas, ter em conta o que os conduz a levarem facas para a escola”, explica Paulo Rodrigues.
A crise leva a que, em muitos casos, os jovens passem a pertencer a grupos “que não lhes garantem aquilo a que estavam habituados e isso acaba por ter impacto no dia a dia das crianças”, explica o presidente da ASPP/PSP.
O presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (CONFAP), Jorge Ascensão, vem confirmar a tese de Paulo Rodrigues. “Temos defendido que é necessário uma proximidade escola-família e aluno-professor. É preciso perceber em que contexto extra escolar se encontram as crianças para resolver os seus problemas”.
Segundo o presidente da CONFAP, a polícia, as associações de pais, a segurança social e as autarquias são algumas das entidades que podem contribuir para um aumento da segurança nas escolas. Com um trabalho conjunto de todas estas instituições – defende Jorge Ascensão –, é possível melhorar a relação entre os estabelecimentos de ensino e o ambiente familiar das crianças.

Agência de Notícias 

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