A politica entra em força na crise social na Autoeuropa

Governo foi a Milão falar com o CEO da Volkswagen para garantir apoio 


 A "política" entrou "em força" na paz social da empresa. Com o PS de Setúbal a dizer que a greve na Autoeuropa ficou marcada por “tentativas de instrumentalização política dos seus trabalhadores". Já a presidente do CDS-PP, disse que a greve “uma guerra entre a área mais afeta à CGTP e ao PCP e a área mais afeta ao Bloco de Esquerda”, acusou Assunção Cristas. Respondeu a líder bloquista que considera que esta é "uma luta que os portugueses compreendem ser essencial, porque se trata do direito de conciliar o trabalho com vida familiar", diz Catarina Martins. O presidente do PSD alertou que "guerras sindicais" e "razões de pequena política" podem "vir a desbaratar" as conquistas da Autoeuropa e pôr em causa o "peso nas exportações". “Isso é uma parvoíce porque, ainda ontem, ouvindo Passos Coelho, fez uma deriva clara em que esqueceu este pormenor: foi por vontade própria, expressa pelos trabalhadores da Autoeuropa, que se realizou essa greve”, respondeu Jerónimo de Sousa, o líder do PCP.  Pelo meio, o ministro da Economia, Manuel Caldeira Cabral, disse que o Governo tem "estado em contacto" com as duas partes no impasse que vigora na Autoeuropa, informando ter-se também reunido com o presidente executivo da Volkswagen. 
Greve na Autoeuropa divide partidos em Portugal 

O governante negou que da parte da tutela esteja a haver um silêncio estratégico "O Governo tem estado atento e em contacto com as duas partes. Estive em Milão com o CEO da Volkswagen para lhe transmitir que este é um investimento muito importante e no qual o país está empenhado", disse.
Neste cenário, Manuel Caldeira Cabral defendeu que se deve tentar "conseguir encontrar uma posição comum entre a administração da empresa e os interesses da administração e as reivindicações naturais dos trabalhadores".
"Penso que é nesse sentido que a administração está a trabalhar, com sentido de responsabilidade, a mesma com que os trabalhadores estão a tentar encontrar uma plataforma de entendimento para que haja paz social", acrescentou.
No seu entender, essa paz social “tem sido uma marca desta empresa e uma marca que reforçou muito a atração deste investimento”.
Por isso, mostrou “certo de que em investimentos futuros a Volkswagen vai continuar a apostar nesta fábrica".
Mantendo o otimismo em relação ao diferendo na fábrica de produção de automóveis de Palmela, o ministro reafirmou que "vai ser possível encontrar uma solução".

PS fala em "guerra partidária" 
A secretária-geral adjunta do PS afirmou, em Palmela que está "chocada" com situação na Autoeuropa, que levou à realização de uma greve na passada quarta-feira, considerando que existe uma "guerra partidária" naquela empresa.
"A mim choca-me particularmente olhar para o que está a acontecer hoje na Autoeuropa. Não me choca o direito à greve - os trabalhadores têm direito à greve e esse direito deve ser respeitado, sempre. Mas choca-me que não haja capacidade para que hoje possamos ter diálogo e uma paz social como sempre tivemos na Autoeuropa", disse Ana Catarina Mendes.
"E choca-me por duas coisas: em primeiro lugar pelo que isso possa implicar em termos de, ou deslocalização desta empresa para fora [do país] - e é fácil que o façam -, significando, um aumento exponencial do desemprego na região e, em particular, que não seja possível que os sindicatos possam dialogar com a comissão de trabalhadores e com a administração", disse à Lusa a secretária-geral adjunta do PS, à margem de uma homenagem a Mário Soares e Maria Barroso, na sede do PS em Palmela. 
A dirigente socialista manifestou expectativa que "na reunião prevista para a próxima semana, na nova ronda de negociações, impere o bom-senso e o diálogo para que os postos de trabalho sejam salvaguardados".
Ana Catarina Mendes lembrou ainda que a Autoeuropa é uma empresa que tem sido, desde 1997, "um dos melhores exemplos da economia, da região e do país", que representa "0,8 por cento do PIB" e que constitui "um modelo de diálogo e de paz social".
Acompanhada pelo candidato socialista à presidência da Câmara de Palmela, Raúl Cristóvão, a secretária-geral adjunta do PS disse ainda que os candidatos e os futuros eleitos das autarquias locais têm o dever de olhar para o poder local como parceiros de desenvolvimento da região, também para dar resposta a novas questões como aquelas que agora resultam dos novos horários da Autoeuropa.

CDS-PP culpa as "guerrilhas" da esquerda
Assunção Cristas culpa guerra entre BE e PCP 
A presidente do CDS-PP atribuiu esta quinta-feira a greve na Autoeuropa à conquista de espaço de reivindicação entre forças afetas ao PCP e ao BE, lamentando que uma empresa exemplar seja "palco de outras guerras".
"O que assistimos é um processo em que se digladiam forças que pretendem conquistar aquele espaço de reivindicação laboral e é basicamente uma guerra entre a área mais afeta à CGTP e ao PCP e a área mais afeta ao Bloco de Esquerda", defendeu Assunção Cristas. 
Em declarações à Lusa, a líder centrista considerou "lamentável que esta empresa seja palco de outras guerras que não têm a ver com os direitos dos trabalhadores" e com a sua atividade.
"A Autoeuropa tem sido até agora um exemplo de diálogo e de capacidade de resolução de problemas e de conquista de direitos por parte dos trabalhadores por via do diálogo", afirmou Assunção Cristas.
A presidente do CDS-PP sublinhou que a "Autoeuropa é um marco importante na atividade económica do país" e das suas exportações e defendeu que "as vias do diálogo devem ser as privilegiadas, como têm sido até agora" na empresa.
"Vi esta greve com preocupação e com uma nota de lamento por assistirmos a algo que pouco tem a ver com as questões centrais que interessam aos trabalhadores, à empresa, e ao país, do ponto de vista de estabilidade, de tranquilidade nas relações económicas e de crescimento económico por via cooperativa e construtiva", sustentou.

BE diz que se trata do direito de conciliar o trabalho com vida familiar
A coordenadora do BE, Catarina Martins, considerou que a luta dos trabalhadores da Autoeuropa é uma luta que os portugueses compreendem ser essencial, porque se trata do direito de conciliar o trabalho com vida familiar.
Salientando que não ouviu as declarações da dirigente socialista, Catarina Martins explicou que a Autoeuropa vai aumentar a produção e que "foi feito um pré-acordo com sindicatos, comissão de trabalhadores, com toda a gente já há quase dois anos, quando foi decidido aumentar a produção" e ter "um novo modelo".
"Mas agora é preciso, no concreto, compreender como é que vai organizar a vida dos trabalhadores para que seja possível aumentar a produção sem que os trabalhadores percam o direito a ter vida familiar. E essa luta, a de conciliar o trabalho com a vida familiar e ter direito ao descanso é uma luta que toda a gente em Portugal compreende como é essencial neste momento", disse Catarina Martins.
No seu entender, "esta luta da Autoeuropa é uma luta muito importante" para a empresa e para os trabalhadores, "porque é de facto necessário pôr em cima da mesa o direito que todos os trabalhadores e trabalhadoras têm de ter a conciliar a vida familiar com o trabalho", sublinhou a responsável do Bloco de Esquerda. 

PSD diz que há "guerras sindicais" e "razões de pequena política" 
O líder do PSD alertou na sexta-feira à noite para que "guerras sindicais" e "razões de pequena política" podem "vir a desbaratar" as conquistas da Autoeuropa e pôr em causa o "peso nas exportações" que a multinacional representa.
"Eu não gostaria de que, por razões de pequena política, esse resultado [a conquista pela Autoeuropa da produção de um novo modelo automóvel], que foi um resultado tão importante para a economia portuguesa, para os portugueses, pudesse vir a ser desbaratado por guerras sindicais que têm outro objetivo", afirmou Pedro Passos Coelho. 
O ex-primeiro-ministro salientou ainda que a primeira greve na história daquela multinacional ocorreu quando a "geringonça" está no poder, o que é um "indicador" das prioridades dos partidos que a sustentam.
"Hoje, creio que dentro da própria maioria já se ouvem acusações mútuas, nomeadamente entre o Bloco de Esquerda e o Partido Comunista Português, sobre a instrumentalização que está em curso e que pretende, de certa maneira, dar à CGTP uma porta de entrada mais significativa naquela empresa e na relação de forças com o Governo", salientou Pedro Passos Coelho.
Para o presidente dos sociais-democratas, "o que devia estar ali em causa era a possibilidade de mais trabalhadores poderem ser contratados, mais emprego e, portanto, crescer com aquilo que foi a ampliação com o novo modelo", decidido ainda no tempo em que o PSD era governo, coligado com o CDS-PP, mas, referiu, "isso manifestamente está a passar para um segundo plano".
Passos Coelho referiu que "para o ano Portugal deveria beneficiar muito em termos de exportações, de peso nas exportações, da produção deste novo veiculo na Autoeuropa e era muito importante que Portugal mantivesse do lado destes investidores um perfil muito competitivo, em que as divergências, a existir, entre a Comissão de Trabalhadores e a administração da empresa pudessem ser superadas como foram em todos estes anos".
Alias, salientou, "esta foi, portanto, a primeira greve em mais de 25 anos" de presença da Autoeuropa em Portugal.

O PCP diz que "os trabalhadores têm razões para defender os seus horários" 
PCP diz que trabalhadores devem recusar trabalhar ao sábado 
“Isso é uma parvoíce porque, ainda ontem, ouvindo Passos Coelho, fez uma deriva clara em que esqueceu este pormenor: foi por vontade própria, expressa pelos trabalhadores da Autoeuropa, que se realizou essa greve”, respondeu Jerónimo de Sousa aos jornalistas durante uma visita à Festa do Avante!, a rentrée comunista. Para o líder do PCP, o que “é importante é que sejam respeitados os direitos dos trabalhadores e assegurada a produção e o seu desenvolvimento”.
“Os trabalhadores têm razões fundas para defender os seus horários de trabalho. Estamos a falar de um avanço civilizacional, não estamos a falar de um direito qualquer, que não pode ser incompatível com o desenvolvimento da produção e da própria empresa”, justificou. Jerónimo de Sousa explica por isso que, se “em nome de mais competitividade e dos interesses da empresa”, se sacrificam direitos fundamentais, “naturalmente os trabalhadores terão que reagir a isso”.
“Nós continuamos a considerar que não há aqui nenhuma dicotomia, é possível respeitar e proteger os direitos dos trabalhadores e simultaneamente continuar a desenvolver a produção a esse nível e nessa empresa”, defendeu. Os trabalhadores da Autoeuropa cumpriram na quarta-feira um dia de greve, a primeira paralisação por razões laborais na fábrica de automóveis da Volkswagen, em Palmela.
A greve foi marcada após a rejeição de um pré-acordo entre a administração e a Comissão de Trabalhadores (que apresentou a demissão e convocou eleições para 3 de Outubro), devido à obrigatoriedade de os funcionários trabalharem ao sábado, como está previsto nos novos horários de laboração contínua que serão implementados a partir do próximo mês de Novembro.
Os trabalhadores alegam que, além do transtorno que a obrigatoriedade do trabalho ao sábado iria provocar nas suas vidas, a compensação financeira atribuída pela empresa é muito inferior ao que iriam receber pelo trabalho extraordinário aos sábados. De acordo com o novo modelo de horários, cada trabalhador iria rodar nos turnos da manhã e da tarde durante seis semanas e faria o turno da madrugada durante três semanas consecutivas, com uma folga fixa ao domingo e uma folga rotativa nos outros dias da semana.






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