Morte de idosos em Fernão Ferro gera troca de acusações entre associação e poder local

Tempestade Cláudia acende conflito entre associação de proteção civil e autarquias do Seixal

A Câmara do Seixal e a Junta de Freguesia de Fernão Ferro reagiram este sábado às críticas da Associação de Proteção Civil, acusando-a de "difamar" e "denegrir" o trabalho das autarquias após estas terem sido apontadas como responsáveis pela morte de dois idosos durante as cheias provocadas pela depressão Cláudia.
Chuvas intensas alargaram casa onde vivia o casal durante a noite

As autarquias afirmam que, num período marcado por perdas humanas e danos materiais provocados pela tempestade Cláudia, é "lamentável" que surjam entidades dispostas a "difamar" quem tem estado "diariamente no terreno a trabalhar em prol dos seus munícipes". 
A posição foi expressa numa nota enviada às redações, onde é sublinhado que as causas do sucedido "ainda não foram apuradas", motivo pelo qual consideram irresponsáveis as declarações da associação.

Associação de Proteção Civil aponta omissões e responsabiliza autarquias
Na sexta-feira, a Associação de Proteção Civil divulgou um comunicado onde afirma estar convicta de que a morte dos dois idosos em Fernão Ferro teve como principais responsáveis o executivo municipal do Seixal e a junta local. A entidade sustenta que ambas devem ser julgadas "por omissões grosseiras", alegando existir "inércia e inépcia" no âmbito do ordenamento do território que permitiu a existência de uma habitação em zona de risco, "aparentemente sem avaliação geotécnica e hidrológica".
A associação acusa ainda o município de falhar competências consideradas essenciais, como a prevenção de riscos coletivos, a análise contínua das vulnerabilidades perante fenómenos extremos e a divulgação de medidas de autoproteção. Também aponta que, perante a iminência de acidentes graves, não foram difundidas orientações adequadas para a população.
 
Autarquias agradecem aos operacionais e reafirmam solidariedade
Em resposta, a Câmara do Seixal e a Junta de Fernão Ferro reforçam o pesar pela morte do casal, ambos com  mais de 88 anos, encontrado sem vida na quinta-feira em Pinhal de General após a casa ter ficado totalmente inundada. As autarquias agradecem igualmente o empenho das forças de segurança, bombeiros e proteção civil, destacando que, face a uma tempestade de efeitos "muito graves", estas equipas deram "a melhor resposta possível" às muitas ocorrências registadas.

Casa estava numa AUGI e junto a linha de água, diz presidente da Câmara
O presidente da Câmara do Seixal esclareceu publicamente que a habitação onde o casal vivia tinha sido construída "clandestinamente, sem qualquer licenciamento camarário", numa Área Urbana de Génese Ilegal (AUGI) situada junto a uma linha de água.
Segundo Paulo Silva, está em curso o processo para dotar a área das infraestruturas necessárias e regularizar as linhas de água. A AUGI do Pinhal do General é a maior do concelho e uma das maiores do país, somando cerca de três mil lotes e estando já identificada na cartografia de riscos. As casas existem ali há mais de 40 anos. 
 
Cheias no Seixal entre quedas de árvores, inundações e vias cortadas

O distrito de Setúbal esteve na quinta-feira sob alerta vermelho devido à depressão Cláudia, que desde quarta-feira tem atingido o território continental e a Madeira com precipitação intensa, trovoada e granizo. A tempestade já provocou três mortos, danos avaliados em cerca de três milhões de euros e quedas de diversas estruturas.
No concelho do Seixal, a chuva forte gerou múltiplas ocorrências, entre as quais quedas de árvores, inundações em habitações e vias públicas e o corte da Estrada Nacional 378.
A depressão Cláudia deverá abandonar o território português este domingo. A chuva irá diminuir e o frio passará a marcar os próximos dias.


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