Pensar na mobilidade a sério


Nós e as cidades - by Miguel Macedo


Pensar na mobilidade a sério

A mobilidade dentro das cidades está cada vez mais condicionada e difícil. Ruas carregadas de trânsito, automóveis mal estacionados, excesso de estacionamento condicionado, condutores mal-educados e mal preparados e uma forte sensação de impunidade. As asneiras em condução são cada vez mais e mais graves. 
São frequentes os carros estacionados em fila dupla e estacionados em sentido contrário. Tudo acontece num ambiente de impunidade total. Nem se pede desculpa pelos incómodos e sustos provocados. Falta disciplina do trânsito, constata-se uma ausência total de respeito pelas regras do código e da condução.


Quanto aos autocarros, mantêm as dimensões e características que possuíam na década de 60. Lugares sentados e lugares de pé. Geralmente têm capacidade para um maior número de passageiros a pé do que sentados. Passados 50 anos, evolui-se muito pouco nos transportes públicos de passageiros. Transportam-se passageiros como de simples carga amorfa se tratasse. Muitas vezes ainda em piores condições de acondicionamento e de segurança. Com o Governo a anunciar um corte drástico nos transportes públicos [principalmente na grande Lisboa e Porto] é de temer que o carro volte em força ao coração da cidade.
As ruas do interior das cidades são as mesmas que existiam na década de setenta, não aumentaram e muitas vezes nem sequer foram adaptadas às novas exigências. Ruas com estacionamento nos dois lados da faixa de rodagem e ainda com duplo sentido. Muitas ruas, estão ainda organizadas para um tempo, em que os automóveis eram ainda em número limitado. 
Aumentaram-se as vias rápidas de acesso às cidades, contudo muito pouco se fez no domínio das acessibilidades e mobilidade dentro das cidades e das vilas. E até os pequenos lugares – junto às estradas nacionais e municipais – são um caos e um perigo iminente de acidente. É urgente estudar os fluxos de trânsito e criar uma circulação mais amiga dos utentes da cidade. Uma circulação mais amiga dos utentes que se desloca a pé, dos utentes que preferem as bicicletas, dos que preferem os transportes públicos e por ai em diante.  


A criação de uma rede de parques de estacionamento gratuito, bem localizados, pode ajudar a desenvolver um novo conceito de mobilidade nos centros históricos. Parques de estacionamento equipados com uma estação de serviço, restaurante, parque infantil, cabeleireiro, centro de reparações, com boa iluminação e limpeza e devidamente policiado. Uma boa ligação ao centro da cidade por uma rede de pequenos autocarros de transporte público e de custo simbólico, trará mais conforto e dinâmica à cidade. O sistema de bicicletas de uso fácil motivará também mais aderentes. Não basta anunciar clicovias que, na prática, não servem para nada.
A mobilidade é um tema que vai exigir decisões arrojadas e bem pensadas. Todos sairemos a ganhar. Uma cidade de fácil mobilidade é mais apetecida e gera mais conforto aos seus cidadãos e aos visitantes.
A mobilidade nas cidades é um desafio que é necessário enfrentar sem branduras. 
As camionetas transformadas em autocarros de passageiros já não são aceitáveis nas cidades do futuro. Transportar o cidadão do futuro requer mais atenções com a segurança, com o conforto e a disponibilidade. É essencial o respeito pelo ambiente e praticar horários flexíveis e ajustados em função das necessidades.
 
A gestão de transportes públicos de passageiros tem de considerar os novos conceitos da era moderna. A gestão de eventos nas cidades terá de estar interligada com o sistema de transportes públicos. Todos ganharemos com as mudanças que se podem introduzir gradual e progressivamente ao nível das acessibilidades e mobilidade no centro histórico. Mas, pergunto eu – e penso que todos nós – haverá vontade política [central e local] para pensar a mobilidade dentro das localidades?




Miguel Macedo
Estudante de Arquitectura
Montijo 


(Nós e as Cidades é uma rubrica de Miguel Macedo, sobre urbanismo,  mobilidade e bem-estar, que será publicado às quintas-feiras, quinzenalmente)



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