Moita ataca cartazes de Ventura e denuncia mensagens “racistas” e "xenófobas"

"Os ciganos têm de cumprir a lei, mas... os elementos do Chega também"

A aparição de vários cartazes da candidatura de André Ventura à Presidência da República, com mensagens consideradas discriminatórias, está a provocar forte indignação na Moita. O presidente da Câmara da Moita, Carlos Albino, classifica os conteúdos como "xenófobos" e "racistas", e defende que o Ministério Público deve agir. "A lei é para todos, a começar por André Ventura", acrescentou, lembrando que discursos que incitem discriminação configuram crime.
Outdoors de grande dimensão motivam críticas na Moita


Durante o fim de semana, surgiram em diferentes pontos da Moita e do Montijo outdoors de grandes dimensões associados à pré-campanha presidencial de André Ventura. Entre as frases exibidas lê-se "Isto não é o Bangladesh" e "Os ciganos têm de cumprir a lei". Um destes cartazes encontra-se junto à piscina municipal da Moita, confirmou Carlos Albino em declarações à rádio TSF.
O autarca denuncia que estas mensagens representam uma violação do princípio da não discriminação e reforçam estigmas dirigidos a comunidades específicas. "Existem cartazes deste tipo espalhados um pouco por todo o concelho e em várias localidades, com mensagens atentatórias àquilo que é a lei, de não discriminação", afirmou.

“A lei é para todos”, afirma o presidente da Câmara
Carlos Albino sublinha que não existe qualquer legitimidade para destacar etnias ou grupos concretos como alvo de responsabilização. "Quando se fala que certas pessoas têm de cumprir a lei, todos temos de cumprir a lei, sejamos alentejanos, beirões, lisboetas, alfacinhas, moitenses. A lei é para todos cumprirem, não é só para um determinado grupo. Os ciganos têm de cumprir a lei, mas não são só os ciganos, os elementos do Chega também", reforçou.
Para o presidente da Câmara, a postura assumida por Ventura divide o espaço público quando deveria promover união. "A lei é para todos, a começar por André Ventura", acrescentou, lembrando que discursos que incitem discriminação configuram crime.

Ministério Público chamado a avaliar o caso
Embora a autarquia não pretenda avançar com queixa formal, Carlos Albino considera que existem fundamentos suficientes para que o Ministério Público intervenha. "Os atos ali praticados estão no espaço público, são públicos, têm enquadramento legal e deverá ser o Ministério Público e outras entidades a avaliar", defendeu. O autarca acredita que a notoriedade e visibilidade dos cartazes justificam apuramento imediato de responsabilidades: "Xenofobia é crime, racismo é crime, e isto não pode ficar impune". 
A polémica já atravessou fronteiras diplomáticas. A embaixada do Bangladesh em Lisboa reagiu à frase presente num dos outdoors, apelando à calma da comunidade e garantindo que “as entidades apropriadas estão a ser contactadas sobre o assunto”, segundo mensagem publicada nas redes sociais.
Esta controvérsia emerge num período em que o Chega intensifica a presença de André Ventura no terreno, num contexto de comunicação política que se tem destacado por mensagens duras [e a maioria baseada na mentira e na desinformação] sobre imigração e minorias étnicas.

Leis portuguesas contra a discriminação 
Portugal possui um enquadramento jurídico sólido no combate ao racismo, à xenofobia e a todas as formas de discriminação. A Constituição da República Portuguesa estabelece o princípio da igualdade e proíbe qualquer ato de segregação ou estigmatização com base na origem étnica ou nacionalidade. Entre os instrumentos legais mais relevantes encontra-se a Lei n.º 93/2017, que reforça o combate à discriminação racial e de origem. 
As vítimas de discriminação podem apresentar queixa formal junto das autoridades policiais ou recorrer à Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial, garantindo que estes crimes não ficam impunes. Esta rede de proteção legal procura assegurar que qualquer cidadão, independentemente das suas raízes, seja tratado com dignidade, respeito e igualdade perante a lei.

Comentários