Não há guito
Há dias, numa loja das Cabanas – a meio caminho entre
Palmela e Azeitão – o empregado, um tipo bem disposto e muito rotineiro,
perguntava-me o seguinte: “Sabe qual é o problema?” Fiquei sem resposta mas de
imediato o Sr. Pereira adiantou-se: “Não há guito!”
Quase que dei uma gargalhada mas, de regresso a casa, fui
pensando neste comentário e, em boa das verdades, o Sr. Pereira do mini-mercado
sintetizou numa pequena frase o problema que todos enfrentamos: não há
dinheiro. Como temos uma língua muito rica e porque não gostamos muito de ser
radicais, evitamos a palavra dinheiro; temos até uma certa vergonha em dizer
que não o temos e por isso recorremos a expressões mais populares e com humor.
Sempre fica melhor dizer “não há guito” do que “não tenho dinheiro”. Também ao
nível da linguagem técnica e mais ainda da política se foge ao problema da
falta de dinheiro.
O que se houve falar é de recursos financeiros
necessários, de ajuda financeira, de ajustamento, de alteração dos padrões de
consumo, de viver de acordo com o rendimento disponível, etc. Mas em boa das
verdades o que não há é mesmo guito.
E a falta do guito, pelo que parece, já chegou aos
bancos. Há dias ficamos a saber que os cinco maiores Bancos concederam, no 1º
semestre, menos 10 mil milhões de euros em créditos diversos (empresas, habitação, pessoas). Por
outro lado também o Banco de Portugal diz que há cinco meses consecutivos que decrescem os novos
depósitos e, por fim, são já cerca de 700.000 famílias com
dificuldade em pagar os empréstimos à banca.
As notícias e outros indicadores multiplicam-se diariamente
quer na comunicação social quer nas situações concretas que cada um conhece à
sua volta. Estamos cada vez mais a poupar nos nossos quotidianos, comemos cada
vez menos fora de casa, levamos cada vez mais a lancheira para o local de
trabalho e para as universidades, circulamos cada vez menos de automóvel e de
transporte público, fazemos férias cada vez mais em casa, reduzimos cada vez
mais as nossas compras aos bens essenciais, etc.
O mesmo também acontece com as empresas com cada vez mais
dificuldade em cumprir com as obrigações financeiras e, pelo mesmo motivo do
financiamento, várias grandes empresas emitiram, recentemente, obrigações que
já andarão por 1,3 mil milhões de Euros.
Não vale a pena disfarçar – não há guito! Todos sabemos
porque temos falta do dinheiro (eliminação de vencimentos na Função Pública,
desemprego a aumentar todos os meses, jovens sem solução para o 1º emprego,
aumento de vários custos, etc.). Não tenho solução para este problema e, pelos
vistos, ao nível da Banca, dos Governos e das entidades internacionais (sejam
governos sejam financeiras) também andam às voltas em busca de respostas. Como
produzir mais para conseguir mais guito é o desafio. Enquanto isto, apenas
constato que vamos (todos) ter de viver com menos guito. Quer queiramos... quer
não!
Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo
O
homem que não aceita crítica não é verdadeiramente grande. É tão incomum isso na nossa imprensa que as
pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é
estúpida. Outras irónicas. Tantas vezes desiludida e incompreendida. O leitor
que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que
não quer contestar coisa alguma. O tom das Críticas Soltas às vezes é
sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou,
até, se quiserem, a irritação perante a vida, a política, a sociedade… o mundo,
enfim. À sexta-feira por Joana Teófilo Oliveira para o ADN.
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