430 identificados na apanha de amêijoa no Samouco

Operação teve como principal objetivo detetar indícios de tráfico de seres humanos

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras identificou nesta segunda-feira 645 pessoas, 430 delas estrangeiras, a maioria da Europa de Leste e da Ásia, a praticar apanha ilegal de amêijoa no rio Tejo, informou o serviço de segurança. Durante a Operação Maré, realizada na praia do Samouco, em Alcochete, foram ainda efetuadas três detenções por permanência irregular em Portugal e foram notificados para abandono voluntário do país oito cidadãos estrangeiros. A operação, que envolveu 50 inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e teve a colaboração da GNR e da Polícia Marítima, levou à apreensão de cerca de 4500 quilogramas de amêijoa.
Fiscalização decorreu esta segunda-feira 



No local, o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras dispôs de três postos de intervenção, onde foram realizados a revista pessoal dos cidadãos, o controlo documental e a consulta às bases de dados, com recurso a uma viatura de controlo e identificação, a Schengen Bus.
No terreno da operação esteve ainda um elemento do SEF da área da peritagem documental.
Segundo o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, a operação teve como principal objetivo detetar indícios de tráfico de seres humanos, aliado a uma estrutura organizada de âmbito transnacional, e foi realizada precisamente no dia em que as Nações Unidas assinalam o Dia Mundial contra o Tráfico de Seres Humanos.
"Uma operação realizada no âmbito do controlo da permanência de cidadãos estrangeiros em situação irregular e da prevenção e combate a fenómenos associados à exploração de imigrantes, designadamente relacionadas com a prática dos crimes de auxílio à imigração ilegal, utilização da atividade de cidadão estrangeiro em situação irregular e tráfico de pessoas", sublinhou o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.

Máfia da amêijoa escraviza imigrantes de origem asiática
Os trabalhadores de origem asiática foram detetados, no início de Maio, pela Polícia Marítima no rio Tejo e estavam a viver em condições precárias em antigas pocilgas de porcos. O Serviço de Investigação da Polícia Marítima detetou um novo esquema criminoso que usa mão de obra ilegal para trabalhar na apanha da amêijoa. Os trabalhadores, de origem asiática, chegam através de circuitos de tráfico de pessoas e imigração ilegal.
A Polícia Marítima detetou, na altura, entre 100 a 200 apanhadores, oriundos de países como o Laos e Vietname, no rio Tejo. De acordo com alguns testemunhos, estes trabalhadores vivem nas zonas de Alcochete e do Samouco em condições precárias, ficando a dormir em antigos pavilhões de quintas que eram usados para guardar animais, como antigas pocilgas de porcos.
Na altura,  a Polícia Marítima desvendou um esquema criminoso que recorre a mão de obra ilegal para trabalhar na apanha da amêijoa, no rio Tejo. Os trabalhadores, de origem asiática, chegam através de circuitos de tráfico de pessoas e imigração ilegal, revelou o Jornal de Notícias numa investigação divulgada em Maio.
Este esquema foi detectado já durante este ano e é por isso que não há qualquer referência ao mesmo no Relatório Anual de Segurança Interna e 2017, que apenas relatava a mão de obra oriunda do leste europeu. O jornal Expresso tinha já realizado uma reportagem sobre a mão-de-obra escrava no rio Tejo para a apanha de amêijoas.
De acordo com a reportagem, da jornalista Raquel Moleiro, "são mais de mil. Todos os dias apanham no Tejo toneladas de amêijoas japonesas, contaminadas mas que geram milhões. Não para eles. Tailandeses e romenos são controlados por redes que começam no estuário e terminam na Galiza. Pelo caminho há agressões, armas, furtos, falsificações, fraude fiscal, atentados à saúde pública, exploração laboral e suspeitas de tráfico humano". “Escravos do Rio”,  foi um dos três trabalhos distinguidos na 20ª edição do Prémio AMI – Jornalismo Contra a Indiferença. 
Existem suspeitas de que estes trabalhadores asiáticos sejam igualmente utilizados noutros países europeus, conforme a altura do ano. Os trabalhadores estarão com os seus passaportes retidos pelos engajadores

Agência de Notícias

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