Agressões e sequestro na Festa do Avante no Seixal

PCP diz que incidentes na Festa do Avante começaram com sexo oral

A Polícia Judiciária e a PSP estão a investigar atos de grande violência, incluindo a de um jovem homossexual, que aconteceram dentro do recinto da Festa do Avante, na Amora, Seixal. As vítimas dizem terem sido espancadas por elementos da segurança, identificados com a palavra “Apoio”, e em seis casos já foram apresentadas queixas-crime. O Expresso noticiou que uma das agressões teria sido motivada por um beijo entre dois homens, mas o PCP já reagiu. O partido afirma que os incidentes não começaram com um beijo mas com um ato sexual: “A verdadeira razão do incidente que conduziu à saída das pessoas do recinto da Festa teve origem num ato de sexo oral em pleno espaço público”, dizem os comunistas. Entre as queixas, encontram-se alegados casos de agressão roubo e sequestro. A Polícia Judiciária está ainda a investigar outros dois casos, mais graves. "Se não houver uma tomada de posição por parte do Partido Comunista, só podemos ver este ato como ódio homofóbico." É assim que António Serzedelo, presidente da Opus Gay, associação que defende os direitos dos homossexuais, reage à agressão. 
Polícia investiga agressões e sequestro na Festa do Avante 


Para além das quatro queixas-crime já formalizadas, a PSP tem conhecimento de outros casos de agressão. Entre os agredidos, encontra-se um homem de 55 anos, militante de longa data do PCP, que se prepara para apresentar queixa. Ao Expresso, José P., de baixa há uma semana, relatou a forma como foi agredido e levado para uma carrinha de apoio da Festa do Avante contra a sua vontade.
José, que trabalhou na construção da festa, conta que estava sentado numa estrada de apoio de terra batida a “descansar” depois de ter bebido “uns copos” quando uma equipa de apoio lhe disse que tinha de sair dali. Acabou por ser levado para uma carrinha onde, durante vários minutos, foi espancado.
Uma outra vítima, um ativista de esquerda espanhol, terá também já relatado às autoridades a agressão de que foi alvo da parte de um grupo de “homens com uma farda azul escura com a palavra ‘apoio’ escrita nas costas”. Manuel, de 34, estava a beijar um rapaz quando foi abordado por três homens que lhe terão dito “que tinham de ir embora dali” porque o que estavam a fazer era “proibido”.
Ao questionar qual era a lei em Portugal que “impedia o amor”, o espanhol terá também sido fechado dentro de uma carrinha e levado “socos e pontapés”. Uma vez fora do recinto, decidiu tentar tirar fotografias aos seguranças com o telemóvel. Mas eles aperceberam-se e voltaram a enfiar Manuel dentro da mesma carrinha. Vendaram-lhe os olhos e apertaram-lhe o pescoço com uma corda enquanto lhe “chamavam maricas”.

PCP acusa jornal de "diminuir " a festa 
Contactado pelo Expresso, o gabinete de imprensa do PCP não desmentiu o sucedido, referindo apenas que “situações como as descritas” não correspondem “à prática, às orientações e aos princípios que norteiam a atuação dos membros do partido na Festa do Avante”. Ao jornal, garantiu ainda que “a Festa do Avante encaminha para as autoridades” todas as situações “excecionais numa iniciativa desta dimensão, consideradas não conformes com o ambiente e tranquilidade da Festa”.
Em resposta à reportagem publicada no Expresso, o gabinete de imprensa da Festa do Avante publicou este sábado um comunicado no site do PCP em que acusa o semanário de ter inserido “na edição de hoje uma peça provocatória e difamatória” em que se registam “critérios e operações que procuram diminuir a dimensão política, cultural e de convívio” da Festa.
Reafirmando o que já tinha sido dito em resposta às perguntas colocadas pelo jornal, nomeadamente que as situações referidas “não correspondem à prática, às orientações e aos princípios que norteiam a atuação dos membros do Partido na Festa do Avante”. 
Apesar das agressões, o partido acusa o Expresso - jornal que revelou a existência de atos de violência - de uma campanha de difamação: “Os que visitam anualmente a Festa do Avante! conhecem bem o ambiente de respeito para com todos quantos nela participam". Num comunicado anterior, o PCP já havia garantido que quaisquer comportamentos inadequados por parte dos elementos que prestam apoio no recinto levariam a uma intervenção da direção da Festa.
No entanto, de acordo com outro jornal, o Sol, a PSP questiona o facto de o pessoal do “Apoio” na Festa do Avante não estar acreditado pelo Comando da PSP, algo que dizem ser de legalidade duvidosa uma vez que as suas funções passam pela vigilância do recinto.
À semelhança de anos anteriores, repetiram-se as queixas de violência durante o Avante. Algumas pessoas dizem ter sido sequestradas e agredidas, levadas numa carrinha para um mato por parte dos ‘seguranças’. A PSP também recebeu mais de 20 queixas por roubos e furtos, não só no interior do recinto, como também no exterior e área de campismo. Estes terão sido praticados por grupos de bairros.

Agressão foi "ódio homofóbico"
"É lamentável que nos dias de hoje ainda haja agressões motivadas por estas razões. Muita da militância do Partido Comunista ainda é preconceituosa e conservadora", disse o presidente da Opus Gay, que exige uma tomada de posição por parte do partido: "Eles têm alguma dificuldade em aderir à modernidade. Deviam pedir desculpa aos envolvidos e admoestarem os agressores". E, com as eleições a aproximarem-se, António Serzedelo tem uma certeza: "Isto não é nada bom para a campanha eleitoral deles. Somos um grupo muito unido que não tolera ações destas".
A Opus Gay diz ainda que Portugal é um país preconceituoso e que “beijar não é crime”. Contactado pelo Expresso, António Serzedelo, presidente da Opus Gay, defende que o PCP devia “pedir desculpa às vítimas”.
Devem sancionar os seguranças, senão somos levados a pensar que os comunistas vestem um fato que não lhes serve e que, afinal, o rei vai nú”, disse o presidente da Opus Gay, acrescentando que “beijar não é crime em Portugal. Nos países islâmicos é que é”.
Para Paulo Corte-Real, vice-presidente da ILGA, o ataque a Manuel trata-se de um crime de ódio motivado por preconceitos homofóbicos, uma vez que está relacionado com “uma manifestação pública de afeto”. “O preconceito, infelizmente, é transversal” na sociedade portuguesa, defendeu o represente da ILGA Portugal.

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