Greve pára barcos entre Barreiro e Lisboa até sábado

Hora de ponta sem ligações fluviais leva milhares ao desespero

Os trabalhadores da Soflusa estão no terceiro de sete dias de greve parcial, que vai afetar diariamente as ligações fluviais entre o Barreiro e Lisboa nas horas de ponta. Os utentes queixam-se das paralisações constantes e do elevado preço dos bilhetes e passes. O PSD do Barreiro “lamenta” que a greve prejudique centenas de milhares de pessoas e o Governo já avisou que não negoceia com base em greves. E porque fazem greve os trabalhadores da Soflusa? Porque temem perder 100 euros por mês devido ao impacto do novo regime jurídico do sector público empresarial. A Transtejo, do mesmo grupo da Soflusa, decidiu não fazer greve... para já.  


Milhares de pessoas sem ligação a Lisboa à hora de ponta 

A adesão à greve de ontem na Soflusa, responsável pelas ligações fluviais Barreiro/Lisboa, foi de 61 por cento no período da manhã, disse à Lusa fonte oficial da empresa, enquanto os sindicatos asseguram que a adesão foi total.
As ligações foram retomadas cerca das 9:30, depois do primeiro período de greve do dia, acrescentou a fonte da empresa.
José Oliveira, da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans), disse que a adesão foi de 100 por cento apesar de haver trabalhadores que asseguraram os serviços mínimos impostos pelo Tribunal Arbitral.
"A adesão é total, tendo em conta que estes trabalhadores não estão a trabalhar por vontade própria, mas por uma imposição de um acórdão do Tribunal Arbitral sobre serviços mínimos", sublinhou.
Os trabalhadores da Soflusa iniciaram na madrugada de domingo uma greve parcial de sete dias, que vai afetar diariamente as ligações entre Barreiro e Lisboa nas horas de ponta.
Durante a hora de ponta da manhã as ligações entre o Barreiro e Lisboa estiveram paradas, tendo-se realizado apenas duas carreiras previstas pelos serviços mínimos.
Hoje as ligações entre as duas margens vão voltar a parar na hora de maior movimento de manhã e de tarde. Na manhã, o serviço normal retoma às 10h40. No período da tarde, prevê-se que o último barco parta de Lisboa às 16h25, com as ligações a serem retomadas às 20h55.

Passageiros não concordam com a greve
Quase a totalidade dos barcos param nas horas de maior movimento 
As constantes paragens provocadas pelos plenários e greves, complicam a vida a milhares de pessoas que atravessam o Tejo rumo à capital. Nesses dias há poucas alternativas e para chegar à escola, ao trabalho, aos hospitais é preciso passar o cabo das tormentas.
É o caso de Marília que, as oito da manhã, desespera no cais do Barreiro. “Nestes dias é o caos e o terror”, dizia. Se podemos entender as motivações de uma greve geral – que se justifica – já é muito difícil entender e aceitar uma greve deste tipo que apenas lesa os passageiros”, refere Marília que trabalha num escritório de advogados no Marquês de Pombal. “Temos os passes pagos e vamos ter de chegar ao emprego fora de horas e sujeitar-nos a perder horas e, em alguns casos, a perder o emprego por causa dessa greve sem coração”.
O mesmo sentia Joana Cruz. Jornalista numa revista na capital gasta 57 euros mensais num passe para “ficar muitas vezes em terra. “Ora são plenários, ora são greves e quem paga é as gentes do Barreiro que fica sem oportunidade de chegar ao trabalho a horas dignas”. Se concorda com a greve? “Sinceramente com esse tipo de greve não posso concordar. Se querem lutar pelos seus direitos acho justo, mas que o façam não prejudicando milhares de outras pessoas”, dizia a jornalista.
Gustavo e Rafael, dois estudantes do Técnico, eram mais duas vozes discordantes da greve parcial às horas de ponta. “Não há justificação alguma. Os preços já são ‘impossíveis’ de aguentar, o povo quase não tem dinheiro para comer e, por causa destes senhores, muitos irão perder os seus empregos”, diziam.
Ana Sousa, empregada num café, é uma dessas pessoas. “Já me avisaram se chegar atrasada vão-me dispensar e arranjar alguém de Lisboa para o meu lugar. Tenho o passe pago e terei de arranjar alternativas até ao resto da semana. Qual? A boleia ou ir de autocarro até ao Montijo e viajar de lá de barco... e pagando muito mais”, dizia.

Trabalhadores da Transtejo dizem “não” à greve
Curiosamente, as carreiras do Montijo, Seixal e Cacilhas, afectas à Transtejo, que pertence ao mesmo grupo não aderiu a esta greve. Os trabalhadores, que também se reuniram em plenário, decidiram suspender a greve que estava prevista nos mesmos moldes que na Soflusa.
"Os trabalhadores da Transtejo não desistiram de lutar mas consideraram que esta não é a forma adequada. Os trabalhadores vão realizar um novo plenário no dia 8 de Novembro para decidir outras formas de luta", explicou Frederico Pereira.
Os trabalhadores das empresas Soflusa e Transtejo estão contra aos impactos do novo regime jurídico do sector público empresarial, considerando que vão sofrer um redução salarial de cerca de 100 euros.

PSD “lamenta danos” da greve
O terminal do Barreiro movimenta milhares de pessoas por dia  

A secção política do PSD do Barreiro já criticou os moldes que se processa esta greve. Sem colocar e causa o direito à greve, os social-democratas dizem que há “sectores de actividade cuja relevância é fundamental”.
É o caso dos transportes de passageiros, “que são fulcrais para a normal circulação das pessoas para os seus postos de trabalho, para as escolas e para os hospitais, entre outros locais”, diz o documento do PSD. Os social-democratas lembram que esta greve afecta “dezenas de milhares de pessoas que serão impedidas ou seriamente incomodadas no desenvolvimento dos seus trajectos diários e das suas normais actividades, com prejuízos muito significativos para pessoas, empresas e outras organizações”.
A esta greve junta-se outra dos Transportes Colectivos do Barreiro, a 6 de Novembro. E para quinta-feira está previsto a paragem dos comboios (CP) e uma greve parcial da Carris, em Lisboa. Sexta-feira a greve é de toda a função pública.
Diz o PSD Barreiro que “as repetidas situações de interrupção de serviço e/ou de serviço irregular não deixam também de ir afectando, lamentável e inevitavelmente, a fiabilidade e o prestígio dos próprios serviços de transporte público colectivo”.

Governo “não negoceia” com base em greves nos transportes
E qual a leitura que o Governo tira destas greves? O secretário de Estado dos Transportes afirmou que não negoceia com base em greves e que “não há nada” que faça o Governo mudar de estratégia na área dos transportes, mostrando-se “perplexo” com a estratégia dos trabalhadores.
“Esta estratégia de fazer reféns as empresas de uma estratégia política por parte dos sindicatos não levará o Governo a mudar de políticas. Nós queremos empresas que sejam eficientes seja na esfera pública seja na esfera privada”, afirmou Sérgio Monteiro aos jornalistas à margem de uma conferência em Lisboa.
O governante disse ainda que “as greves são um legítimo direito dos trabalhadores, mas, infelizmente, fazem perder clientes e perder receita e afastam as empresas da sustentabilidade financeira, que é uma condição para se manterem na esfera pública”.

Paulo Jorge Oliveira 

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