Pires de Lima recua na garantia sobre Autoeuropa

Ministro reconhece que não sabe se foram produzidos carros com o ‘kit' fraudulento em Palmela 

Duas semanas depois de rebentar o escândalo em torno da Volkswagen, Pires de Lima está menos seguro quanto às garantias a dar aos carros que foram produzidos pela Autoeuropa. E o ministro da Economia não esconde que a crise no maior construtor automóvel europeu pode acabar por afectar a fábrica de Palmela. Segundo Pires de Lima, o executivo "não pode garantir o número de veículos" que a Autoeuropa vai produzir nos próximos anos. Pires de Lima disse ainda que o avultado plano de investimento que a Autoeuropa assinou no ano passado com o Estado continua em curso. O grupo alemão decidiu investir cerca de 670 milhões de euros ao longo de cinco anos (o que inclui contrapartidas estatais), para adaptar a fábrica a receber um novo modelo do grupo. "Não temos garantias nenhumas, porque este é um rombo sério que a marca Volkswagen tem em termos da sua reputação, mas o investimento continua em execução”. A unidade de Palmela emprega 3600 trabalhadores e produz 460 carros por dia. 
Governo diz que investimento de 670 milhões em Palmela está em curso

Apesar das reticências quanto à produção da Autoeuropa, o ministro da Economia garante que o investimento de quase 700 milhões de euros contratualizado em 2014 com a Volkswagen é para cumprir. "Este investimento está em curso e não há nenhuma novidade que ponha em causa este investimento", garantiu Pires de Lima, sublinhando que está a trabalhar com o construtor alemão para que o mesmo "se concretize dentro dos ‘timings' [prazos] que está previsto, com os apoios que foram previstos".
Certo é que a crise já se começa a sentir por toda a Europa, com pelo menos uma das 119 fábricas a abrandar a produção, enquanto os serviços financeiros na Alemanha congelaram as contratações.
Quanto à eventualidade dos carros produzidos na Autoeuropa poderem ter sido vendidos com o ‘kit' fraudulento instalado, o ministro da Economia lembra que o processo evoluiu no espaço de uma semana. Por isso, se na última semana assegurava que era " muito improvável que tenham sido produzidos automóveis [em Palmela] com incorporação deste ‘chip' fraudulento", agora já admite que " todas as fábricas que produziram para o mercado europeu não estão livres de terem produzido automóveis com a incorporação desse kit fraudulento, incluindo a Autoeuropa".
Pires de Lima considera que "deve ser a Autoeuropa a dar explicações", mas avança que de acordo com a informação de que dispõe "nos últimos meses a Autoeuropa não produziu motores diesel EU5", já que está a produzir os motores EU6.

Investimento “em execução”
Fonte da fábrica de Palmela admite que este caso de falseamento de emissões é inédito e, por isso, mesmo, não sabe como é que a marca vai resolver a situação. “Já assistimos a casos em que há problemas com determinadas peças de modelos que são vendidos e estes casos são simples de resolver. Os proprietários desses veículos são chamados à fábrica para que essas peças sejam substituídas. Mas esta situação é diferente, já que estamos a falar da instalação de um chip que serve para deturpar informações sobre a emissão de gases poluentes”, salienta Pires de Lima.
Nas últimas semanas, alguns veículos produzidos na fábrica de Palmela foram recolhidos por problemas no airbag: o Scirocco, na China e o Eos, no Brasil. Segundo a informação publicada no site da Volkswagen do Brasil, o defeito em causa pode implicar “risco de danos físicos ou fatais ao motorista, devido à não deflagração do airbag em uma colisão que demande o seu accionamento”.
A empresa em Portugal emprega 3600 trabalhadores e com o fim do modelo Eos está a produzir diariamente 460 veículos em vez dos 500 por dia que fábrica produzia com o anterior modelo.
A unidade de produção em Palmela, uma das 119 na Europa (a que se somam 11 fábricas noutros continentes) não viu alterada a produção desde que o caso rebentou, no dia 18 de Setembro, e continua a fabricar 460 automóveis por dia. Mas o grupo alemão está ainda a desenrolar o plano para lidar com a crise e este poderá incluir cortes nos volumes de fabrico.
O impacto na reputação das marcas do grupo, e nas respectivas vendas, é, por ora, difícil de medir. A comercialização de alguns modelos está a ser suspensa. Em Portugal, ao longo de Setembro, as vendas da Volkswagen, Seat, Audi e Skoda continuaram a crescer.
Para além disto, a cotação em bolsa tem vindo a cair e a companhia poderá enfrentar problemas de financiamento, se as agências de notação vierem a descer a nota que atribuem à empresa e que é usada para a obtenção de crédito. As três grandes agências – a Fitch, a Moody’s e a Standard & Poor’s – já avisaram que poderão cortar a classificação.

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