FIAR está de volta ao centro histórico de Palmela

Festival Internacional de Artes de Rua realiza-se até domingo

Em 2018, o FIAR, o festival de artes de rua de Palmela, celebra 20 anos, com uma programação rica e plural, distribuída por diferentes espaços, com produções convidadas e próprias, envolvendo artistas e criadores locais. A programação foi desenhada com base no teatro nómada, na política afetiva e na micropolítica. Dentro destes temas, serão ainda abordadas questões fundamentais da atualidade, como as alterações climáticas e as consequentes visões de sustentabilidade ecológica ou a consciência das realidades sociais precárias. Por Palmela, passarão, nestes três dias, o Teatro Praga, o Teatro da Didascália ou a Companhia Erva Daninha, mas também os Bardoada, o Grupo Coral 1.º de Maio do Bairro Alentejano e a estreia de “(In)certaidade”, do Teatro “As Avozinhas”, que comemora este ano o seu vigésimo aniversário. O festival prolonga-se até domingo, 5, com a apresentação informal de resultados do workshop de Sara Anjo e Michelle Moura, Nós Aqui Neste Passinho, e a estreia de Adriano Já Não Mora Aqui, de Rui Catalão e com Adriano Diouf (que é matéria e intérprete da peça), na Casa Atalaia.
FIAR está de regresso às ruas de Palmela

"(In)certaidade" é a nova criação do Centro de Artes de Rua de Palmela com o grupo de teatro As Avozinhas, uma homenagem a todas as "mulheres-coragem" - como afirma a responsável da companhia, Dolores de Matos -, que se estreou esta sexta-feira, no espaço do Centro do FIAR, na rua Serpa Pinto, em Palmela. A peça centra-se em questões relacionadas com a idade e suas consequências físicas e emocionais.
Como é que a idade afeta o corpo e os comportamentos sociais, os tabus e os preconceitos que ainda hoje pendem sobre as mulheres relativamente a determinadas fases da vida, como a menopausa, são, segundo Dolores de Matos, temas abordados na peça.
"Uma revolta 'punk' contra a normatividade comportamental sénior" é como as diretoras artísticas da companhia, Dolores de Matos e Carlota Lagido - que também assinam o espaço cénico e os figurinos -, classificam "(In)Certaidade", que tem dramaturgia de João Pedro Azul.
Por seu turno, "Antes", uma criação de Pedro Penim e do Teatro Praga, que no sábado à noite sobe ao palco do Cine-Teatro S. João, em Palmela, aborda temas das cidades, questões urbanas, os seus desconfortos e enfermidades.
"Muitas cidades ou países apresentam uma 'malaise' distinta. São lugares que podiam ser Portugal, de tão afundados numa dolorosa saudade do passado, e onde cada tensão do presente é apenas a ponta de um iceberg que se explica em recuos sucessivos, que podem ir até à origem das espécies, pelo menos", lê-se na programação do FIAR, sobre o espetáculo do teatro Praga.
E esta nostalgia das cidades é muitas vezes apresentada como um diagnóstico, uma negação de um presente doloroso em oposição ao desejo de regressar a um passado glorioso, como por exemplo a cidade de Istambul, que mergulha frequentemente num estado a chamam "Üzün": um tipo de melancolia aguda, coletiva, que surge com a chuva e com o vento frio vindo do Leste e que tudo devora.
Ou o coração de Trieste, "que parou de bater em 1914, quando para ali foram transportados os corpos dos arquiduques do Império austro-húngaro, depois de terem sido assassinados em Sarajevo". "Desde então a cidade portuária foi rebaptizada como Tristesse e arrasta-se num limbo moribundo", acrescentam os responsáveis pela peça.
Ou Gales, que quer dizer "o lugar dos outros", e cujo nome lhe foi dado pelos invasores, quando o país se tornou a primeira colónia do império britânico em 1285 e que, desde então, tem sido atirada para as margens da história com os galeses a experimentarem um estado de incompletude profunda e familiar, uma doença que faz sentir falta de uma casa para a qual não se pode voltar, acrescenta o teatro Praga.
Com texto e encenação de Pedro Penim, "Antes" é interpretada por Bernardo de Lacerda, Frederico Serpa e Pedro Penim.
No domingo, no pátio do Festival FIAR, é a vez de ser representada uma dramaturgia e coreografia de Adriano Diouf e Rui Catalão, "Adriano já não mora aqui",
O espetáculo começa com uma criança a fugir de um homem que matou outra criança, e termina com as batidas do coração de um feto, no útero da mãe.
"Dois episódios arrepiantes, porque a criança está na casa do criminoso, com ele lá dentro, e o pai do feto acabou de dizer: 'Doutora, nós não vamos ter esta criança'". Os episódios foram convertidos em outras tantas cenas, com as quais Adriano Riouf reconstrói o processo de como se tornou adulto.
A peça é assim "o relato de uma criança a fugir dos problemas em que se mete. A combater e a esconder-se das consequências. Até ao momento culminante em que não quer mais fugir", refere o criador.
Antes, a nova criação do Teatro Praga, olha para lugares movidos a saudade – de Istambul a Los Angeles.

Câmara ajuda FIAR 
O Protocolo de Cooperação entre o município de Palmela e a FIAR – Associação Cultural, que prevê a atribuição de um apoio financeiro de 40 mil euros à realização das edições de 2018 e 2020 do FIAR - Festival Internacional de Artes de Rua.
Para além do apoio financeiro, o protocolo, para o período 2018-2021, prevê que a autarquia "garanta também apoio técnico permanente à organização do Festival, apoio em transportes, à promoção e divulgação do evento e em aspetos logísticos, bem como a promoção de contactos com vista a obter apoios mecenáticos e diligências para a cedência de instalações à associação", refere a Câmara de Palmela em comunicado.
A FIAR – Associação Cultural deverá assumir e assegurar a coordenação geral de produção do Festival, assegurar em permanência a relação entre agentes artísticos e programadores a nível nacional e internacional e garantir o acompanhamento e avaliação dos projetos inéditos em execução, entre outros aspetos.
A par do apoio municipal, a candidatura apresentada pela FIAR – Associação Cultural para o biénio 2018/2019 no concurso da DGArtes obteve também apoio financeiro.
A Câmara de Palmela "reconhece a importância que o Festival FIAR, de periodicidade bienal, assume para a comunidade, que adere e participa, envolvendo-se nos ambientes que o Festival proporciona, bem como para os agentes culturais locais", conclui o comunicado da autarquia liderada por Álvaro Amaro. 
Até 5 de Agosto a vila de Palmela acolhe o Festival FIAR  - organizado pela FIAR Associação Cultural, com o apoio da Câmara de Palmela - para nos surpreender com os resultados da criação e experimentação artística que cruza profissionais e amadores em projetos que têm na rua o seu palco de eleição, procurando um contacto mais direto com os públicos. Este ano o tema central será os nómadas.

Programa do FIAR 2018 
3 de agosto

ABERTURA OFICIAL
20h00, Casa Mãe da Rota dos Vinhos

ANTES
De Pedro Penim
Teatro Praga
22h00, Cineteatro S. João

4 de Agosto
LARGADA DE POMBOS
Pela Associação Columbófila de Palmela
11h30, Rua Mouzinho de Albuquerque

ITINERÁRIO O QUE É PEQUENO É BELO

TAMBORES SINALEIROS
Bardoada Grupo do Sarrafo
Luci&Lola

LANÇAMENTO DA FLANZINE N.º 17, CINZAS
Com a presença do editor e convidados
17h00, Casa Mãe da Rota dos Vinhos

A MÚSICA ANDA NA RUA
Rini Luyks
Beco da Estrela, Columbófila de Palmela

ENSAIO SOBRE O BELO
Interpretação e criação de Denise Lomelí (Monociclo)
Terraço do Mercado Municipal, Rua Mouzinho de Albuquerque

O FIO DA MEDUSA
De Leonor Keil
Estreia
Castelo de Palmela, Ruínas da Igreja de Santa Maria

O SEQUESTRO
Texto e dramaturgia de Bruno Humberto e Rui de Almeida Paiva
Estreia
Paragem de autocarro no Largo de S. João (sessões: sábado, às 19h30 e 00h00, domingo, às 19h30)

(IN)CERTAIDADE
FIAR, Centro de Artes de Rua - Teatro “As Avozinhas”
Estreia
21h00, Rua Serpa Pinto, n.º 31 (entrada pelo quintal)

POR OUTROS CAMINHOS

MAI MAIORES QU’ESSEI SERRAS
Teatro Feiticeiro do Norte, Madeira
21h00, Auditório da Biblioteca de Palmela, Largo de S. João

O VIGILANTE NOTURNO
Teatro da Didascália
22h00, Cineteatro S. João


5 de Agosto

ITINERÁRIO O QUE É PEQUENO É BELO

TAMBORES SINALEIROS
Com Bardoada Grupo do Sarrafo
Luci&Lola

COUVE ROSA MORANGO AMARELO
De Graça Ochoa
Estreia
Adega da Casa de Atalaia, Rua Heliodoro Salgado

QUARTO ESCURO
Um espetáculo de Inês Vaz, Mónica Calle e Mónica Garnel, a partir de um conceito de Mónica Calle
Antigo Quartel da GNR, Rua Heliodoro Salgado (entrada pelas traseiras)

ENTRE PEDRAS E FLORES
Música: Roni Szabo
Dança: Catarina Keil
Largo da Boavista

A TUA VOZ CHEGA AOS MEUS OUVIDOS COMO O CANTAR DOS PÁSSAROS
Grupo Coral 1.º de Maio do Bairro Alentejano
Luci&Lola
Pátio do Espaço Cidadão, Junta de Freguesia de Palmela, Rua Hermenegildo Capelo, n.º 58

I CAN’T SEE THE SEA
De Maurícia Neves
Estreia
Casa do Povo, Rua de Olivença

NÓS AQUI NESTE PASSINHO, VAMOS ATÉ O SOL RAIAR
De Michelle Moura e Sara Anjo, com oito performers
Brasil/ Portugal
Largo de S. João

ADRIANO JÁ NÃO MORA AQUI
De Rui Catalão, com Adriano Diouf
20h30, Adega da Casa de Atalaia, Rua Heliodoro Salgado

DAS CINZAS
FIAR, Centro de Artes de Rua de Palmela
Estreia
21h00, Parque Venâncio Ribeiro da Costa (entrada pela Rua Heliodoro Salgado, junto ao MOJU)

1.5o PONTO DE EQUILÍBRIO
Erva Daninha
22h00, Cineteatro S. João

ENCERRAMENTO
CONCERTO COM O GAJO
23h00, Anfiteatro do Parque Venâncio Ribeiro da Costa (entrada junto ao Culto Café)

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