Nós e as Cidades por Miguel Macedo


Sporting como um pequeno


Pronto. Franky Vercauteren trouxe um pouco de garra, mas não é nenhum milagreiro: o Sporting mais “lento das ideias” de que há memória averbou nova derrota e está apenas um ponto acima da linha de água. A actual luta é a fuga à despromoção e os seus adversários directos são o Gil Vicente, o Nacional, o Vitória de Setúbal e o Moreirense que reflecte a realidade: o Sporting não joga mais do que eles.


Curiosamente já perdeu com o Vitória de Setúbal e Moreirense e o que mais me impressiona nesta equipa: a desoladora incapacidade de se superiorizar (em jogo jogado) a qualquer adversário - mesmo o mais minorca.
Excepção feita à goleada aos brincalhões do Horsens para a Liga Europa (5-0), o Sporting não foi ‘grande' (assertivo, dominador, confiante e autoritário) em nenhum de todos os restantes jogos. E há outra constante nas actuações dos leões: é tudo em esforço, em sofrimento e em sacrifício. Uma agonia continuada. Acontece que isto já não é só da fase. É reflexo do clube.
Da falta de ‘escola', de uma cultura de vitória, de exigência; da acomodação à derrota, aos falhanços. O Sporting deixou de se comportar como um grande há muito tempo e é natural que esteja a sofrer angústias típicas de pequeno.
Vercauteren não trouxe nada e foi despedido em pouco tempo. Aliás despedido sem saber antes do Natal.
A terminologia foi empregue por Godinho Lopes. De forma infeliz. Desde logo porque desautoriza o homem que todas as semanas se senta no banco técnico. Se Jesualdo é o "treinador principal", o que fazia lá Vercauteren e que modelo de jogo seria adoptado?
O do português, seguramente, caso contrário não seria ele o "principal". Mas se assim for, como ia o belga (uma espécie de ‘barriga de aluguer’) fazer os jogadores acreditarem em ideias que não são as suas? Bizarra chicotada psicológica, esta. Enfim!
Agora o professor é mesmo o treinador. Mas não se peça ao treinador dos treinadores, o professor Jesualdo, que resolva numa semana uma maleita que é estrutural. O próximo adversário do Sporting é o Olhanense (à sua frente): um jogo terrível para o professor: uma derrota e o Sporting até pode baixar para perto do fim. Benfica e Porto já vão a muitos pontos de diferença e até o Paços de Ferreira, o quarto classificado, está a duas mãos cheias de pontos dos leões sem alma. A Liga Europa já era, a Taça de Portugal ficou perdida em Moreira de Cónegos e na Taça da Liga foi goleado pelo Rio Ave. Ou seja, tudo perdido. A Europa? Será possível? A jogar assim não creio. E perante isso que diz e faz Godinho Lopes? Diz que “o seu projecto está a ser cumprido [seja lá o que isso for] e manda embora jogadores da formação a preço da uva mijona e oferece um russo ao Futebol Clube do Porto. Para quê? Para que o Sporting seja humilhado ainda mais se o russo começar a jogar a sério no Dragão. Coisa que em Alvalade nunca fez. Depois manda vir do Porto um guarda-redes que não precisa para nada e um lateral direito que jura ser do Sporting desde pequenino... mas que só aceitou ir para Alvalade se ganhasse um milhão de euros/época. E como o Sporting até tem um poço de petróleo no Campo Grande aceitou de imediato! E se as coisas correrem mal... manda-se o professor embora e vai-se buscar o Mourinho que também deve de estar de malas feitas de Madrid!
Mas a sério, há uma diferença grande, muito maior do que aquela que, neste momento, separa o Sporting do Sporting B. Já agora: não se pode trocá-los?...

A última ceia...
Mas o Sporting ainda continua a encantar com pérolas dignas de um filme cómico. Algumas peças de fruta, uma toalha verde numa mesa comprida, atletas das modalidades em redor e um presidente de sorriso aberto. A semelhança entre a foto de boas-festas do clube e o quadro ‘A Última Ceia’, de Leonardo da Vinci, é a cereja em cima do bolo para quem pretende crucificar Godinho Lopes.
Mas, ao contrário de Jesus, a palavra do dirigente está muito longe de poder vir a ser pregada ao longo dos tempos. Custa perceber como o fragilizado dirigente não se resguarda das previsíveis polémicas, pouco abonatórias para o cargo que exerce e para a grandeza do clube. Era óbvia a imediata associação da foto à pintura que simboliza a última refeição de Cristo com os apóstolos. A controvérsia, rastilho para todo o tipo de acusações e gracejos, devia ser bem medida. Numa altura em que o Sporting vive a maior crise da sua história, era evitável esta forma de homenagem ao eclectismo do leão feita desta forma tão... sorridente!



Miguel Macedo
Estudante de Arquitectura
Montijo 

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