Palmela em suspense: CDU segura o poder, mas perde terreno nas freguesias

CDU mantém presidência por margem mínima e Ana Teresa Vicente regressa à Câmara 12 anos depois

Foi uma noite de nervos em Palmela. As urnas fecharam, os votos contaram-se e a sensação final ficou suspensa no ar: todos ganharam ou todos perderam? O concelho, tradicional bastião comunista, manteve-se vermelho - mas por uma unha negra. A CDU (PCP-PEV) segurou a presidência da Câmara Municipal, com Ana Teresa Vicente a regressar ao poder 12 anos depois. No entanto, o mapa político local mudou profundamente.
Ana Teresa Vicente regressa à presidência da Câmara 12 anos depois

A CDU conquistou 27,38% dos votos (8 405 sufrágios), garantindo a presidência e três mandatos no executivo. O Chega ficou a escassos 183 votos de distância, com 26,79% (8 222 votos) e também três mandatos. O PS seguiu de perto com 25,31% (7 769 votos), elegendo dois vereadores.
A coligação PSD/CDS assegurou 13,73% (4 216 votos) e um mandato. Já o Bloco de Esquerda (2,07%) e o ADN (1,25%) ficaram fora do executivo. No total, a Câmara Municipal de Palmela contará com nove mandatos: três da CDU, três do Chega, dois do PS e um da coligação PSD/CDS.
Com uma participação de 51% dos eleitores inscritos, o concelho revelou um envolvimento moderado, mas um resultado politicamente sísmico. A CDU continua à frente mas já não domina.

Todos ganharam… ou todos perderam?
Palmela acordou com um tabuleiro político reinventado. A CDU mantém a presidência, mas perde a gestão de três freguesias emblemáticas - Pinhal Novo, Poceirão/Marateca e Quinta do Anjo -, símbolos do seu histórico domínio local.
O Chega, por sua vez, quase surpreendeu: conquistou duas juntas de freguesia e venceu a Assembleia Municipal, impondo-se como a segunda força política do concelho. Já o PS, apesar de não ter alcançado a Câmara, fez história ao vencer a principal junta do concelho - Pinhal Novo -, onde João Estroia destronou o recandidato comunista Carlos Almeida.
No final, ninguém saiu verdadeiramente derrotado, mas também ninguém celebrou em pleno. Palmela dividiu o seu poder e transformou-se num campo de ensaio da nova política portuguesa.

Negociar será obrigatório
Sem maioria absoluta, Ana Teresa Vicente terá de navegar num mandato exigente, feito de acordos e entendimentos pontuais. O PS surge como o parceiro mais provável, mas o equilíbrio de forças promete uma governação de diálogo constante.
Na Assembleia Municipal, o Chega lidera com 8 365 votos, seguido do PS (7 827) e da CDU (7 710). O resultado traduz-se em oito mandatos para o Chega e o PS, sete para a CDU e quatro para a coligação PSD/CDS. O Bloco de Esquerda desapareceu do mapa autárquico local.

Juntas de freguesia: o xadrez do poder local
O novo mapa político confirma uma redistribuição inédita do poder. Na Quinta do Anjo, a CDU perdeu por apenas 15 votos para Nuno Valente do Chega. No Pinhal Novo, o PS tomou a liderança da freguesia mais populosa do concelho. E o Chega conquistou ainda o Poceirão e Marateca, até agora governadas pelos comunistas.
Palmela, que durante décadas foi uma das fortalezas mais seguras da CDU, torna-se agora um laboratório político nacional - onde a esquerda resiste, a direita avança e o centro procura o seu espaço.
No balanço final, Palmela mantém-se vermelha - mas a cor já perdeu brilho. Cada voto contou, e a chama comunista já não arde com a mesma força. O concelho vive um momento de transição: entre tradição e mudança, entre fidelidade ideológica e desejo de renovação. A próxima batalha começa agora.

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