Hoje é dia de Greve Geral

 Saiba os serviços que deve evitar em dia de greve geral

Apenas três transportadoras públicas têm serviços mínimos definidos e não haverá metro na capital. Nas escolas e nos hospitais, perda de salário poderá refrear adesão, mas haverá serviços públicos fechados, dizem os sindicatos. 

Sindicatos esperam grande adesão à greve 


A greve geral de amanhã, convocada pela CGTP em protesto contra a revisão da legislação laboral, promete causar constrangimentos, sobretudo ao nível dos transportes. Mas a paralisação, que não vai contar com a UGT, também se deverá fazer sentir na função pública, antevendo-se o encerramento de alguns serviços das Finanças e da Segurança Social. A adesão ditará o nível de impacto dos protestos, numa altura em que os sindicatos admitem que os trabalhadores estão cada vez menos disponíveis para perder um dia de salário. 

Transportes no mínimo

O Conselho Económico e Social decidiu não decretar serviços mínimos para a Metro de Lisboa e para a Transtejo/Soflusa, que opera as ligações fluviais no Tejo. A circulação ficará dependente da adesão dos trabalhadores, sendo que, no caso da primeira empresa, as portas deverão encerrar ainda hoje, ao final do dia, afetando 550 mil passageiros. 
Para as restantes transportadoras públicas, foram definidos serviços mínimos, que ficarão, no entanto, muito aquém daquilo que é a operação num dia normal. No caso da Carris, por exemplo, apenas será assegurada 13 por cento da circulação de carreiras. O tribunal arbitral definiu como obrigatória a realização de metade das ligações em onze carreiras. 
Maquinistas apelam à greve 

Por último, na CP ficou definido que haverá um total de 315 comboios. Serão efetuadas sete ligações de longo curso, 60 regionais e 203 urbanos da zona de Lisboa, entre outros. 
O Sindicato dos Maquinistas apelou aos seus associados para que adiram à greve geral e a CP alertou para a existência de "fortes perturbações" na circulação, prevendo apenas a realização dos 315 comboios fixados pelos serviços mínimos.
"O SMAQ [Sindicato dos Maquinistas] entende que, dada a gravidade e degradação da situação laboral e condições de vida dos trabalhadores, a adesão a esta jornada de luta convocada pela Central Sindical, fundamenta, sem hesitação, a realização desta greve", lê-se num comunicado disponível na página na internet da estrutura sindical.
O sindicato "exorta" os trabalhadores a aderirem à luta, "em defesa das nossas condições de vida e de trabalho, contra as medidas anunciadas pelo Governo para o setor dos transportes, nomeadamente o ferroviário".
No caso da Metro do Porto, que não tem sido afetada pelas paralisações no setor dos transportes, prevê-se constrangimentos, embora o eixo central não deva ser afectado.

TAP sem grandes impactos 

Na aviação, ainda é cedo para prever os potenciais impactos dos protestos. Na última greve geral, a 24 de novembro de 2011, os aeroportos nacionais ficaram completamente vazios, mas, desta vez, poderá ser diferente, porque os controladores aéreos, que gerem o tráfego que entra e sai de Portugal, não entregaram pré-aviso de greve. Para a TAP, não está previsto "qualquer tipo de impacto na operação", referiu fonte oficial. A gestora aeroportuária ANA só conseguirá fazer um balanço mais concreto na própria quinta-feira.

Grande adesão nos serviços públicos 
Muitas autarquias irão funcionar a meio gás 

A Frente Comum, ligada à CGTP, espera uma "grande" adesão dos trabalhadores do Estado à paralisação de amanhã. Luís Pesca, dirigente daquela estrutura, garante que haverá serviços da Segurança Social encerrados e que nos serviços centrais poderá haver atrasos no processamento das prestações sociais. As repartições de Finanças também deverão sofrer perturbações, uma vez que o Sindicato dos Trabalhadores do Impostos decidiu aderir. Também nas autarquias há a expectativa de uma forte participação. Entretanto, na semana passada, o Governo decidiu suspender a recolha dos dados de adesão à greve em tempo real na função pública, por considerar que este processo em nada tem contribuído para acabar com as guerras de números entre Governo e sindicatos.

Incertezas na educação

Os sindicatos de professores e da função pública, afetos à CGTP, preveem que no setor da educação a adesão à greve geral de quinta-feira seja idêntica à registada na paralisação de 24 de novembro, que foi convocada também pela UGT. Segundo a Fenprof, a adesão à greve nas escolas foi de 60 a 85 por cento tendo centenas delas encerrado. Dados do Governo apontaram para uma adesão de cerca de 2 por cento. "Eventualmente, o nível de adesão até poderá ser ligeiramente superior", indicou o líder da Federação Nacional de Professores, Mário Nogueira, destacando o descontentamento e a preocupação crescente dos docentes face à "política miserável" que tem vindo a ser seguida. 
Já Luís Pesca, da Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública, lembra que a maioria do pessoal não docente recebe "ordenados muito baixos" e que, independentemente de concordarem com a contestação, são cada vez mais aqueles que afirmam que já não lhe é possível prescindir de um dia de salário.

Apenas uma estação dos CTT
Bancos e Correios também podem parar 


O tribunal arbitral definiu apenas como obrigatória a abertura de uma estação dos CTT por cada município. Ainda assim, a empresa está obrigada a cumprir uma série de serviços considerados indispensáveis, como é o caso da distribuição de telegramas e de vales postais da Segurança Social, bem como a recolha, tratamento e expedição de correio e de encomendas que contenham medicamentos ou produtos perecíveis.

Bancários podem aderir

Também o setor bancário poderá ser afetada pela greve geral de amanhã convocada pela CGTP. A Federação do Setor Financeiro (Febase) emitiu um comunicado onde sublinha que "todos os associados dos sindicatos da Febase" que pretendam aderir à greve encontram-se "cobertos pelo pré-aviso de greve emitido" pela intersindical liderada por Arménio Carlos. Além disso, a Febase lembra que "na mesma situação se encontram os trabalhadores bancários não sindicalizados"

Saúde com perturbações 

Nas unidades do Serviço Nacional de Saúde, há serviços mínimos garantidos, mas é provável que haja "grandes perturbações" nas consultas e nas cirurgias programadas, antecipa Paulo Taborda, da Federação Nacional dos Sindicatos da Função Pública, que representa o pessoal auxiliar e administrativo, além dos técnicos de diagnóstico e terapêutica. 
Apesar de sublinhar que os enfermeiros têm "fortíssimas razões para aderir à greve", José Carlos Martins, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, é mais cauteloso. "Só no próprio dia" será possível ter uma ideia do nível de adesão, prevê o dirigente sindical, que nota que "há várias razões subjetivas" para que alguns profissionais não façam greve, sobretudo porque isso significa a "perda de um dia de trabalho" numa altura em que se confrontam com dificuldades financeiras. 
A Federação Nacional dos Médicos, que também aderiu à greve, esclareceu que os trabalhadores devem garantir os serviços mínimos e a prestação de vários atos, nomeadamente quimioterapia e radioterapia, diálise, urgência interna e cuidados paliativos em internamento.

Setúbal, Barreiro, Corroios, Sines e Lisboa com concentrações da CGTP

CGTP irá fazer concentrações em várias cidades 



As estruturas sindicais da CGTP promovem amanhã 38 concentrações em 38 localidades do país para dar possibilidade aos trabalhadores, desempregados e pensionistas de mostrar nas ruas o protesto que levou à marcação da greve geral.
Sines, Évora, Torres Novas, Ovar e Castelo Branco são algumas das cidades onde vão realizar-se concentrações. Em Lisboa, Corroios, Setúbal, Barreiro, Coimbra, Leiria e Funchal as concentrações serão seguidas de desfiles.
A manifestação de Lisboa sairá do Rossio para a Assembleia da Republica ao início da tarde de quinta-feira.
Só na última greve geral, em novembro de 2011, foram convocadas ações de rua para o mesmo dia da paralisação, em resposta a reivindicações dos trabalhadores.
O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos disse à agência Lusa que a "experiência de novembro correu bem, por isso decidiram promover de novo concentrações para do dia da greve".
"É também uma forma de permitir a participação neste protesto a quem não está no mercado de trabalho, como os desempregados, os pensionistas e até os micro e pequenos empresários", disse o sindicalista.
Desta vez a UGT não se junta ao protesto, ao contrário do que aconteceu a 24 de novembro de 2011 e de 2010, porque a central sindical liderada por João Proença assinou o acordo para a Competitividade, Crescimento e Emprego que está na origem da revisão da legislação laboral.

PSP preparada para conflitos 

PSP quer evitar confrontos com grevistas 

A PSP preparou um dispositivo policial para acompanhar a greve geral adiantou Paulo Flor, acrescentando que a operação tem “como base as anteriores [greves], nomeadamente a última de 2011” e “considerando o atual momento do país”.
O porta-voz da Polícia de Segurança Pública esclareceu que na preparação para a greve geral desta semana, “perspetivou os cenários que podem ser equacionados durante o dia de amanhã”, incluindo o de eventuais conflitos.
Debaixo de “especial atenção” da PSP vão estar os locais onde “afluirão mais pessoas em razão dos transportes públicos que utilizarão, das manifestações públicas onde tomarão parte e dos conflitos que possam ser resolvidos com a presença da polícia”.
Paulo Flor explicou também que os recursos humanos e materiais envolvidos na operação de acompanhamento da greve geral “serão utilizados de forma gradual e em função do grau de conflitualidade ou de movimentação de pessoas”, tendo em conta “os níveis de ameaça e a avaliação permanente do risco”.
O porta-voz da PSP disse esperar que a paralisação de amanhã seja “a manifestação de um direito livre, ordeiro e pacífico”.
Na greve geral de 24 de novembro alguns manifestantes tentaram, durante o protesto que decorreu em frente à Assembleia da República, subir as escadarias do edifício, o que motivou intervenção policial e resultou em sete detidos e um agente ferido.

Paulo Jorge Oliveira 

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