Enfermeiros do Hospital de Almada pedem escusa de responsabilidade

"Há um excesso de horas extraordinárias no Serviço de Urgência Geral. 1.600 ​​​​​​​horas num só mês"

Dezenas de enfermeiros da Urgência Geral do Hospital Garcia de Orta, em Almada, pediram escusa de responsabilidade devido à falta de profissionais nas escalas, que dizem colocar em causa a prestação de cuidados de saúde aos utentes. Segundo Zoraima Prado, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, a decisão de 65 enfermeiros da Urgência do hospital de Almada, de entregarem a Declaração de Exclusão de Responsabilidade, resulta da degradação das condições de trabalho devido à falta de enfermeiros, mas também da ausência de perspetivas de progressão nas carreiras daqueles profissionais de saúde. Em comunicado, o Conselho de Administração do hospital garante que tudo tem feito para a contratação de profissionais de saúde, mas lembra que a escassez de enfermeiros é transversal às unidades de saúde nacionais. 
Dezenas de enfermeiros estão exaustos em Almada 


“Há um excesso de horas extraordinárias no Serviço de Urgência Geral – 1.600 ​​​​​​​horas num só mês. Quando juntamos isso a uma ausência de perspetivas de evolução e progressão salarial, e de valorização profissional face à nossa diferenciação e formação acrescida, as instituições do Serviço Nacional de Saúde deixam de ser atrativas”, justificou Zoraima Prado. 
Em comunicado, o Conselho de Administração do Hospital Garcia de Orta garante que tudo tem feito para a contratação de profissionais de saúde, mas lembra que a escassez de enfermeiros é transversal às unidades de saúde nacionais e que “nem sempre os processos de contratação são preenchidos em pleno, por falta de candidatos ou por desistência dos mesmos no momento da celebração do contrato”.
Mas, para Zoraima Prado, a par das alterações que são necessárias na carreira dos enfermeiros, que dependem do Governo, há outras intervenções, como o descongelamento de carreiras, que depende do Conselho de Administração do Hospital Garcia de Orta.
“É preciso um descongelamento das progressões [de carreira] para todos. Há enfermeiros que estão há 20 anos na primeira posição remuneratória. Esta situação tem que ser resolvida imediatamente e tem de ser contado todo o tempo de serviço. E o Conselho de Administração do Hospital Garcia de Orta pode resolver isto”, acrescentou Zoraima Prado, convicta de que, se nada for feito, os enfermeiros mais qualificados vão continuar a sair do sector público e os recém-formados também escolhem outros sectores para prosseguirem as suas carreiras profissionais, como já está a acontecer.
Em comunicado, o presidente de outro sindicato dos profissionais de enfermagem, Sindicato dos Enfermeiros, Pedro Costa, também justifica a tomada de posição dos enfermeiros do Hospital Garcia de Orta considerando que se trata de um “acumular de várias situações, que se repetem um pouco por todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde”.
Pedro Costa recorda que, em Dezembro do ano passado, já houve um “pedido de transferência coletiva” de 76 enfermeiros do serviço de Urgência Geral do Hospital Garcia de Orta e afirma que a manutenção da Urgência Geral “só é possível graças às mais de 1.600 horas mensais extraordinárias [dos enfermeiros], perpetuadas há largos anos”.

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