Centenas protestaram contra dragagens em Setúbal

"Isto é um atentado ao rio Sado. Os golfinhos vão desaparecer"

Mais de 500 pessoas entoaram palavras de ordem numa manifestação em defesa do rio Sado e contra as dragagens no estuário do Sado, que decorreu em Setúbal. "Custe o que custar, doa a quem doer, o Sado é para defender" foi uma das palavras de ordem entoadas pelos manifestantes. O Estuário do Sado é o local de férias de uns, a morada e emprego de outros. É as praias e os golfinhos. É uma paisagem natural. E assim se deve manter segundo os mais de 500 cidadãos que se juntaram, este sábado no jardim Luís da Fonseca, em Setúbal, às associações ambientalistas Zero, Quercus e Clube da Arrábida para pedir o fim das obras de alargamento do canal portuário e a demissão da ministra do Mar, Ana Paula Vitorino. A Liga para a Protecção da Natureza negou qualquer envolvimento na organização da manifestação contra as dragagens no rio Sado, “por não ter tomado posição aquando da Avaliação de Impacte Ambiental”.
Mais de 500 pessoas não querem dragagens 

"Isto é um atentado ao rio Sado. Os golfinhos vão desaparecer, a retirada da areia do fundo do mar vai fazer desaparecer a flora e o rio vai morrer, porque vão retirar o alimento aos golfinhos e aos peixes", disse o jovem Rui Venâncio, de 19 anos, um setubalense que reside em Aljustrel, mas que vem regularmente à cidade onde nasceu e que hoje fez questão de marcar presença na manifestação.
"As dragagens vão prejudicar o ecossistema do estuário do Sado e eu não quero que isso aconteça. Pelo que tenho lido, é isso que poderá acontecer no estuário do Sado, caso se concretizem as dragagens para retirar cerca de 6,5 milhões de metros cúbicos de areia do fundo do estuário do Sado", corroborou a setubalense Ana Isabel, manifestando o receio de que os decisores políticos ignorem o protesto da população.
Para João Cabanas, de 45 anos, a presença na manifestação foi uma forma de demonstrar a sua solidariedade no protesto contra as dragagens. "Eles [decisores políticos] não podem decidir tudo sozinhos, têm de ouvir as pessoas. Estão aqui cerca de 500 pessoas mas há muitas mais contra as dragagens no estuário do Sado".
Em declarações aos jornalistas durante a acção de protesto contra as dragagens, o presidente da associação Zero, uma das entidades organizadoras da manifestação, afirmou que o estuário do Sado "é um ecossistema a único que não está vocacionado para um porto de águas profundas".
"O próprio Estudo de Impacte Ambiental é muito claro: diz que os golfinhos do Sado, roazes corvineiros, estão em perigo, estão em risco durante as dragagens - e a sua zona de alimentação também - e, em particular, os indivíduos mais jovens. Há exemplos da Escócia, onde as dragagens afectaram a vida destes animais, desta comunidade única, que é extremamente sensível", acrescentou.
"Esta área devia ser Rede Natura, portanto classificada à escala europeia, e só não é porque as pressões do porto de Setúbal e de outros sectores levaram a que essa classificação não fosse atribuída, contrariando a recomendação dos cientistas", disse, acrescentando que a retirada de areia para alargamento e aprofundamento do canal de navegação do porto de Setúbal também irá afectar as praias da Arrábida e colocar em risco o desenvolvimento turístico de toda a região.

Ambientalistas contra obra no rio 

O presidente da Zero lembrou ainda que o estuário do Sado só não integra a Rede Natura devido às pressões da administração portuária e de outros sectores de actividade e apelou à ministra do Mar para que retroceda neste processo, a exemplo do que fez relativamente à localização do terminal de contentores do Barreiro.
A par das preocupações ambientais, o presidente do Núcleo Regional da Quercus de Setúbal, Paulo do Carmo, alertou também para as consequências que as dragagens no estuário poderão ter para o turismo, área em franco desenvolvimento em toda a região de Setúbal.
"Tem-se apostado tanto no turismo, que não faz sentido fazer uma obra desta dimensão naquela que é considerada uma das mais belas baías do mundo. Estamos a apostar cada vez em Tróia, há uma aposta forte dos investidores no turismo. Esperamos que a ministra do Mar e a presidente da Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra reflictam e discutam com as associações", disse o dirigente da Quercus.
Para Pedro Vieira, do Clube da Arrábida, a manifestação deste sábado "superou todas as nossas melhores expectativas".
"A manifestação de sábado veio trazer-nos a notoriedade necessária para mostrar que não somos um grupo de arruaceiros, como nos apelidaram durante semana. Foi uma demonstração da sociedade civil, de pessoas que estão contra um crime ambiental que se vai realizar no rio Sado", disse Pedro Vieira.
"Agora vamos aguardar pela decisão da providência cautelar e há ainda a possibilidade de avançarmos com uma outra providência cautelar", acrescentou Pedro Vieira, satisfeito com a "receptividade e o apoio de muitos setubalenses, que temem pelo futuro do rio e do estuário do Sado".

Liga para a Protecção da Natureza quer saber mais 
A Liga para a Protecção da Natureza negou qualquer envolvimento na organização da manifestação contra as dragagens no rio Sado marcada para sábado, “por não ter tomado posição aquando da Avaliação de Impacte Ambiental”.
“É-nos incómodo tomar posição quando não nos pronunciámos sobre a Avaliação de Impacte Ambiental, tendo sido convidados para o fazer”, disse à agência Lusa Miguel Geraldes, da direcção da Liga para a Protecção da Natureza.
“Estávamos num processo eleitoral e houve algumas coisas que, lamentavelmente, nos escaparam. Julgo que eticamente não seria correto tomar posição agora quando não o fizemos durante a discussão pública da Avaliação de Impacte Ambiental”, justificou.

Agência de Notícias com Lusa 

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