O melhor da moda portuguesa desfilou por Lisboa
As propostas dos criadores portugueses para a Primavera-Verão de 2013 têm linhas depuradas, tons pálidos de azul, laranjas e rosas vivos. Influências arquitectónicas completam as ofertas para a próxima estação. É o que mostrou os quatro dias da ModaLisboa.
Nuno Gama optou por passar uma mensagem de protesto |
As flores da Primavera e os cheiros do Verão já deixaram, o Pátio da Galé, em Lisboa. Agora só para o ano. Mas a ModaLisboa não nos deixou de mãos a abanar e deu-nos muito boas ideias e bastante inspiração para a estação quente. Na sexta-feira, segundo dia de desfiles da 39ª edição da ModaLisboa, a estreante Janis Dellarte explorou os limites entre o grotesco e o belo no Museu do Design e da Moda, com uma apresentação inspirada nos freak shows, os circos de aberrações populares na Inglaterra dos tempos vitorianos.
Já no penúltimo dia do evento, destacaram-se as colecções de Ricardo Dourado, Lidija Kolovrat e Nuno Baltazar. Laranjas e tons de terra reinaram no primeiro momento do desfile de Ricardo Dourado, com peças fortes de ombros e mangas estruturadas. Seguiram-se looks de branco total e riscas horizontais em preto e branco. Apontamentos de pele de píton em vestidos abalonados, coletes e casacos para homem e mulher completaram a colecção do designer.
A “moda louca” de Lidija Kolovrat
“A Priest is Going to a Wild Party” foi o mote de Lidija Kolovrat para a Primavera/Verão de 2013. Os símbolos religiosos, particularmente a cruz de Cristo, figuraram nos acessórios e em micro-padrões nos tecidos dos vestidos e das peças masculinas. Também as incursões católicas portuguesas no Japão do século XVI e a sua influência na arte nipónica da época se notaram, em vários padrões digitais de preto, esmeralda e vermelho. As silhuetas apresentadas pela criadora para mulher são fluídas e frescas; para homem, o poliéster de efeito anorak foi a aposta nas calças, tops de alças e calções.
A inspiração de Baltazar
Os tons claros predominam nas colecções |
Inspirado pela relação do designer Yves Saint Laurent com o seu companheiro de toda a vida, Pierre Berger, a colecção de Nuno Baltazar revisitou alguns dos temas explorados pelo designer francês em vida: o chic descontraído que criou em Paris com a sua colecção “Rive Gauche”, a influência árabe de Marraquexe e a colecção de arte do seu companheiro notaram-se nas linhas elegantes e nos padrões de zebra e leopardo, com alguma influência dos anos 60.
Adidas a fechar terceira noite
A fechar, a apresentação da Adidas, já um dos momentos mais esperados na semana da moda lisboeta – não tanto pelas propostas, mas sim por quem as veste na passerelle: atletas como Naide Gomes e Nelson Évora e figuras da televisão e da música nacionais conduziram o desfile lado a lado com os manequins, da sala do Pátio da Galé para uma passerelle montada no Terreiro do Paço.
Era lá que um público entusiasta os esperava, animados pelo duo de DJs norte-americanos The Misshapes. O que quer dizer que quando acabou o desfile a festa continuou noite fora.
Com a moda a sair à rua, o terceiro dia de desfiles terminou com chave de ouro.
Viagem às Caraíbas com Vieira
Moda Lisboa despede-se até Março onde volta com propostas de Inverno |
O quarto e último dia da 39.ª edição da ModaLisboa terminou domingo pelas 22h30, com uma viagem às Caraíbas, através do desfile da colecção do designer de moda português Miguel Vieira.
Para criar uma colecção em que “o clássico é reinventado”, Miguel Vieira inspirou-se, explicou o próprio, em “culturas exóticas e paisagens idílicas de cortar a respiração”.
Nos tons, optou para juntar ao preto, ao branco e ao bege, por cores cítricas como “rosa quente, o verde lima e o laranja sol”. Nos materiais o destaque foi dado às lantejoulas, aos tecidos 'jacquard' com estampados geométricos e florais, algodões e tecidos “lisos e listrados de cores vibrantes”. Uma obra de arte, dizem os críticos!
A ciência ‘cool’ de Catarina Sequeira
A maratona de desfiles de domingo arrancou nos Paços do Concelho, pelas 15 horas, com a apresentação da colecção 'Pathovar' da saymyname, de Catarina Sequeira, que quis demonstrar que “a ciência é 'cool' e permite ver beleza onde menos se espera”.
Os efeitos visuais gerados pela observação de bactérias ao microscópio inspiraram a designer de moda na criação “de cortes múltiplos, de linhas geométricas e na mistura de tecidos em silhuetas minimais”.
V!tor e o mundo de fantasia
Sensualidade e Fantasia andaram pela passerelle da ModaLisboa |
Também nos Paços do Concelho decorreu o desfile da colecção de V!tor, que desta vez trabalhou em dupla com Luísa Cativo. A primavera de 2013 de V!tor é feita de fantasia (unicórnios estampados nos tecidos e cores vibrantes) e referências à infância (pequenos póneis em colares), “quando tudo era mais fácil”.
Mais do que uma colecção, “divertida e leve”, V!tor quis desenhar um mundo de fantasia e a farinha que espalhou na ‘passerelle’ e que se transformava em nuvem de pó à medida que os manequins desfilavam ajudou.
Aleksandar Protic inspirado em Enki Bilal
Os desfiles seguiram depois para o Pátio da Galé, onde apresentou uma colecção que teve por inspiração “a atmosfera da banda desenhada do autor de banda desenhada [francês] Enki Bilal”.
O resultado são peças em pele, sedas e linho, tingidas a preto, castanho, dourado e branco.
Nuno Gama e colecção do protesto
Seguiu-se a colecção de Nuno Gama, que foi uma homenagem a Lisboa, mas também um protesto contra a situação que se vive em Portugal.
A apresentação de Nuno Gama terminou com os manequins a desfilarem com um autocolante colado na boca, no qual estava desenhado uma cara triste, e com t-shirts em que se podia ler a frase “eu quero ser feliz”.
A homenagem a Lisboa surgiu na forma de estampagens em t-shirts com frases como 'Lisboa não sejas francesa' ou 'Keep calm and come to Lisboa' (‘Mantém a calma e vem a Lisboa') e imagens de Amália Rodrigues e de corvos, o símbolo da cidade.
“Acho que nunca fui tão radical na minha vida como fui hoje”, disse Nuno Gama aos jornalistas, citado pela Lusa, no final do desfile, salientando que é “o mais pacífico que se possa imaginar”.
Questionado sobre se esta seria a sua maneira de protestar, de se manifestar, Nuno Gama respondeu “sim” e repetiu a palavra, acrescentando: “Mas também tentar, através da minha voz chegar às pessoas de alguma forma, mas com uma coisa positiva. Sermos pró-ativos, lutarmos pela nossa felicidade”.
O designer de moda chegou “ao ponto de usar o discurso de Dantas e de pôr os manequins de boca tapada, com aquelas t-shirts”, por ter “perdido a paciência”.
“Estamos todos na expectativa de que mais notícias é que vamos receber do ministro das Finanças e do primeiro-ministro. Eu já não tenho paciência, já não acredito em nenhum deles, lamento dizê-lo, mas todos nós devíamos dizer-lhes isto, porque eles ainda não perceberam que já deixámos de acreditar”, diz o criador português.
Nuno Gama salientou que já ultrapassou os seus limites. “De cada vez que pago uma fatura, um quarto é para o Estado. Isto é uma violência para todos nós. É complicado e têm que ser encontradas outras soluções, a solução não pode ser esta”.
Para Nuno Gama, a solução passa por os portugueses acreditarem neles próprios e agirem de forma pró-ativa. “Temos de fazer um mega-esforço, vamos lá, mas por nós e não por tecnocratas que não sabem o que andam a fazer, e a prova está à vista: andam há anos a arrastar-nos nesta situação. Chega!”.
Por isso, esta coleção é também “uma homenagem a Lisboa” e “muito virada para o Turismo”.
Questionado sobre se esta seria a sua maneira de protestar, de se manifestar, Nuno Gama respondeu “sim” e repetiu a palavra, acrescentando: “Mas também tentar, através da minha voz chegar às pessoas de alguma forma, mas com uma coisa positiva. Sermos pró-ativos, lutarmos pela nossa felicidade”.
O designer de moda chegou “ao ponto de usar o discurso de Dantas e de pôr os manequins de boca tapada, com aquelas t-shirts”, por ter “perdido a paciência”.
“Estamos todos na expectativa de que mais notícias é que vamos receber do ministro das Finanças e do primeiro-ministro. Eu já não tenho paciência, já não acredito em nenhum deles, lamento dizê-lo, mas todos nós devíamos dizer-lhes isto, porque eles ainda não perceberam que já deixámos de acreditar”, diz o criador português.
Nuno Gama salientou que já ultrapassou os seus limites. “De cada vez que pago uma fatura, um quarto é para o Estado. Isto é uma violência para todos nós. É complicado e têm que ser encontradas outras soluções, a solução não pode ser esta”.
Para Nuno Gama, a solução passa por os portugueses acreditarem neles próprios e agirem de forma pró-ativa. “Temos de fazer um mega-esforço, vamos lá, mas por nós e não por tecnocratas que não sabem o que andam a fazer, e a prova está à vista: andam há anos a arrastar-nos nesta situação. Chega!”.
Por isso, esta coleção é também “uma homenagem a Lisboa” e “muito virada para o Turismo”.
Ambientes românticos de Marques’Almeida
Os padrões ousados e originais marcam o estilo Marques'Almeida |
Depois, Marta Marques e Paulo Almeida, compõem a dupla Marques'Almeida, apresentaram a colecção que desvendaram a 15 de Setembro na semana da moda de Londres e que “mantém a identidade da marca: um estilo jovem e inspirado no movimento ‘grunge' dos anos 1990”.
No entanto, “esta colecção dá uma perspectiva mais leve, feminina, fresca e romantizada”. Nos materiais a dupla continua a optar pelo ‘denim', mas introduziu novidades como malhas texturadas de algodão e linho, e privilegiou tons pastéis.
A 39.ª edição da ModaLisboa arrancou na quinta-feira e terminou domingo. A iniciativa regressa em Março para a apresentação das colecções do inverno de 2013/14.
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Agência de Notícias
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