Criticas Soltas por Joana T. Oliveira


10 mil alunos chegam às escolas com fome

Distraídos com o significado da palavra refundação, esquecemos por momentos a realidade até sermos abanados com violência por uma denúncia, triste e revoltante. A imagem de uma criança com fome é, em qualquer pedaço de terra dito desenvolvido, o suficiente para mover o Mundo.



Em Portugal vale um conjunto de incertezas. Ao que parece, a bandeira governamental do pequeno-almoço nas escolas rasgou-se com o vento. Se é para mudar isto, refunda-se já o País. Mas, primeiro, decrete-se a emigração imediata de todos aqueles que vivem de muitas promessas e pouca concretização.
O alerta partiu da CNIPE, uma confederação de pais. No Parlamento, as palavras foram proferidas sem rodeios. Há fome nas escolas e da intenção do Governo só mesmo o próprio apresenta uns dados sem grandes certezas: o programa está em curso, em parceria com empresas, mas ainda não segue em velocidade de cruzeiro. Os pais têm outra visão. Sabem que tentaram obter informações a nível nacional e não tiveram eco sobre qualquer plano em execução. Certo é que não há dinheiro para pagar os livros e as crianças não comem em condições. Isto é o senso comum. Isto é a realidade. A realidade diz que houve um miúdo do Barreiro que desmaiou com fome numa sala de aula. A realidade diz que outro miúdo – como contou o ADN – chega todas as segundas-feiras à escola desnutrido e tem de ir ao hospital. Uma realidade onde os ministros, os secretários de estado e os deputados não conhecem ou, melhor, fingem não conhecer para não ficarem mal na fotografia de família. 
Existem mais de 10 mil crianças/jovens com fome nas nossas escolas. A afirmação, assim divulgada, na secura de título, diz tudo. Não, não há fome nas escolas; há é crianças e jovens que entram nas escolas com fome. As escolas ainda vão conseguindo dar respostar, no seu interior, a este problema. A acção social escolar é uma área que funciona bem, que responde às situações de maior carência.
Sempre as escolas atentaram e actuaram no debelar dos casos mais necessitados, não só com a distribuição do almoço, mas também com a atribuição de suplementos alimentares. É sabido, por ser frequentemente divulgado na comunicação social, que é na escola que muitas crianças e jovens têm a única refeição condigna. No entanto, com os “cortes na educação” que se anunciam para o orçamento de 2013, poderá também estar em causa esta capacidade de actuação. E é isso que me preocupa.
Aos governantes exige-se outro tipo de acção: que encontrem as soluções para erradicar o problema, começando por medidas que o debelem no imediato (como se impõe numa qualquer catástrofe) e que não embarquem em soluções paliativas, de fim-de-linha, da sociedade civil. A “caridade” é uma acção que atua a jusante, paliativa, portanto, para colmatar as demissões do Estado. Meritória, porque nascida na solidariedade voluntária, mas nunca poderá ser a solução.
Pedagogicamente, na sabedoria de experiência feita, o povo diz que ao pescador não se deve dar o peixe; deve-se ensiná-lo a pescar. Mas, nos tempos correntes, num ambiente de austeridade sufocante, onde o desemprego é enorme e em contínuo crescimento, já não basta ensiná-lo a pescar: o rio pode estar irremediavelmente contaminado ou até seco. Há muita gente que sabe, mas não encontra um “rio”.
É preciso criar condições para o investimento e para a criação de postos de trabalho. Só assim as crianças e jovens terão em casa o devido sustento e a fome não entrará nas escolas (e assim se dispensaria, de bom grado, a caridade). Políticas de braços caídos, vexadas à inevitabilidade da solidariedade da sociedade civil, não fazem sentido.
Ainda ontem o senhor nosso primeiro referiu, em entrevista a um canal de televisão, que a escola vai começar a ser paga. Mas afinal pagamos cada vez mais impostos para quê? Para termos ainda mais despesas? Se agora existe fome... daqui a alguns anos pura e simplesmente não se estuda porque as famílias não têm dinheiro. Pergunto eu, é assim se resolve o futuro do país? Acho que não!


Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo 

O homem que não aceita crítica não é verdadeiramente grande. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. Outras irónicas. Tantas vezes desiludida e incompreendida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. O tom das Críticas Soltas às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação perante a vida, a política, a sociedade… o mundo,  por Joana Teófilo Oliveira para o ADN. 

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