Em Reportagem: O fim da Euronavy

Euronavy deixa 50 pessoas sem emprego…

Esta é a notícia que nenhum jornalista gosta de escrever e, tão pouco, é uma notícia que qualquer leitor goste de ler. Mas é real. Às portas do Natal, cerca de 50 trabalhadores vão ficar sem emprego, no concelho de Setúbal. Sem que nada fizesse prever, a Euronavy fez uma circular a avisar do seu encerramento. O que pode acontecer já esta sexta-feira.

Marinha dos EUA era um dos clientes da fábrica de Setúbal 

Estalou a tinta da Euronavy. É o que se pode dizer da situação daquela que parecia ser uma empresa sólida. Fundada em 1981 e a operar, a nível mundial, a partir de 1993, a Euronavy era uma das empresas de maior sucesso da península de Setúbal e uma referência na área de tintas e revestimentos anti-corrosão tendo, inclusive, apostado na área da investigação através da qual foram encontradas uma série de soluções inovadoras, todas elas comprovadas e certificadas.
Sobre a empresa sabe-se que tinha uma apreciável carteira de clientes, na Europa, América do Norte, América do Sul ou Ásia e parecia ser uma empresa capaz de resistir aos tempos de crise. Afinal, a empresa de Setúbal, estava na vanguarda tecnológica do mercado de tintas para protecção anticorrosiva, Mário Paiva, Presidente da Euronavy, sempre apostou no mercado internacional e no desenvolvimento de um produto de referência, a tinta ES301, que permitiu à empresa dar o salto para áreas tão exigentes como a naval e o off-shore (plataformas petrolíferas). De salientar que os barcos da marinha de guerra dos Estados Unidos (US Navy) são pintados com uma tinta única no mundo desenvolvida pela Euronavy. Presente nos quatro cantos do mundo, para além da marinha norte-americana, a empresa conta com uma série de outros clientes, entre eles, a Petrobras, a Transpetro, a British Petroleum, e Pemex. A empresa fornece ainda a National Iranian Tanker, companhia de transporte de combustíveis iraniana. Outro cliente de referência é os estaleiros de Singapura, onde são construídos grandes navios e é feita a reparação e transformação naval.
E há um ano atrás a empresa tinha motivos para sorrir. A exportação de tintas industriais registava uma subida de 25 por cento sendo expectável que, só as exportações da Euronavy e de outra multinacional da mesma área a operar no distrito, a Hempel, em Palmela, fechassem o ano nos 120 milhões, uma vez que eram as duas empresas que mais exportavam a nível mundial.

Ordem para fechar…

No entanto, alguma coisa mudou e a notícia que ninguém queria ouvir ecoou pela fábrica sem que nada o fizesse prever: os cerca de 50 trabalhadores da Euronavy foram informados do encerramento daquela empresa, o que deverá acontecer, definitivamente, já esta próxima sexta-feira ou, no máximo, até ao Natal.
Tal como noutras fábricas, os funcionários viram-se, de um momento para o outro, completamente desorientados e muitos deles (alguns dos quais há 30 anos na empresa) sem idade para poder competir no mercado de trabalho, muito embora com uma vasta experiência naquela área.
Ao que o ADN conseguiu apurar – mas não confirmar oficialmente, já que da parte da administração não houve qualquer explicação para o assunto – perante o cenário de fecho, o antigo proprietário da empresa terá posto uma providência cautelar, através da qual foi pedido o arresto dos bens da empresa, no valor de cerca de 800 mil euros. As contas foram congeladas e foi definida a proibição de sair qualquer bem das instalações.
No entanto, durante dias, camiões da EGEO procederam à recolha de grande quantidade de paletes de diversos tipos de recipientes (metálico e plástico) novos, que se destinavam ao armazenamento de tintas, tudo isto perante trabalhadores que viam os seus postos de trabalho serem rapidamente esvaziados e extintos.

De referência a… desempregadora

A própria empresa apresenta-se (no seu site oficial) como tendo a sua actividade baseada na competitividade, apostando na investigação e desenvolvimento, produzindo e comercializando uma gama completa de tintas e revestimentos para várias aplicações. Em entrevista ao DN em 2006, Mário Paiva dizia que a empresa estava em fase de crescimento e que existem projectos para a sua expansão. Tendo adquiro, nesse ano, um terreno adjacente à fábrica, num total de 46 mil metros quadrados, destinado à instalação de armazéns e ao alargamento da área industrial. A empresa afecta anualmente 20 por cento da sua facturação para investigação e investimento.
Relativamente a aposta feita nas áreas da investigação e do desenvolvimento, salienta a própria Euronavy que “atinge o limiar do século XXI com uma série de soluções inovadoras para oferecer, já comprovadas e certificadas”, soluções essas que “são colocadas ao serviço dos nossos clientes graças a uma capacidade produtiva e comercial talhada para o servir, com os mesmos padrões de excelência que alcançámos com os nossos produtos”.
E é exactamente essa capacidade produtiva e comercial, com “padrões de excelência” que fica, a partir de hoje, no desemprego e sem perspectivas de futuro, engrossando o número do desemprego do distrito de Setúbal. Para eles, o Natal de 2011 não representa nem paz nem solidariedade. Na Estrada do Vale de Mulatas, na Quinta de São Francisco, na zona industrial de Setúbal vai passar a haver a cor do silêncio e o negro de mais uma fábrica encerrada…

Agência de Notícias 

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