Projeto da Quinta do Braamcamp envolto em polémica no Barreiro

Câmara Municipal  rejeita chumbo da APA

O projeto previsto para a Quinta Braamcamp, no Barreiro, continua envolto em polémicas. Em causa está a construção de um empreendimento com 125 fogos e de um hotel com 178 camas, um projeto da promotora Saint Germain que terá sido chumbado pela Agência Portuguesa do Ambiente (APA). Uma informação que a autarquia não confirma: “Não é correto afirmar que a APA tenha chumbado o projeto previsto para a Quinta Braamcamp e que tenha inviabilizado a construção de habitação”. E se nada for feito - nem privado nem público - o Barreiro arrisca-se a perder mais tempo num património que viu "afundar" sem nada fazer décadas a fio.
Quinta histórica continua sem solução à vista 

Numa nota publicada na sua página oficial do Facebook, que surge na sequência de notícias que têm sido veiculadas e que referem que “a APA chumbou o projeto para a Quinta Braamcamp”, a Câmara do Barreiro faz um ponto da situação sobre o processo, salientando que o promotor solicitou, após ter vencido o concurso público, um “pedido de informação prévia, procedimento comum que visa a obtenção de informação detalhada antes de se dar início a uma operação urbanística”.
No mesmo esclarecimento, a autarquia explica que, para dar resposta ao pedido de informação prévia, solicitou, como previsto, parecer à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo.
“Tendo em conta que parte dos terrenos da Quinta Braamcamp insere-se em áreas de Reserva Ecológica Nacional, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo submeteu um pedido de parecer à APA", informa a autarquia. 
Assim, "com base no parecer da APA, a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo informou a Câmara Municipal que o projeto previsto para a Quinta Braamcamp necessita de melhor caracterização e avaliação, uma vez que, no que respeita à área inserida em Reserva Ecológica Nacional, o parecer, por insuficiente informação, é desfavorável". 
O parecer daquela entidade considera haver informação insuficiente sobre o projeto previsto para a área de reserva ecológica, o qual diz respeito a espaços verdes comuns e de lazer. "O parecer da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo não coloca em causa a construção de habitação prevista, já que esta não será realizada em área inserida em Reserva Ecológica Nacional”, sustenta o município. 

Uma quinta deixada ao abandono por épocas a fio 
Privados compraram quinta para requalificar espaço 
Posto isto, e perante o parecer recebido, a autarquia revela que enviará à Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo, nas próximas semanas, informação complementar sobre o projeto previsto para a Quinta Braamcamp.
“A Câmara do Barreiro relembra que a decisão de requalificação da Quinta Braamcamp, há muito em estado de abandono, tem como objetivo devolvê-la aos barreirenses, recuperando património e dotando o espaço de zonas verdes, desportivas, de lazer e de habitação, com vista à melhoria da qualidade de vida do concelho, à criação de postos de trabalho e à atração de investimento”, lê-se na nota.
De recordar que, na semana passada, fonte oficial da APA revelou, citada pela Sábado, que a entidade “considerou que o projeto não reunia condições para emissão de parecer favorável”, tratando-se este de um parecer emitido “vinculativo”.
“O parecer desfavorável emitido pela APA refere-se ao requerimento submetido pelo promotor ‘Saint Germain - Empreendimentos Imobiliários SA’ para operação de loteamento na Quinta da Braamcamp, freguesia de Barreiro e Lavradio”, esclarece a mesma fonte.
A venda do terreno foi anunciada no início de 2019 pelo município, liderado por Frederico Rosa (PS), justificando que os 21 hectares na zona ribeirinha se encontravam sem utilização há décadas e que não se sabia quando haveria verbas para o requalificar.
A quinta foi fundada pela família holandesa Braamcamp, num terreno com grande diversidade de fauna e flora, onde atualmente ainda permanece o maior moinho de maré do concelho e vestígios de dois palacetes, assim como da antiga fábrica da Sociedade Nacional de Cortiça.
O município garantiu que o projeto de requalificação previsto “obriga os compradores a cumprirem o que está previsto para toda a zona”.
“Dos 21 hectares de terrenos, 95 por cento serão ocupados por zonas desportivas e espaços verdes, com a edificação de um campo de futebol, zonas de lazer e de desporto náutico. Os restantes cinco por cento serão destinados à construção de habitação”, avançou, na ocasião a Câmara do Barreiro.

A história da Quinta
Quinta é um do património histórico da cidade 
A Quinta Braamcamp é o único complexo rural em plena cidade do Barreiro, cuja atividade cessou recentemente. Era composto inicialmente por casa de habitação, armazéns, moinho de vento e de maré e terras de cultivo.
Foi propriedade do Millenium BCP, após processo de insolvência da Sociedade Nacional de Cortiças, sendo comprada em 2016 pela Câmara do Barreiro, por quase três milhões de euros.  
Conserva ainda a antiga casa solarenga (século XIX), instalações agrícolas e um moinho de maré.
De acordo com o Guia Documental da Casa Reynolds / Sociedade Nacional de Cortiças, editado pelo Espaço Memória - Arquivo Municipal do Barreiro, “a história do fabrico de cortiça na Quinta Braamcamp iniciou-se em 1882 quando os irmãos Reynolds arrendaram a Quinta Braamcamp de George Abraham Wheelhouse e sua mulher”.
“Em Março de 1883 Tomás Reynolds já vivia na Quinta Braamcamp e nesta data já era transformada cortiça na fábrica instalada na quinta. A maquinaria importada da Grã-Bretanha (da Baerlein e c.º em Manchester, que custou cerca de 123 mil libras), como caldeiras e bombas para o fabrico de pranchas, só chegou ao Barreiro no final de 1884, quando a fábrica está em plena laboração, inclusive com horário noturno”.

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