Encerramento da Urgência de Obstetrícia no Barreiro alerta comunidade

Governo junta urgências obstétricas e faz nascer Centro Materno-Infantil da Península de Setúbal que ninguém quer 

A possível desativação da urgência de obstetrícia no Hospital do Barreiro está a gerar preocupação entre autarcas e utentes, que temem um agravamento nos cuidados de saúde materno-infantis na região. O presidente da Câmara do Barreiro, Frederico Rosa, manifestou recentemente a sua apreensão face à intenção do Governo de encerrar, de forma definitiva, a urgência de obstetrícia no Hospital de Nossa Senhora do Rosário. Esta medida prevê a centralização dos atendimentos no Hospital Garcia de Orta, em Almada, concentrando aí toda a atividade diferenciada e a urgência obstétrica.
Hospital enfrenta possível encerramento da urgência de obstetrícia

"Esta decisão não resolve o verdadeiro problema, que é a falta de recursos humanos e a necessidade de valorizar os profissionais de saúde na Península de Setúbal", afirmou o autarca. Frederico Rosa, juntamente com outros líderes municipais da área de influência do hospital, solicitou uma reunião urgente com a ministra da Saúde para discutir soluções que garantam melhores cuidados de saúde à população.
Os deputados do PSD eleitos pelo distrito de Setúbal pediram uma reunião urgente à ministra da Saúde, Ana Paula Martins, sobre a possibilidade de encerramento da maternidade do Hospital do Barreiro, defendendo que essa "não pode ser solução".
De acordo com informações divulgadas, o plano de reestruturação prevê que o Hospital do Barreiro continue a oferecer serviços como acompanhamento pré-natal, realização de exames e a realização de alguns partos programados. Entretanto, o Hospital Garcia de Orta, em Almada, assumirá a responsabilidade por toda a atividade diferenciada e pela urgência obstétrica.
A centralização dos serviços obstétricos no Garcia de Orta é justificada pela sua capacidade para lidar com casos de grande prematuridade. Contudo, esta estratégia implicará mudanças nas administrações hospitalares. 
Fontes próximas do processo indicam que os atuais responsáveis pelos hospitais de Almada e Barreiro serão substituídos, embora ainda não tenham sido formalmente informados da decisão.

Mortalidade infantil em alta na região que engloba o hospital 
Comunidade manifesta-se contra o fecho de serviços essenciais de saúde
A Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Barreiro também expressou a sua discordância, especialmente após investimentos recentes nas instalações da unidade hospitalar. Antonieta Bodziony, representante da comissão, destacou: "Transformar o hospital do Barreiro num centro de saúde é um retrocesso. A mortalidade infantil na Península de Setúbal é superior à média nacional. Isto é grave, alguma coisa se está a passar", alerta a responsável. 
Dados recentes indicam que os concelhos do Barreiro, Montijo e Moita registaram, em 2023, taxas de mortalidade infantil superiores ao dobro da média nacional. No Barreiro e no Montijo, a taxa foi de 6,1 óbitos por cada mil nascimentos, enquanto na Moita atingiu 5,2, contrastando com a média nacional de 2,5 óbitos por mil nados-vivos.
Especialistas apontam para a falta de acompanhamento pré-natal e condições socioeconómicas desfavoráveis como possíveis causas para estes números alarmantes. A ausência de uma urgência de obstetrícia próxima poderá agravar ainda mais esta situação, dificultando o acesso a cuidados essenciais para grávidas e recém-nascidos.
A Península de Setúbal tem três hospitais: São Bernardo, em Setúbal, Garcia de Orta, em Almada, e Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, unidades que servem nove concelhos do distrito de Setúbal (Almada, Setúbal, Seixal, Sesimbra, Palmela, Montijo, Moita, Barreiro e Alcochete), com um total de 808.689 residentes nos Censos de 2021.

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