Mestres complicam vida a milhares no Barreiro

Fertagus regista aumento de 30 por cento dos utentes em Coina devido à greve da Soflusa

A Fertagus, empresa que faz a ligação ferroviária na Ponte 25 de Abril, entre Setúbal e Lisboa, registou esta segunda-feira um aumento de 30 por cento dos passageiros na estação de Coina, no Barreiro, devido à greve dos mestres da Soflusa. “No total do dia e até à hora de almoço não registámos mais passageiros, o que se deve principalmente às férias, no entanto, na estação de Coina, sim, tivemos um acréscimo de cerca de 30 por cento”, adiantou à Lusa a porta-voz da Fertagus, Raquel Santos. Os barcos que fazem a ligação fluvial entre o Barreiro e Lisboa estão outra vez encostados: os mestres decretaram uma greve total durante três dias, em cima de uma outra às horas extraordinárias que se prolonga até ao fim do ano. Utentes da Soflusa exigem ao Governo e ao conselho de administração da empresa, responsável pelas ligações fluviais entre o Barreiro e Lisboa, que respondam às reivindicações dos trabalhadores, alertando para o “cansaço” das pessoas.
Barcos vão estar parados até quarta-feira à meia-noite 

Segundo a representante, o maior movimento de utentes na estação ferroviária “é normal face à situação de greve” da Soflusa, empresa que assegura a ligação fluvial entre o Barreiro, no distrito de Setúbal, e o Terreiro do Paço, em Lisboa. Apesar do maior número de utentes, a Fertagus indicou que não há registo de “nenhum constrangimento”.
Os barcos que fazem a ligação fluvial entre o Barreiro e Lisboa estão outra vez encostados: os mestres decretaram uma greve total durante três dias, em cima de uma outra às horas extraordinárias, iniciada no sábado e que se prolonga até ao fim do ano. Querem que o Governo e administração da Transtejo/Soflusa cumpram o acordo firmado a 31 de Maio e que lhes dá mais 60 euros no subsídio de chefia.
Esse subsídio foi suspenso porque não tem cobertura do Acordo de Empresa e, consequentemente, cobertura orçamental. Há uma "guerra" contra o Governo e administração, mas também contra outra classe profissional da tripulação: os maquinistas, que exigem também os mesmos direitos.
Esta "guerra" sem fim atinge, sobretudo, as dezenas de milhares de passageiros que todos os dias precisam de atravessar o Tejo - dizem-se "fartos" dos mestres e da Administração, que consideram incompetente e incapaz de resolver o problema.
A empresa desmentiu esta segunda-feira esta situação, garantindo que “estão a decorrer reuniões com os sindicatos para a sua efetivação”.

As ameaças....
Nem todos os trabalhadores, e mesmo alguns dos mestres, apoiam formas de luta tão intensas e prolongadas. Embora sem querer dar a cara ou a voz, várias pessoas referiram à Radio Renascença as pressões a que alguns trabalhadores serão sujeitos para não “furar” as greves. Mas Paulo Rodrigues, maquinista e coordenador da comissão de trabalhadores da Soflusa, dá a voz e assume que “há, sem dúvida pressões”, acrescentando que “nesta empresa, um colega que não faça o que os outros estão a fazer é sempre muito mal visto”.
No entanto, este sindicalista recusa-se “a especular sobre eventuais ameaças físicas ou de outro género a trabalhadores ou pessoas próximas”. Entre os três membros da Comissão de Trabalhadores inclui-se um mestre e o coordenador considera que para ele “também é muito difícil gerir a situação”.
A paralisação foi convocada pelo sindicato e estende-se até quarta-feira, assim como a greve ao trabalho extraordinário, que se iniciou no sábado e se prolonga até 31 de Dezembro. Segundo Carlos Costa, do Sindicato dos Transportes Fluviais, Costeiros e da Marinha Mercante, a situação manteve-se “calma” no terminal fluvial do Barreiro, prevendo que se mantenha “tudo parado”, tanto a nível dos profissionais em greve, como das ligações fluviais.

Utentes pedem que se cumpram reivindicações dos trabalhadores
Em declarações à agência Lusa, Antonieta Fortunato, da Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Barreiro, considerou que a greve de três dias dos mestres da Soflusa, iniciada hoje, é mais uma paralisação acumulada.
“Já é um cansaço demasiado. Isto é o acumular de todas as greves que já existiram, de todas as supressões de carreiras […]”, indicou a porta-voz dos utentes do Barreiro, reiterando que “o Governo e o conselho de administração têm de resolver as coisas primordiais”, como responder às reivindicações dos trabalhadores.
Para Antonieta Fortunato, o Governo, que tutela a empresa, e a administração devem reforçar o número de embarcações e profissionais.
A porta-voz da Comissão de Utentes dos Serviços Públicos do Barreiro realçou que, apesar da greve, o ambiente está tranquilo no terminal do Barreiro.
Antonieta Fortunato alertou também para previsibilidade da situação, que, segundo a mesma, se estende há vários anos.
“Há anos a esta parte que dizemos que sem investimento, sem contratação de trabalhadores, sem manutenção da frota esta situação era previsível”, sublinhou, precisando que os utentes “estão reféns”, por não haver alternativas de transporte.
De acordo com a página da Soflusa, durante os três dias de greve apenas estão previstos os serviços mínimos decretados pelo tribunal arbitral, de quatro carreiras (00h30 e 5h05 no Barreiro, e uma da manhã e 5h30, no Terreiro do Paço, em Lisboa).
Já numa nota escrita, enviada à Lusa, a empresa sublinhou que “hoje serão prejudicados 32 mil passageiros que utilizam diariamente a ligação fluvial”.
Para diminuir o impacto nos utentes, a Soflusa está a reforçar a oferta no terminal do Seixal,  até à meia noite disponibilizando estacionamento gratuito e transporte rodoviário entre o Barreiro e o Seixal. O título de transporte do Barreiro também está válido nas ligações do Montijo e Cacilhas, em Almada.
Para quinta-feira está marcada uma reunião entre a administração e o Sindicato dos Transportes Fluviais, Costeiros e da Marinha Mercante.

Agência de Notícias com Lusa
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