Mergulhador continua desaparecido no Tejo


Homem apanhava bivalves no Tejo

 

As buscas de um mergulhador desaparecido, terça-feira, no rio Tejo, em Alcochete, foram suspensas e serão retomadas, esta sexta-feira, ao nascer do sol. Há várias versões para o que terá acontecido. Mas tudo aponta para que o homem [Fernando Farinha, de 44 anos, ex-fuzileiro e advogado especializado em Direito Marítimo] e dois amigos faziam apanha ilegal de bivalves através de mergulho com botija quando a Polícia Marítima surgiu. Fernando mergulhou e terá sido atingido pela hélice do barco, onde ficou um dos colegas.


Centenas de pessoas tentam a sorte no Tejo 
Familiares e amigos do homem desaparecido têm criticado a actuação das autoridades e acusam a Polícia Marítima de "perseguir" o mariscador que, segundo eles, terá sido atingido pelo hélice do próprio barco quando tentava fugir da Polícia Marítima.
"Naquele dia [terça-feira], não houve nenhuma operação no local ligada à fiscalização da amêijoa nem nenhuma fiscalização a embarcações. Houve, sim, uma lancha da Polícia Marítima que saiu de Lisboa, dirigiu-se ao cais de Alcochete para tratar de um assunto, tendo regressado sem se ter apercebido de nada. Só depois é que foi recebido o pedido de apoio", adiantou hoje, à agência Lusa, fonte das Relações Públicas da Marinha.
A mesma fonte referiu ainda que até ao momento não foi aberto qualquer inquérito para averiguar as circunstâncias do acidente que terá provocado a morte de Fernando Farinha, advogado e mergulhador de 44 anos.
O acidente, cujo alerta foi dado às 20 horas de terça-feira, ocorreu à entrada do canal do rio, em Alcochete, quando o homem fazia mergulho na companhia de outro, que foi resgatado.
As ações de busca, que se iniciaram logo na terça-feira, envolveram mergulhadores da Polícia Marítima, uma aeronave da Força Aérea, um bote e uma lancha dos bombeiros de Alcochete.

Buscas continuam sexta-feira
Os bombeiros de Alcochete consideraram hoje "suficientes e adequados" os meios envolvidos nas buscas para encontrar o mergulhador . "Compreendo a dor da família. Mas não quero criar nenhum ‘show off’ e pôr meios na margem só para serem visíveis. Tendo em conta a ocorrência, os meios, quer nossos, quer da Polícia Marítima, são os necessários e os adequados", explicou esta tarde, à agência Lusa, o segundo comandante da corporação de Alcochete, enquanto decorriam as buscas para encontrar o advogado de 44 anos.
José Martins acredita que o corpo de Fernando Farinha, residente na Trafaria, Almada, irá aparecer. "A experiência diz-me que sim. Nunca nenhum corpo ficou por encontrar no estuário do Tejo. Vamos fazer todos os esforços para o encontrar", salientou o segundo comandante.
O operacional confirmou ainda que os bombeiros têm contado com a ajuda de pescadores amigos do mergulhador, contrariando informações de que a Polícia Marítima (PM) os estava a impedir de colaborarem nas operações.
"Se a Polícia Marítima os tivesse impedido, não estariam connosco e em conjunto a participar nas buscas", disse, acrescentando que estiveram envolvidos nas buscas desta tarde dez elementos da PM, sete dos bombeiros, três botes e uma moto quatro para operar junto às margens quando a maré baixa. 


Família revoltada
"É um dia tão triste, não consigo acreditar. O meu marido morreu para matar a fome à família, mas, acima disso, a lutar e a defender a legalização da apanha de bivalves. E agora, como vou contar aos nossos filhos que o pai se foi?", lamentava Tina Mendes, mulher do desaparecido que passou todo o dia no pontão de Alcochete a acompanhar as buscas.
Apanhador de bivalves desde sempre, Fernando, pai de um menino de um ano, uma menina de dois e uma adolescente com 16 anos, "decidiu estudar Direito para aprender a defender-se". Tirou o curso, seguido de um mestrado em Direito Marítimo.
Terça-feira à noite, foi a primeira vez em vários meses que saiu para o mar. "Já não fazia isto há tanto tempo, até lhe pedi para não ir. Agora aconteceu esta desgraça", contou a mulher de Fernando ao Correio da Manhã.
O alerta foi dado pelas 20 horas. Foi o próprio timoneiro que, depois de colher o colega, alertou as autoridades e, de seguida, ligou à mulher da vítima.
O mergulhador que acompanhava o desaparecido foi resgatado com vida. Fernando terá perdido os sentidos depois de ter sido atingido pelo barco. Durante dois dias, meios dos Bombeiros de Alcochete, da Polícia Marítima e um helicóptero da Força Aérea percorreram a área onde Fernando desapareceu, a cerca 1,5 km da costa em Alcochete a 2000 metros da ponte Vasco da Gama.
"Só espero que o rio devolva o meu sobrinho", desabafou Jacinto, o tio que cuidou de Fernando que também não arredou pé das buscas.
A pesca de bivalves apesar de proibida é praticada diariamente por centenas de pessoas no estuário do Tejo.

Agência de Notícias 

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