Estudo revela que as praias da Arrábida vão desaparecer

“No pior e no melhor cenário não há diferenças, o futuro está definido. Estas praias vão desaparecer", revelam especialistas 

Os principais perigos climáticos que podem afetar os concelhos de Setúbal, Palmela e Sesimbra até ao final do século foram apresentados numa ação de apoio à construção dos Planos Locais de Adaptação às Alterações Climáticas. A iniciativa, realizada no Cinema Charlot – Auditório Municipal, em Setúbal, contou com mais de cinco dezenas de participantes, entre autarcas, dirigentes e técnicos dos três municípios.  E os resultados são claros: a inundação e alagamento estuarinos, com a previsão de a água do Sado vir um dia a chegar à Baixa de Setúbal, e a “tendência para o desaparecimento das praias da Arrábida”, resultante da subida do nível médio das águas do mar são riscos que Setúbal [o mais afetado], Sesimbra e Palmela têm de enfrentar e tomar medidas da adaptação. Os dias de calor excessivo vão subir de 10 para 44 dias nos próximos anos. 
Praias da Arrábida em risco de desaparecer nos próximos anos

O objetivo foi apresentar o projeto Planos Locais de Adaptação às Alterações Climáticas-Arrábida aos dirigentes de diversas áreas das autarquias de Setúbal, Palmela e Sesimbra e dar a conhecer os resultados de um estudo realizado pelo professor da Universidade de Lisboa José Luís Zêzere sobre a cenarização climática para os três concelhos para o ano 2100.
“Não sabemos com certeza como vai ser o clima no futuro. Mas sabemos que pode ser diferente consoante as opções tomadas a nível global. Isto prende-se muito com a adoção de estratégias de mitigação que permitam reduzir a emissão de gases com efeito de estufa”, diz o responsável. 
De acordo com os resultados do estudo, José Luís Zêzere preparou dois cenários diferentes para a evolução do clima no território Arrábida em que um apresenta condições mais favoráveis e outro revela condições mais desfavoráveis, mas ambos com perspetivas pouco animadoras.
A inundação e alagamento estuarinos, com a previsão de a água do Sado vir um dia a chegar à Baixa de Setúbal, e a “tendência para o desaparecimento das praias da Arrábida”, resultante da subida do nível médio das águas do mar são riscos que estes concelhos têm de enfrentar e tomar medidas da adaptação.
“No pior e no melhor cenário não há diferenças, o futuro está definido. Estas praias vão desaparecer. A alimentação artificial pode ser uma das soluções”. 
Os modelos traçados pelo investigador do Instituto de Geografia e Ordenamento do Território revelam, ainda, que o número de dias a que a população está exposta a calor excessivo vai aumentar, passando de dez dias por ano para 30 a 44 dias.
Face a esta conclusão, aumentam as condições para incêndios florestais, sendo que de um cenário atual em que cerca de 400 edifícios onde habitam atualmente 700 pessoas estão expostos ao perigo da ocorrência incêndios, a região enfrenta dois possíveis cenários em que, até 2100, cerca de 2200 edifícios com 3500 pessoas passam a estar expostos no melhor cenário e dez mil edifícios com 16 mil pessoas no pior dos modelos traçados.
A possibilidade de inundações por cheias rápidas também vai agravar-se, sobretudo nos concelhos de Setúbal e Palmela, bem como as secas que “vão ser cada vez mais crónicas e têm tendência a acentuar-se”.
O estudo apresentado no dia 9 de Março por José Luís Zêzere integra um conjunto de atividades a desenvolver até Setembro de 2022 no âmbito do projeto Planos Locais de Adaptação às Alterações Climáticas-Arrábida, as quais visam preparar os concelhos de Setúbal, Palmela e Sesimbra para enfrentar os desafios das alterações climáticas.

É essencial preparar o território para o embate das alterações climáticas na região 
Águas do Sado podem invadir baixa da cidade de Setúbal
O presidente da Câmara de Setúbal, André Martins, sublinhou, na abertura do encontro, que a ação climática é uma das prioridades da autarquia com o desenvolvimento de vários projetos, nomeadamente nas áreas da energia, da mobilidade sustentável, da economia circular, da governança, do planeamento e uso do solo e também da comunicação e educação ambiental.
“Implementámos em Setúbal, nesta e em tantas outras matérias, um processo ativo de mudança, trazendo novas dinâmicas ao território com obra e investimento, estabelecendo parcerias e trabalhando em rede. O Planos Locais de Adaptação às Alterações Climáticas-Arrábida é um excelente exemplo de mais um trabalho em parceria”. 
A nova Lei de Bases do Clima, que entrou em vigor a 1 de fevereiro, reconhece a situação de emergência e define as bases da política climática, estabelecendo que todos os municípios têm até ao fim de 2023 para aprovarem os seus planos municipais de ação climática.
Ao abrigo desta legislação, e de forma a que Portugal contribua para não se ultrapassar o grau e meio de aquecimento previsto pelo acordo de Paris, o país deve alcançar a neutralidade climática em 2050, com a definição de metas de redução de emissões de gases de efeito de estufa de menos 55 por cento até 2030 e de menos 90 por cento até 2050.
“Trata-se de um desafio fortíssimo. É, de facto, essencial preparar o território para o embate das alterações climáticas e Setúbal está empenhada neste combate”, garantiu André Martins.
No entanto, ressalvou, é “fundamental a disponibilização de mecanismos financeiros que viabilizem e permitam a concretização no terreno das estratégias e dos planos locais de adaptação às alterações climáticas”.
De acordo com a administradora-delegada da ENA, Cristina Daniel, o acesso a determinados financiamentos para medidas de combate às alterações climáticas “exige, cada vez mais, que os municípios disponham de planos de ação”.

Agência de Notícias 

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