"A Grande Emissão do Mundo Português" regressa aos anos 1940 em Almada

Teatrão desmonta 20 anos de propaganda da ditadura do Estado Novo

Vinte anos da História de Portugal, durante a ditadura do Estado Novo, enquadram a peça “A Grande Emissão do Mundo Português” que O Teatrão, companhia de Coimbra, apresenta quinta e sexta-feira, no Teatro Municipal Joaquim Benite, em Almada. "A Grande Emissão do Mundo Português", é uma dramaturgia de Jorge Palinhos, com direção de Isabel Craveiro, trata-se de uma criação conjunta com os atores e terá uma representação por dia, às 21 horas. Neste espetáculo O Teatrão põe em cena estratégias de encenação que apresentam um país “mirífico e totalmente delirante”, como afirma a companhia, e que desmontam, em simultâneo, os processos de propaganda do regime. 
Teatro aborda Estado Novo em Almada 

A peça decorre num estúdio da Emissora Nacional, onde cinco trabalhadores levam a cabo um programa que dura 21 anos. O programa começa em 1940, ano em que a ditadura de Salazar inaugura, à beira-Tejo a grande Exposição do Mundo Português. Uma "sumptuosa feira de vaidades para português ver, que celebrou o país português que não combatia na Segunda Grande Guerra mas ia do Minho a Timor", lê-se numa nota sobre o espetáculo.
"A Grande Emissão do Mundo Português" tem encenação de Isabel Craveiro, encenadora, pedagoga e diretora artística do Teatrão. A interpretar estão Ana Bárbara Queirós, Celso Pedro, Isabel Craveiro, João Santos, Margarida Sousa.
A cenografia e figurinos são de Filipa Malva, o desenho e operação de luz de Jonathan Azevedo, a direção musical de Luís Figueiredo, a preparação vocal de Cristina Faria e o design de som de Daniel Bernardo.

Reflexão crítica sobre as novas vagas populistas
 Voltar a 1940 para abordar o momento da atualidade 
Num imaginário estúdio da Emissora Nacional, estação de rádio encarregada de difundir e celebrar um retrato do País que sustentasse e elogiasse o poder de Oliveira Salazar, o presidente do conselho de ministros do governo ditatorial, cinco trabalhadores realizam um programa que dura 21 anos, a partir de 1940, até ao início da Guerra Colonial, em Angola, em Fevereiro de 1961.
O início da emissão data de 1940, ano em que o regime inaugurou em Belém, à beira do Tejo, a grande Exposição do Mundo Português, sumptuosa feira de vaidades “para português ver”, num país fechado sobre os oito séculos de nacionalidade e os 300 da restauração, que dizia ir do Minho a Timor, quando Hitler invadia a Europa, no início da II Guerra Mundial.
O começo da ação é marcado também pela mudança de direção da Emissora: a saída de Henrique Galvão, que mais tarde viria a protagonizar uma das principais ações contra a ditadura, o assalto ao navio Santa Maria, e a entrada de António Ferro, diretor do Secretariado de Propaganda Nacional. O programa passa então a ser coproduzido com a Fundação Nacional para a Alegria no Trabalho, procurando “educar sem aborrecer a nação”.
"A Grande Emissão do Mundo Português" é o segundo capítulo da série "Casa Portuguesa" d'O Teatrão, conjunto de produções, debates e estudos que a companhia produz tem vindo a produzir sobre o Estado Novo, sucedendo a "Eu, Salazar".
"Interessam-nos as correlações entre a política cultural do Estado e a programação da Emissora Nacional, nomeadamente nas estratégias de 'encenação' do regime e nos processos de aportuguesamento", escreve a companhia de Coimbra, na sua página na Internet.
"A grande alteração dos meios de produção da "antiga telefonia nacional" para atingir estes objetivos, o seu sucesso e duração são pistas para a interpretação da transformação sociocultural operada" em Portugal, durante a ditadura, prossegue O Teatrão.
"No confronto com o presente, este material permite-nos uma reflexão crítica sobre as novas vagas populistas, a influência dos meios de comunicação de massa na propagação de ideais que atualizam as ditaduras como soluções inevitáveis para os males sociais e conduzem a encenação das realidades", conclui a companhia.

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