Uma Luz na austeridade por Ana Esperança


Tinha; 13 anos e era escuteira…

Praticava atletismo e dançava ballet e hip-hop, mas um dia tudo mudou. De um momento para o outro as suas mãos não conseguiam mais segurar o lápis, os seus pés já não se punham em pontas e a sua voz já não respondia á chamada escutista. Não, caros leitores, não me enganei, e o que tenho para partilhar convosco esta semana não são boas noticias, são OPTIMAS noticias! 


Em plena adolescência, a Inês viu ser-lhe diagnosticada uma doença rara – Doença de Wilson, qualquer coisa como uma deficiência genética rara que fazia com que o seu corpo não fosse capaz de eliminar o cobre. Durante cerca de doze anos o seu fígado foi aguentando e acumulando cobre mas depois ficou sobrecarregado e o cobre começou a espalhar-se por todo o corpo; principalmente no cérebro que provocou paralisias várias em todo o corpo.
Em pouquíssimo tempo, esta menina deixou de andar, de falar, de comer, tornando-se completamente dependente, apenas manteve são o seu cérebro adolescente. Ela tinha asas de um anjo fechadas num corpo imóvel e doente.
Deixou de ir á escola, aos escuteiros, ao ballet. Os seus dias eram divididos entre consultas, tratamentos, fisioterapia…
Mas não é da doença da Inês, nem tão pouco do seu injusto sofrimento que vos quero falar. Gostava de partilhar convosco o lado bom, que o houve, de toda esta história.
Desde que adoeceu e durante todo o processo, antes e depois do transplante que a curou, a Inês contou sempre com o apoio incondicional dos amigos. Os colegas de escola visitavam-na, partilhavam consigo os apontamentos, tentavam animá-la… Estes adolescentes, com tanta vida para viver e experiencias para concretizar, abdicavam do seu tempo de jovens para estar com a amiga, para a ajudar. Nunca a abandonaram, nunca a esqueceram…

Os amigos, escuteiros, família, nunca baixaram os braços perante as adversidades desta devastadora doença. Criaram campanhas de solidariedade, realizaram eventos, divulgaram o caso da Inês, tudo para angariar o máximo de fundos possível para fazer face aos custos do tratamento, das cadeiras de rodas adaptadas, da fisioterapia, dos medicamentos vindos dos EUA, etc. …
Como não podia comunicar, os amigos deram-lhe um abecedário e esta menina/mulher reuniu todas as suas forças para conseguir apontar as letras e “falar”…
O transplante foi de facto a cura da Inês, mas não foi o fim deste pesadelo… Uma vez curada, tem de recuperar de todas as mazelas que a doença lhe deixou: recuperar o andar, o equilíbrio, a mobilidade, o sorriso, a fala, enfim toda a sua vida suspensa cedo demais.
Mas se pensam os caros leitores, que a Inês luta sozinha estão muito enganados. A nossa escuteira, continua a ter todo o apoio dos amigos.
Chamo especial atenção para o seu Agrupamento de Escuteiros, que nunca a deixou, nunca permitiu que desistisse de nada, muito menos de ser escutista. Participa nas actividades, vai aos acampamentos, treina e reza como todos os outros, ou da melhor forma que consegue.
O que me levou hoje a querer partilhar esta história convosco foi um vídeo recente que vi desta vencedora. A Inês teve no início deste ano a passagem de secção, e como qualquer um dos seus colegas, deveria participar numa prova. E foi!! Os dirigentes e colegas tudo fizeram para que a Inês não perdesse esta aventura.
A actividade era difícil e passava por escalar dunas e mais dunas, fazer exercícios, provas de esforço e tantas outras. E a Inês também foi! Arranjaram um trenó que todos puxavam com cordas, num esforço só visto, nos locais mais íngremes levaram-na ao colo, numa união de força e motivação dignas de serem faladas e partilhadas.
Mas como sempre, continua preocupada com os outros, e como qualquer jovem da sua idade, a Inês tem agora 19 anos, esta escuteira não perdeu este pilar que tanta importância tem na sua existência. Participou nas passagens de secção. Fará promessa de Caminheira, ainda este ano escutista…
O dia da actividade passou de cansativo a bastante divertido para todos, uma marca de união, amizade, partilha e espírito de equipa apenas possível pelos grandes homens e mulheres (mesmo os mais pequeninos) que compõem este Agrupamento de Escuteiros 36 – da Marinha Grande.
A Inês continua a lutar pela total recuperação, mas é feliz. É feliz porque quando tropeça muitas mãos se levantam para a segurar, é feliz porque quando chora muitos sorrisos se abrem acabando com o sofrimento. É feliz porque transforma tudo o que é mau em coisas boas. É FELIZ PORQUE TEM AMIGOS!
Muito obrigada, caros leitores por me deixarem partilhar convosco este exemplo tão bom. Convido-vos a visitar a página de internet do Agrupamento 36 de Marinha Grande e desafio-vos ainda a ver um dos vídeos que me impressionou.

Muita esperança, sorrisos a potes, boa semana e boas notícias!


Ana Esperança

Pinhal Novo


Nos dias que correm as palavras de ordem são austeridade, crise e contenção…Pois bem, caros leitores, é minha intenção nestas breves linhas dar-vos conta das boas notícias de que os canais de televisão não falam e as páginas do jornal apenas mencionam em letras tão pequenas que nem damos por elas. Chamemos-lhe “uma luz na austeridade”.


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