Mortalidade infantil no Barreiro, Montijo e Moita é o dobro da média nacional

Resposta pode estar na gravidez não acompanhada e no estilo de vida mas faltam estudos 

Os concelhos do Barreiro, Montijo e Moita, na península de Setúbal, registaram em 2023 taxas de mortalidade infantil superiores ao dobro da média nacional. Segundo os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística, a taxa de mortalidade infantil no Barreiro e no Montijo foi de 6,1 óbitos por cada mil nascimentos, enquanto na Moita atingiu os 5,2 casos. Estes valores contrastam com a média nacional do mesmo ano, que se situou nos 2,5 óbitos por mil nados-vivos, noticia o Público.
Falta de acompanhamento pré-natal pode estar entre as causas

Estes três municípios pertencem à Unidade Local de Saúde do Arco Ribeirinho, que inclui também Alcochete. No entanto, como não se registou qualquer óbito infantil em Alcochete, a taxa média da Unidade Local de Saúde ficou fixada em 5,4 mortes por cada mil nascimentos com vida.
A elevada taxa de mortalidade infantil na península de Setúbal, em particular nestes três concelhos, foi destacada por Carlos Cortes, bastonário da Ordem dos Médicos, na Comissão de Saúde do Parlamento a 22 de Janeiro. 
A região já vinha a registar um aumento desta taxa nos últimos anos, passando de 2,7 óbitos por mil nados-vivos em 2021 para 3,1 em 2022. Em 2023, a taxa voltou a subir, atingindo os 3,7 casos por mil nascimentos, um valor acima da média europeia (3,2) e significativamente superior à taxa nacional.
A situação registada na Unidade Local de Saúde do Arco Ribeirinho contrasta com outras regiões da península de Setúbal. A Unidade Local de Saúde de Almada-Seixal registou uma taxa de 3,3 mortes por mil nascimentos, com um total de 12 óbitos em mais de 2.600 nados-vivos. 
Já a Unidade Local de Saúde da Arrábida, que inclui concelhos de Setúbal, Sesimbra e Palmela, registou cinco óbitos em mais de 2.100 nascimentos, resultando numa taxa de 2,4 por mil nados-vivos.
Carlos Cortes sublinha a necessidade de uma investigação aprofundada sobre estas disparidades: “Essas diferenças regionais devem preocupar e têm de ser analisadas”. O bastonário revelou ainda que a Ordem dos Médicos já solicitou à Direção-Geral da Saúde (DGS) a criação de uma comissão permanente para estudar a mortalidade infantil.
A DGS reconhece que existem desigualdades regionais, mas os dados oficiais mais recentes disponíveis referem-se ao período entre 2017 e 2021. No relatório desse período, a autoridade de saúde já apontava que a Área Metropolitana de Lisboa – que inclui a península de Setúbal – registava uma taxa de mortalidade infantil superior à média nacional: três óbitos por mil nascimentos, contra 2,4 a nível nacional. 
No entanto, o documento não explica as causas destas disparidades, apenas referindo que “a prevenção da mortalidade evitável deverá ser uma prioridade”.

Gravidezes não acompanhadas e condições socioeconómicas
Impacto da elevada taxa de mortalidade infantil reflete-se nas famílias
Entre os possíveis fatores que explicam o aumento da mortalidade infantil em algumas regiões do país está a percentagem de gravidezes não vigiadas.
O bastonário da Ordem dos Médicos considerou “prematuro” tirar conclusões definitivas sobre a relação entre a mortalidade infantil e as dificuldades no SNS, mas admitiu que “a falta de médicos de família, a dificuldade na resposta de ginecologia e obstetrícia, e as características da população” podem ter impacto nos números.
Manuel Pizarro, ex-ministro da Saúde, também abordou o tema na Comissão de Saúde, salientando que há fatores que complicam o combate à mortalidade infantil, como “a idade das mães no nascimento do primeiro filho, o aumento de partos acima dos 40 anos e o número crescente de partos de mulheres de nacionalidade não portuguesa que não são acompanhadas”.
Bernardo Gomes, presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, considera que os números da mortalidade infantil na península de Setúbal são “sinais de alerta”, mas não necessariamente “de alarme”. Para o especialista, os problemas de acesso ao SNS podem ser um dos fatores a considerar, mas alerta para a existência de outras variáveis, como as condições socioeconómicas da população. “Uma má condição habitacional ou uma fraca qualidade da alimentação podem ter impacto”, afirmou o dirigente ao jornal Público.

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