Festroia 2015 cancelado por falta de verbas em Setúbal

A falta de apoios privados e o corte de fundos europeus ditou a decisão

O Festroia, um dos mais antigos festivais portugueses de cinema e o mais importante da região de Setúbal, deveria cumprir a 31ª. edição na primeira semana de Junho, mas a direção decidiu-se pelo cancelamento, por só ter cerca de metade dos 200 mil euros necessários à concretização. Em comunicado, a Câmara de Setúbal, como principal parceiro e financiador do Festroia, “lamenta, profundamente, a impossibilidade de realizar este certame em 2015 devido ao corte total de apoios financeiros do Estado”. Só desde 2002, os apoios financeiros diretos aprovados pela Câmara sadina ascendem a um milhão 633 mil e 400 euros, valor que indica a real dimensão do empenhamento municipal nesta iniciativa”, explica a autarquia acrescentando, porém, que o município isolado é “incapaz de garantir todos os meios financeiros necessários à concretização do festival”, disse o gabinete de imprensa da Câmara de Setúbal.
Festroia suspenso ao fim de 30 anos por falta de dinheiro 

De acordo com um comunicado de imprensa, a Associação Cultural Festroia informa que devido à falta de apoios que permitam a sua realização, não haverá este ano a 31ª edição do Festival Internacional de Cinema de Setúbal.
O mesmo comunicado diz que "embora a Associação e a Câmara Municipal de Setúbal tenham envidado todos os esforços para conseguir apoios suficientes à realização do Festival, o mesmo não foi possível".
Segundo Fernanda Silva, directora do festival, estavam assegurados apoios financeiros por parte da autarquia de Setúbal e do Instituto do Cinema e Audiovisual, a par de apoios pontuais de outras entidades da região, mas “de apoio privados o festival teve zero“. “Setúbal é uma região pobre, passa por dificuldades e a cultura também começa a levar pancada nesta zona. Dei o meu melhor e estarei por aqui, mas infelizmente é assim”, lamentou.
Fernanda Silva disse ainda que “os apoios europeus também sofreram cortes e estão cada vez mais dificultados. São apoiados menos festivais portugueses e o Festroia que recebia sempre o apoio máximo [75 mil euros], desta vez não teve apoio. Não se percebe”.Criado em 1985 com o objetivo de divulgar cinematografias desconhecidas do público português, o certame tinha o Golfinho de Ouro como o seu prémio máximo. Ao longo das suas 30 edições de existência, o evento conseguiu conquistar uma reputação invejável em Portugal e no estrangeiro, conseguindo uma média de 25 mil espectadores.

Autarquia investiu mais de um milhão de euros no festival 
A autarquia considera que os cortes “representam duro golpe na promoção e divulgação das artes que muito penaliza Setúbal, mas também para todos os apreciadores da sétima arte que, todos os anos, desde 1985, acorrem a esta festa do cinema”.
“A Câmara de Setúbal foi, desde a primeira hora, quando o festival tinha ainda sede em Troia, um dos principais parceiros do certame e nunca regateou apoios à sua realização, quer financeiros, quer logísticos. Foi esta autarquia que, ao longo dos 30 anos de vida do Festroia, sempre disponibilizou salas, transportes, instalações ou apoios à promoção e divulgação, entre muitas outras ajudas.
Só desde 2002, os apoios financeiros diretos aprovados pela Câmara sadina ascendem a  um milhão 633 mil e 400 euros, valor que indica a real dimensão do empenhamento municipal nesta iniciativa”, explica a autarquia acrescentando, porém, que o município isolado é “incapaz de garantir todos os meios financeiros necessários à concretização do festival”.
O município apela ainda a que os organismos do Estado que gerem os meios financeiros para apoiar o cinema, em especial o Instituto do Cinema e do Audiovisual, reconsiderem a decisão de retirar o apoio ao Festroia.

30 anos de cinema alternativo 
O festival surgiu em 1985 para revelar filmes desconhecidos
Entre os grandes nomes que já passaram pelo Festroia nos últimos trinta anos contam-se Kirk Douglas, Debbie Harry, Dennis Hopper, Krzysztof Kieslowski, Christopher Lee, Bigas Luna, Jirí Menzel, Pedro Almodóvar, Lauren Bacall, Juan Antonio Bardem, Robert Mitchum, Jane Russel, Assumpta Serna, Fernando Solanas, Alberto Sordi, Carlos Sorín, Christopher Walken, Michael York, e os portugueses Ruy de Carvalho, Joaquim de Almeida, Maria de Medeiros e Alexanda Lencastre.
Cabra Marcado para Morrer, de Eduardo Coutinho, foi o primeiro filme a vencer o Golfinho de Ouro, estávamos em 1985. Majid Majidi (Pedar), Lone Scherfig (Italiano Para Principiantes), Carlos Sorin (Histórias Mínimas), Bahman Ghobadi (As Tartarugas também Voam) e Felix Van Groeningen (O Círculo Quebrado) foram outros cineastas premiados ao longo dos anos no certame.
Em 2014, a comédia croata de perfil bastante comercial As Crianças do Sacerdote/The Priest's Children, assinada por Vinko Bresan, reuniu o inesperado consenso do júri oficial para o mais alto prémio da secção competitiva. O produtor e exibidor Paulo Branco foi o homenageado com o Golfinho de Ouro pela sua carreira.

Agência de Notícias

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