Sines quer autoestrada de ligação do porto à A2

Autarca quer melhores ligações, mais emprego e fixar população no dia em que o governo apresentou estratégia para o porto de Sines 

O presidente da Câmara de Sines defendeu, nesta quarta-feira, na sessão solene de apresentação do ‘Estudo Estratégico do Porto de Sines 2020-2025’, que decorreu na sede da Administração dos Portos de Sines e do Algarve, em Sines, o investimento rodoviário numa ligação rodoviária, em perfil de autoestrada, num troço de 35 quilómetros, entre o porto de Sines e a Autoestrada do sul.  O autarca  quer soluções para os trabalhadores da central a carvão que irá fechar já em 2021, defende mais investimento na fixação de população e aprofundar a aposta da estratégia nacional do hidrogénio prevista, pela tutela, para aquele município do distrito de Setúbal. Fazer de Sines "um hub portuário ibérico" e conseguir capturar três de quota de carga ibérica são alguns dos objetivos estabelecidos no plano estratégico para o Porto de Sines 2020-2030, apresentado esta quarta-feira. Pedro Nuno Santos quer que esta infraestrutura portuária seja também um polo de desenvolvimento da indústria portuguesa. 
Autarca quer mais investimento na cidade 

“Temos a consciência que ainda muito existe por fazer, é por isso muito importante a concretização dos investimentos previstos no ‘Ferrovia 2020’ e no Plano Nacional de Investimentos. Sendo certo que, no que respeita a este território, não podemos deixar de ter no horizonte que a expetativa em torno a expansão da movimentação de carga contentorizada exigirá condições de transporte que os investimentos em curso na ferrovia podem, no longo prazo, não ser suficientes”, realçou Nuno Mascarenhas.
Para esse caminho, diz o autarca, é necessário que se "reforce a necessidade de solucionarmos a questão da rodovia”, sublinhando que “o que está hoje em causa é a elevada circulação de pesados entre Sines e a A2, mais de 320 mil viagens anuais, com uma percentagem elevada de transporte de matérias perigosas”.
“As condições em que esta circulação se opera atualmente levantam muitas preocupações ao nível da segurança rodoviária”, conta Nuno Mascarenhas.
Para o presidente da Câmara de Sines, “seria desejável que este troço, com pouco mais de 35 quilómetros, em perfil de autoestrada, pudesse vir a ser concretizado no curto prazo, permitindo desta forma ligar o maior porto nacional aos principais centros de consumo do país e aos restantes portos nacionais através deste perfil de via”.
Para o autarca socialista, este “seria um sinal muito positivo para os investimentos que se perspetivam para este território”, sublinhou Nuno Mascarenhas.
Em resposta a esta exigência, Pedro Nuno Santos, ministro das Infaestruturas e da Habitação, disse: “não quero ser eu a assumir o que vai estar no Plano de Recuperação e Resiliência, cuja apresentação estará a cargo do Primeiro-ministro”.
No entanto,  assegurou que as "preocupações do senhor presidente da Câmara Municipal são as nossas preocupações, e são fundamentais para o desenvolvimento do porto e da região de Sines", garantiu Pedro Nuno Santos.
Nuno Mascarenhas destacou na sua intervenção que “o porto de Sines é uma infraestrutura que, pela sua natureza, vocação e notoriedade, tem uma dimensão muito superior ao domínio local”.
“É uma infraestrutura estratégica para o país e para a Península Ibérica, mas o seu espaço é o da geografia mundial, das grandes rotas marítimas e do comércio internacional. Por isso mesmo, a sua relevância local e regional é, de facto, incomensurável e traduz-se num valor económico-social âncora para esta comunidade e para toda a região”, assinalou o autarca. 
Nuno Mascarenhas acrescentou ainda que “é o porto de Sines que está na génese de todo o ecossistema económico deste concelho, que agrega indústria pesada, indústria ligeira, um crescente número de serviços, um setor logístico em franco desenvolvimento e, neste momento, está com uma dinâmica muito interessante de diversificação empresarial”.

Soluções para o fecho da central a carvão 
Sobre o encerramento da central termoelétrica de Sines, devido ao programa de descarbonização assumido pelo país e das soluções de substituição adoptadas, Nuno Mascarenhas assinala que, “em ambas as situações com grandes impactos na atividade deste porto, mas que ao mesmo tempo não podem estar dissociadas da necessidade de serem criados mecanismos de transição social, ou seja, de valorização de conhecimento e dos ativos residentes, especialmente de recursos humanos”.
Ou seja, o autarca, entende a "importância do encerramento da central termoelétrica, mas que continuamos empenhados com o Governo e com os organismos da Administração Central, no desenvolvimento de um plano robusto de reconversão de capital social daquela unidade, muito especificamente no que diz respeito aos seus trabalhadores. Significa também que a ‘Estratégia Nacional do Hidrogénio’ carece dessa estabilidade, ou seja, os investimentos que nessa matéria se perspetivam para Sines são absolutamente fundamentais do ponto de vista económico e social, contribuindo não só para a transição climática e para um novo paradigma energético, mas igualmente para a diversificação das atividades portuárias e das atividades locais”, disse o presidente da Câmara de Sines.

Críticas sobre a junção entre os portos de Sines e do Algarve
O autarca considera que “o porto de Sines e os portos de Portimão e de Faro têm missões distintas” e que, “até do ponto de vista da marca, os portos do Algarve têm pouco a ganhar com essa associação”.
Para Nuno Mascarenhas, “o porto de Sines encontra-se noutro campeonato. A junção destes portos foi sem dúvida um erro de ‘casting'”, criticou o presidente da Câmara de Sines.
Para o autarca, “a diversificação dos setores, por exemplo com a reconversão do terminal de carvão, o eventual desenvolvimento de serviços relacionados com a indústria agroalimentar, a penetração em novas vocações logísticas e ou industriais, demonstram bem que esta é uma realidade diferente, em permanente evolução”.

Autarquia defende mais investimento na fixação de população

“Foi muito positivo o lançamento do concurso para a empreitada de modernização da linha férrea de Sines até Ermidas, assim como todo o investimento que está a ser realizado na ferrovia. Mas são igualmente importantes os investimentos que a Administração dos Portos de Sines e do Algarve fez no ramal interno e na ligação à Zona Industrial e Logística de Sines e que a Medway tenha já em funcionamento a sua plataforma logística em Sines”, contou Nuno Mascarenhas.
O presidente da autarquia de Sines relembrou ainda o desafio demográfico, aproveitando o facto de estar presente na cerimónia de apresentação do ‘Plano Estratégico do Porto de Sines 2020-2025’ o ministro Pedro Nuno Santos, que também tem o setor da habitação sob a sua tutela.
“Temos hoje uma cidade qualificada e com uma oferta completa de educação, cultura, deporto e lazer. Sines é uma cidade que evidencia uma enorme atração, mas isso não se tem traduzido em igual proporção na capacidade de fixação de novos residentes. É também, por isso, que entram em Sines mais de cinco mil pessoas diariamente. O mercado habitacional, quer para compra, quer para arrendamento, não conseguiu acompanhar proporcionalmente a a criação de postos de trabalho ao longo dos anos”, lamentou o autarca.
Na opinião de Nuno Mascarenhas, “é, por isso, necessário intervir neste domínio e a Câmara Municipal está a fazê-lo”, adiantando que “estamos a programar mais áreas destinadas a habitação, procurando diversificar as tipologias de modo a abranger famílias de rendimentos diversos”.
Ainda assim, diz o autarca, e "depois do muito que se tem feito em matéria de habitação nos anos recentes, faltam hoje aos municípios instrumentos que permitam uma maior intervenção nesta área, nomeadamente tendo em vista a promoção da fixação de jovens, de quadros e de famílias em territórios de menor densidade". 
Segundo o chefe do executivo municipal, “Sines é de facto o concelho com a população mais jovem do Alentejo Litoral e com maior proporção de jovens por cada cem habitantes; contudo, a procura de mão de obra e as necessidades criadas com a geração de novos postos de trabalho enfrentam dois grandes desafios: a fixação de população e, para isso, a necessidade de maior equilíbrio no mercado habitacional”, concluiu Nuno Mascarenhas. 

Estratégia para o Porto de Sines passa por torná-lo um hub ibérico
Pedro Nuno Santos, o ministro das Infraestruturas, presente na cerimónia, em Sines, destacou o importante papel que o porto pode desempenhar na industrialização do país, defendendo que é um importante no contexto da Península Ibérica, mas reconhecendo que há várias portas de entrada na Europa, e Sines é apenas mais uma delas. "Roterdão, na Holanda, é uma porta de entrada na Europa maior do que esta. Portas de entrada existem dezenas. Sines pode ser um porto relevante na Península Ibérica, mas há um potencial que ainda não estamos a usar".
"Temos de usar o Porto de Sines como um polo de desenvolvimento industrial do país", afirmou Pedro Nuno Santos. E prosseguiu dizendo que o Estado terá de ter um papel central nesta matéria, apontando como exemplo a estratégia nacional que tem sido apontada pelo governo na área do hidrogénio. "O país desenvolve-se quando o Estado toma a dianteira", sublinhou o ministro.
Pedro Nuno Santos considerou ainda que o Porto de Sines tem de ser capaz de enfrentar e ultrapassar o desafio da descarbonização, da digitalização e da industrialização.

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