Começou o ano dedicado a Bocage em Setúbal

Setúbal evoca 250 anos do nascimento de Bocage

15 de Setembro. No dia em que se assinalou o 250.º aniversário do nascimento de Manuel Maria Barbosa du Bocage, a cidade de Setúbal prestou ontem tributo a um dos seus maiores símbolos, "poeta de Setúbal, poeta da liberdade, poeta do povo", segundo vincou a presidente da Câmara, Maria das Dores Meira, na sessão do solene do Dia de Bocage e da Cidade. Depois do hastear da bandeira e da colocação de flores junto à estátua do poeta, também conhecido por Elmano Sadino, na sessão solene foi elencado, ainda que de forma superficial, um vasto programa de celebrações para o próximo ano. Este programa, visa, segundo as palavras de Maria das Dores Meira, tornar mais presente o poeta nas "ruas da cidade onde nasceu, da cidade que verteu nas linhas límpidas da escrita que nos legou". Por outro, "fazer com que os setubalenses se apropriem do poeta, que o sintam como seu, que o conheçam melhor, o declamem, falem dele, se alegrem e entristeçam com o que escreveu e sejam capazes de ler a atualidade das palavras que compôs há dois séculos". E "privilegiar a comunidade educativa na sua aproximação a Bocage e à sua obra". Por fim, "internacionalizar Bocage". As comemorações duram um ano. Durante a sessão solene, foram homenageadas 36 personalidades e instituições. O galardão mais alto, Medalha da Cidade em Prata, foi para o bispo de Setúbal, D. Gilberto Canavarro dos Reis.
Povo de Setúbal homenageou 250 anos de Bocage 

 O Salão Nobre dos Paços do Concelho recebeu a sessão solene de abertura das Comemorações dos 250 Anos do Nascimento de Bocage, em que foi apresentada a comissão de honra do programa, presidida pelo Presidente da República.
Maria das Dores Meira, acompanhada na mesa pelo secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), Murade Murargy, e por Daniel Pires, investigador bocagiano e membro da comissão científica das comemorações, sublinhou que o programa comemorativo, com a duração de um ano, é “algo que a cidade deve ao seu poeta maior”.
A autarca salientou a “vontade de internacionalizar Elmano Sadino” e de trazer“Bocage para o século XXI, acentuar a sua modernidade, a sua capacidade transgressora na caracterização da sociedade e o seu inconformismo e mundanidade”.
Murade Murargy, natural de Moçambique, frisou que Bocage “marcou as nossas vidas [de estudante]” e que representa um papel unificador dos povos e das culturas que integram os nove países da CPLP.
A obra do poeta, adiantou o secretário executivo, “representa um património inestimável para Setúbal, mas também para Portugal e para todos os países que partilham a língua portuguesa”.
Daniel Pires, que, pelo facto de ser um dos maiores peritos na biografia e bibliografia bocagiana, apresentou várias iniciativas realizadas nas comemorações de ontem, realçou a atualidade da obra de Bocage, reforçando a qualidade poética de Elmano Sadino, “que rivaliza com a de Camões”, e destacou as virtudes da personalidade de Bocage, que, empenhado nos valores do Iluminismo, “defendeu ideais da Revolução Francesa e direitos alienáveis da liberdade”.
O investigador considera que “é um ato de elementar justiça estas comemorações”, um programa que, indicou, além de dimensão local e nacional, com a associação, por exemplo, da Biblioteca Nacional de Portugal e do Arquivo Nacional da Torre do Tombo, também inclui eventos no estrangeiro.
Daniel Pires, que também é presidente do Centro de Estudos Bocageanos, lançou ao final da tarde, na Casa da Cultura, a obra de que é autor “Bocage – A Imagem e o Verbo”.
Acompanhado do vereador da Cultura, Pedro Pina, o investigador salientou que se trata de um trabalho que “levou dez anos a fazer e que leva 600 e tal imagens que retratam a vida e a época de Bocage”.
A obra, que consiste, na essência, numa recolha iconográfica de temáticas relacionadas direta ou indiretamente com Manuel Maria Barbosa du Bocage, é uma edição com a qualidade da Imprensa Nacional – Casa da Moeda, em colaboração com a Câmara Municipal de Setúbal.
Pedro Pina, num registo de humor, denunciou Daniel Pires como “um ávido desportista, pois percorreu uma autêntica maratona ao contribuir na preparação do programa das comemorações dos 250 anos de Bocage e a ultimar uma publicação com a qualidade ímpar agora apresentada”.
As festividades do Dia de Bocage e da Cidade também assinalaram a vertente tradicional de Setúbal. As comemorações decorrem durante todo o ano. Neste contesto, destaque para o 1.º Congresso Internacional Bocage, a ter lugar no próximo ano. No fundo, um vastíssimo conjunto de iniciativas, algumas de nível nacional, num ano de "intenso espírito bocageano" e de valores que defendeu, como a "liberdade" e a "crítica aos poderes abusivos".

Setúbal homenageou 36 personalidades e instituições
Joana Melo recebeu medalha em nome do pai, o ator Nuno Melo 
Durante a sessão solene, foram homenageadas 36 personalidades e instituições. O galardão mais alto, Medalha da Cidade em Prata, foi para o bispo de Setúbal, D. Gilberto Canavarro dos Reis.
“Fui apanhado de surpresa. Por uma surpresa agradável”, confessou D. Gilberto Canavarro dos Reis, bispo de Setúbal, agraciado com a Medalha de Prata da Cidade, uma das principais condecorações da Câmara Municipal.
O clérigo, natural do concelho de Vila Pouca de Aguiar, confessou que, como indivíduo, “tinha muitas marcas de Trás-os-Montes. Depois, muitas marcas do Porto. Agora, sem dúvida alguma, muitas também de Setúbal”, onde reside há 17 anos.
 Maria das Dores Meira, salientou no início da cerimónia de entrega das condecorações da cidade que o cunho de Bocage ultrapassou a poesia bem escrita, legando uma vontade permanente de lutar pela liberdade, “do direito de querer viver melhor”.
Além do bispo de Setúbal, que recebeu a Medalha de Prata, outras 35 personalidades e instituições foram agraciadas esta manhã com a Medalha de Honra da Cidade.
Na classe Atividades Culturais, Joana Melo, filha de Nuno Melo, recebeu a condecoração que a autarquia dedicou ao ator a título póstumo. Emocionada, a jovem recuperou um texto do pai onde descreve a paixão e as dificuldades da vida de ator, profissão à qual, nas palavras do próprio, “deu tudo”.
Uma das medalhas na classe Desporto foi entregue ao selecionador nacional de futebol de praia, Mário Narciso, que liderou a equipa às recentes conquistas dos campeonatos do Mundo e da Europa.
O técnico setubalense começou por agradecer à Autarquia o reconhecimento e, logo a seguir, pediu à desculpa à família “pelo tempo que a profissão tem roubado”.
O selecionador deixou ainda uma palavra especial a Humberto Coelho, vice-presidente da Federação Portuguesa de Futebol, presente na cerimónia, “por toda a confiança depositada”.
As Medalhas da Cidade são entregues a individualidades ou instituições que se destaquem por serviços excecionais ou de relevo prestados em prol do concelho e dignos de reconhecimento geral.
A lista de condecorados com as Medalhas de Honra da Cidade atribuídas durante a cerimónia incluiu também, na classe Atividades Culturais, o escultor João Limpinho, a título póstumo, os músicos José Marquês de Sousa e Pedro Marquês de Sousa, pai e filho que dedicaram a vida à Sociedade Filarmónica Providência, o diretor do Fórum Municipal Luísa Todi, João Pereira Bastos, o pintor Eduardo Carqueijeiro e a bailarina Ana Sendas.
Na mesma classe, foi entregue a Medalha de Honra à investigadora francesa de etnofisiologia Noëlle Perez da Fonseca e ao pesquisador etnológico italiano Stefano Lenzi.
Na classe Desporto, além de Mário Narciso, foram agraciados Mário Mestre, presidente do Clube Desportivo “Os Pelezinhos”, Domingos Vieira, antigo diretor da Meia Maratona Internacional de Setúbal, Manuel Santana, dirigente associativo e antigo jogador e treinador de futebol, Custódio Carvalho Pinto, ligado ao associativismo desportivo, e o Vólei Clube de Setúbal.
Na classe Associativismo e Sindicalismo, receberam a Medalha de Honra António da Cunha Bento, com atividade desenvolvida na Associação Cultural Sebastião da Gama e na Liga dos Amigos de Setúbal e Azeitão, António Manuel Fernandes Alves, que se destacou ao serviço de várias coletividades, e Francisco Alves Monteiro, dirigente do Corpo Nacional de Escutas.
Ainda em Associativismo foi condecorado João Marques de Carvalho, antigo vereador da Câmara Municipal, que também desempenhou os cargos de presidente da Junta de Freguesia de S. Simão e da Sociedade Filarmónica Providência.
Na mesma classe, a Autarquia atribuiu a Medalha de Honra à APAV – Associação Portuguesa de Apoio à Vítima, a Josué Monteiro, dirigente durante várias décadas do Vitória Futebol Clube, à  Associação dos Comerciantes do Mercado do Livramento, a Armando Oliveira, presidente da Comissão de Festas de Nossa Senhora do Rosário de Troia, e a José Lopes, pescador com atividade na mesma comissão de festas.
O padre Constantino Gonçalves Alves foi agraciado na classe Paz e Liberdade, assim como o padre Luís Manuel Ferreira e Rui D’Espiney.
Em Ciência e Tecnologia foram agraciados a docente e dirigente educativa Maria da Fé Costa, que se destaca na área do Ensino, Carlos Cunha, professor com vários projetos galardoados, inclusivamente pela empresa Microsoft, e Luís Sousa, chairman e CEO da Euronext Lisbon e da Interbolsa.
Por fim, na classe Comércio foram distinguidos João Carlos Gonçalves Casimiro, um dos mais antigos comerciantes de Setúbal e popularmente conhecido por “João Farelo”, a Celui, empresa familiar orientada para a moda nupcial, batizados e comunhões, e Clementina Calado, comerciante da Baixa de Setúbal conhecida por “Tininha”.
A Óptica Pita, antiga empresa familiar, e a Quinta de Alcube, produtora vitivinícola com vários prémios nacionais e internacionais, também foram condecoradas com a Medalha de Honra da Cidade na Classe Comércio.











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