Falta pensar nas cidades

Nós e as Cidades by Miguel Macedo
Falta pensar nas cidades

A cidade (ou as vilas) tarda a adaptar-se a esta realidade que chega em força com o século XXI. Nos centros históricos as casas são antigas sem recuperação efectiva. Não basta pintar as fachadas. Não há isolamentos ou elevadores, isto é, conforto e mobilidade. Não atrai os novos e torna a vida difícil aos mais velhos.
A forma como os espaços interiores se organizam não corresponde às actuais necessidades. Divisões muito pequenas, algumas interiores, instalações sanitárias desajustadas (ou ainda em alguns casos inexistentes), são formas que já não cumprem as funções satisfatoriamente.

No exterior faltam jardins para convívio de proximidade. Se retirarmos as ruas, as implantações das casas e os estacionamentos pouco sobra de espaço intersticial para estadia das pessoas.
Nas periferias também se sofre a falta de urbanidade. Os espaços públicos são negligenciados, as grandes distribuidoras de tráfego provocam ruído e poluição, os equipamentos são deficitários. A estrutura urbana não resulta, em grande parte dos casos, dum acto de planeamento. É antes um somatório de loteamentos onde a ganância de alguns agentes por metros quadrados de construção para vender supera muitas vezes os limites do aceitável.
A construção nova apresenta qualidade duvidosa e constitui-se em bairros muito rapidamente deteriorados onde o vandalismo, o comportamento anti-social de deitar lixo para o chão e fazer graffiti se tornou numa evidência do quotidiano.
Rui Rio, António Costa, Maria das Dores Meira ou Carlos Encarnação (presidentes das câmaras do Porto, Lisboa, Setúbal e Coimbra) tem toda a razão. É absolutamente inaceitável que a propriedade alheia e o espaço público sejam constantemente vandalizados por graffitis que só servem para dar uma imagem degradada das nossas cidades a quem as visita. A incapacidade do Estado em reprimir estes actos de vandalismo é um sinal claro da decadência da sociedade em que vivemos. Para quando uma política de tolerância zero em relação aos graffitis?
Esta forma de evolução da maioria das periferias das nossas cidades contribui para a proliferação da segregação social. No centro ou nas periferias em degradação a exclusão instalou-se. Sem ser de filiado em nenhum partido, considero a criação de um programa nacional de reabilitação urbana e de eficiência energética, como vem defendendo o Bloco de Esquerda, faz tudo o sentido.
A recuperação criteriosa mas urgente destas áreas do tecido urbano teria certamente um efeito benéfico nas pessoas que nelas habitam e trabalham.
A dotação de equipamentos sociais, culturais e de lazer nos bairros periféricos conferir-lhes-ia uma centralidade que contribuiria para o sentido de pertença das pessoas. Este sentimento sairá reforçado se juntarmos uma rede de transportes públicos e capacidade de emprego nas proximidades.
Uma atitude certa de planeamento conduzida pelas entidades públicas pode imprimir uma dinâmica de mudança e promover a inclusão que trará um contributo indispensável para a harmonia das nossas cidades. 


Miguel Macedo
Estudante de Arquitectura
Montijo 


(Nós e as Cidades é uma rubrica de Miguel Macedo, sobre urbanismo,  mobilidade e bem-estar, que será publicado às quintas-feiras,quinzenalmente)



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