Câmara de Setúbal quer mais meios na Bela Vista

Autarquia quer polícias com “formação e perfil adequados” nos bairros sociais 

A presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira, garante que o ministro da Administração Interna, Miguel Macedo, ficou “sensibilizado” e deverá responder “nos próximos dias” ao pedido de reforço do policiamento de proximidade no Bairro da Bela Vista, onde morava o jovem que morreu no sábado, durante uma perseguição policial. A autarca pede também rapidez nas investigações aos acontecimentos que estiveram na origem da violência. A família não se conforma e acusa a polícia de ter “matado” o jovem. Uma tia do jovem diz mesmo que a polícia o tinha ameaçado de morte um dia antes. A SIC, revelou há minutos, que autópsia ao corpo do jovem não revela lesões compatíveis com balas. 



Miguel Macedo sensível ao problema de Setúbal 

A autarca esteve reunida com o ministro nesta segunda-feira, no Ministério da Administração Interna (MAI), em Lisboa, onde apresentou os projectos em curso no bairro, nomeadamente os previstos no programa Nosso Bairro, Nossa Cidade.
Este encontro – pedido pela autarca na sequência da morte de um jovem de 18 anos no sábado à noite, após uma perseguição policial entre os bairros da Bela Vista e de Manteigadas – serviu para pedir ao MAI um reforço da polícia de proximidade na Bela Vista.
“Ele informou-nos que no nosso município já estão colocados sete polícias de proximidade, a trabalharem com as escolas e os idosos”, disse a autarca após a reunião. Porém, apesar de admitir que estes agentes “têm estado a fazer um trabalho muito bom”, acompanhado pela câmara, os seus efeitos não chegam à Bela Vista. “No bairro, e particularmente dentro deste projecto Nosso Bairro, Nossa Cidade, não temos [polícias de proximidade], apesar de já termos solicitado dois ou três agentes para trabalharem connosco”, lamentou Maria das Dores Meira.
Miguel Macedo “foi muito sensível” e “prometeu que nos próximos dias vai dar resposta a esta nossa solicitação”, afirmou a presidente da câmara, acrescentando que acredita numa resposta “positiva”, embora não saiba de que forma será dada – se através de uma reorganização da equipa já no terreno ou se serão destacados mais agentes da PSP para o bairro.

Autarca defende policiamento de proximidade 

Mas o que faz, afinal, um “polícia de proximidade”? Maria das Dores Meira explica: “Iria trabalhar connosco dentro do projecto, como os técnicos das áreas da cultura, do desporto, da reabilitação de espaços verdes.” A principal função destes agentes da PSP seria a sensibilização da população para as questões de segurança, evitando casos como o de Rúben Marques, que morreu quando a moto em que seguia, sem usar capacete, se despistou, durante uma perseguição policial. O caso motivou já a abertura de um inquérito por parte da Inspecção-Geral da Administração Interna e do Ministério Público.
A autarca pede polícias com formação específica para trabalhar junto daquela população, para servirem de "interlocutores sensibilizados e despertos para a forma como a câmara pretende transformar o bairro". "Estamos a trabalhar com as populações e temos tido resultados fantásticos do ponto de vista operacional e de transformação dos bairros. O senhor ministro já conhecia algum deste trabalho, mas ficou sensibilizado”, sublinhou.
No espaço conhecido por Bela Vista, três bairros contíguos cresceram, ao longo de décadas, com operários vindos originários dos meios rurais, gente dos países africanos de língua oficial portuguesa e pessoas de etnia cigana. Cerca de 4300 residentes, 30 por cento das quais com menos de 18 anos, calcula Conceição Loureiro. Com outras especificidades: de uma forma geral são pessoas com um nível baixo de escolaridade, com poucos rendimentos ou desempregadas, onde o nível de insucesso e abandono escolares são altos, descreve a responsável pela Divisão da Inclusão Social da autarquia. “O agente que evita desacatos, que apoia os idosos, que ajuda as crianças não pode ser o mesmo que no dia seguinte vai ali algemar um rapaz, está a ver?”, disse Conceição Loureiro.

Rúben não apresenta balas no corpo e morreu com traumatismo  
Autópsia diz que não há balas no corpo do jovem Rúben 
O Ministério Público abriu, esta segunda-feira, um inquérito para investigar a morte do jovem no bairro da Bela Vista e revelou que o relatório da autópsia não encontrou lesões provocadas por balas.
"O Ministério Público (MP) instaurou inquérito com finalidade de investigar a morte de Ruben Manuel Teixeira Marques, ocorrida em 16 de março de 2013, cerca das 16.29 horas, na Rua João Augusto da Rosa, Manteigadas, Setúbal", refere nota da Procuradoria-Geral da República.
A mesma comunicação refere que "foi ordenada autópsia médico-legal, que se realizou esta segunda-feira, no Gabinete médico-legal de Setúbal, na presença de duas magistradas do Ministério Público do serviço de inquéritos da Comarca de Setúbal".
Acrescenta ainda que, "embora não esteja ainda elaborado o relatório da autópsia, pode afirmar-se que a morte resultou de lesões traumáticas cranianas decorrentes de acidente" e que "não foram detetados no corpo quaisquer vestígios ou sinais de lesões provocadas por disparo de arma de fogo".
Esta segunda-feira, alguns reforços policiais ainda permanecem no local, em ações de vigilância permanentes um pouco por todo o bairro, mas a exemplo do que já aconteceu no domingo, a situação no bairro é de aparente normalidade.
O Comando Distrital da PSP admitiu no sábado, em comunicado, que “foram efetuados dois disparos de intimidação” com “arma shotgun” na perseguição ao jovem, mas “com munição não letal”. Na mesma nota, citada pela Lusa, alegava-se que o indivíduo “desrespeitou a sinalização semafórica e a subsequente ordem de paragem dos elementos policiais”.
“Os meios de socorro à vítima foram de imediato acionados pelos elementos policiais no local, mas não evitaram o desfecho fatal”, indicou ainda a PSP, para acrescentar que “foi dado conhecimento ao Ministério Público e à Inspeção-Geral do Ministério da Administração Interna”, aos quais caberá agora “proceder às subsequentes averiguações”.
A Inspeção-Geral da Administração Interna, por sua vez, já abriu inquérito aos acontecimentos ocorridos junto do bairro da Bela Vista “que envolveram agentes da PSP e um civil que conduzia uma motorizada e que resultaram na morte deste cidadão", refere uma nota enviada à agência Lusa. A nota adianta que foi "fixado o prazo de 45 dias" para que haja uma conclusão sobre este caso.
A presidente da Câmara de Setúbal já veio exigir rapidez nas investigações às circunstâncias em que ocorreu a morte do jovem.
Na noite de domingo, segundo testemunhou a reportagem da Lusa, equipas de intervenção rápida da PSP ainda procediam à identificação de grupos de jovens da Bela Vista suspeitos de envolvimento em distúrbios.

Família sabe quem disparou e culpa PSP 
Família continua a culpar atuação policial na morte do jovem de 18 anos   

Os caixotes de lixo destruídos ou queimados no Bairro da Bela Vista, eram este domingo a única face visível dos confrontos de sábado à noite entre a PSP e moradores. Tumultos desencadeados pela morte de Rúben Marques, de 18 anos.
Enquanto a PSP insiste que Rúben morreu num despiste da moto em que seguia sem capacete, quando fugia à polícia, familiares e amigos não desarmam e acusam a PSP de o ter morto a tiro.
Escreve o Jornal de Notícias que Rosa Teixeira, tia de Rúben, disse que a PSP "cumpriu o que tinha prometido um dia antes. "Um agente ameaçou de morte o meu sobrinho", afirma. Ao lado de Rosa, as irmãs do jovem, Tânia, de 13 anos, e Ana, de 10, insistem na mesma versão.
Vera Fernandes, amiga da família, descreve Rúben como um miúdo que "adorava crianças". Para os seus dois filhos era "como se fosse um pai". Vera foi das primeiras a chegar ao local. Rúben estava caído já morto, e lembra-se de que "o reboque chegou primeiro e só depois levantaram o corpo". Esteve, recordou, "quase uma hora no chão, coberto de sangue".
Para a família e amigos, o rosto da morte tem um nome conhecido por todos os moradores do bairro, é o mesmo agente da PSP que ameaçara Rúben.
Ainda segundo uma reportagem do Jornal de Notícias, muitas das pessoas referem as ameaças do polícia e a sua intervenção que, para eles, terminou com a morte de Rúben. As irmãs do jovem e a tia contam que o mesmo agente ficou com o carro destruído logo a seguir ao incidente e até se terá mudado de casa com medo de represálias.
Para já, e segundo uma notícia recente da SIC, a autópsia ao corpo do jovem que morreu na Bela Vista não revela lesões compatíveis com balas.
Carla Marie Jeanne, presidente do Centro Cultural Africano, recorda que nos últimos 10 anos "houve cinco jovens que perderam a vida em confrontos com a PSP". Lembra que estas situações, tal como em 2009, "são uma galinha de ovos de ouro, porque imediatamente a seguir aos incidentes aparecem autarcas, ministros, instituições que se aproveitam dos acontecimentos para pedir mais verbas".

Agência de Notícias

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