Em Reportagem: Setúbal debateu cães abandonados

PS queria campanha de sensibilização para animais abandonados. CDU acha que não

A matilha de cães em estado semi-selvagem, continua sem controlo e sem solução na Serra da Arrábida. O caso já encheu páginas de jornais, apontamentos televisivos, fóruns de internet e uma queixa no Tribunal de Almada, pelo Clube da Arrábida contra a “apatia” da Câmara e da Direcção Geral de Veterinária em resolver um caso “de saúde pública”. Na última reunião de Câmara, em Setúbal, o PS local apelou ao executivo da CDU para lançar campanhas de sensibilização, à população setubalense, centradas na temática do abandono de animais domésticos e na alimentação destes quando já estão abandonados. António Caracol, vereador socialista na autarquia, admite que “a partir destas campanhas se pode encontrar a forma para combater a proliferação de animais abandonados pela cidade e na Serra da Arrábida”. O executivo reprovou a ideia socialista por considera-la “irrealista e inaceitável”.

PS defendia campanha de sensibilização contra animais abandonados


“Existem vários focos de animais abandonados por toda a cidade”, afirma António Caracol, acrescentando que a autarquia “poderia criar uma coima para aquelas pessoas que persistem na alimentação destes animais”.
A ideia não ganhou “raízes” entre a ala comunista que gere a autarquia. Manuel Pisco, vereador do ambiente na autarquia setubalense entende que esta medida seria “irrealista e inaceitável porque as pessoas que providenciam comida aos animais abandonados normalmente são idosos que durante a vida inteira o fizeram e dispensam uma considerável quantia da reforma para esse fim”.
Para o titular da pasta do ambiente, “não é compreensível que se imponha uma coima a um idoso que alimente pombos, gatos ou cães abandonados porque certamente isso não os impediria de continuar a fazê-lo”, garante Manuel Pisco adiantando que “quando se tenta alertar os munícipes que alimentam os pombos na Praça do Bocage para não o fazerem, estes não demonstram qualquer compreensão”.

Problema na Arrábida não é grave
Problema não se resolve através de multas, diz Dores Meira 

Sobre os cães abandonados na Arrábida, diz Manuel Pisco, “não é problema assim tão grave, uma vez que não existe transmissão de doenças nem ataques pessoais” e que há em “muitas outras zonas do país casos desta natureza, com um número muito maior de animais”. No entanto, disse que o problema “ainda não está resolvido” e que a resolução do mesmo “tem muito mais a ver com o comportamento das pessoas, do que dos animais”, referindo que são as pessoas que “alimentam os animais, destroem as jaulas que são colocadas para a sua captura” e que “naquilo que é a competência directa do município, que é a captura dos animais na via pública, a situação na cidade não está, de forma alguma, fora de controle”, diz o vereador. 
Na Arrábida, lembra Pisco, é um espaço “devidamente protegido, limitado e cuja vigilância compete à entidade titular que é o ICN [Instituto de Conservação da Natureza] a quem compete a vigilância - que é o principal problema - através da qual permite controlar os alimentadores e as pessoas que levam para lá os animais”, acrescentando que a câmara “não tem meios para ir agora arranjar vigilantes da natureza, substituir-se ao Parque para controlar a situação”.

Autarquia não devia esquecer o assunto

A presidente da Câmara de Setúbal, reforça a ideia do seu vereador e afirma que “o assunto não pode ser tratado através da imposição de multas”. De acordo com Maria das Dores Meira, “o tema da alimentação de animais abandonados na cidade de Setúbal tem de ser visto a partir do ponto de vista da sensibilidade do ser humano em vez de ser encarado como uma simples contra ordenação”.
A terminar o debate, o autarca socialista contou que “a autarquia não se pode esquecer que o assunto dos animais abandonados também é de saúde e segurança pública”, pelo que “não pode ser esquecido nem relegado para outras autoridades”, concluiu António Caracol.

Dos seis aos 100… em dez anos
Laurentina Pedroso diz que problema começou dentro da cidade 


No final de Novembro, o Clube da Arrábida dizia que havia cerca de cem cães a lançar o medo entre os habitantes da Serra da Arrábida. De acordo com as gentes que moram na serra, o problema apareceu há 10 anos com o aparecimento de seis cães. Em 2009 eram 40 e agora, segundo moradores, serão uma centena. 
Estes cães, dizia na altura Pedro Viera do Clube da Arrábida, “actuam em matilha, têm contribuído de uma forma significativa para o declínio de espécies naturais em toda a Serra da Arrábida tais como coelhos, raposas e ginetes, uma vez que os cães são predadores no topo da cadeia alimentar e que, como tal, não tem controlo natural", aumentado também o grau de risco para o homem. Quer a nível de ataques quer a nível de doenças. O problema da “multiplicação” dos cães da Arrábida arrasta-se há 10 anos.
No entender da Bastonária da Ordem dos Médicos Veterinários esta é uma “situação dramática que temos no país com milhares de animais abandonados anualmente, que vão procurar refúgio para sobreviverem. Estes cães fugiram para a serra porque foram abandonados na cidade. Depois facilmente se reproduziram, proliferando. É fácil passarem de seis para uma centena”, diz Lautentina Pedroso que defende  que terá de ser  “um veterinário a tratar da captura, através do uso de armas próprias”.

Paulo Jorge Oliveira 

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