10 385 alunos com carência alimentar


Governo admite fome nas escolas
Há 10 mil 385 alunos com carências alimentares, revelou ontem o secretário de Estado Casanova no parlamento. Metade destas crianças toma o pequeno-almoço na escola. Também a Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação e a Confederação Nacional das Associações de Pais denunciaram que há “fome nas escolas”, com os pais a terem cada vez mais dificuldades em assegurarem a alimentação dos filhos.
Muitas crianças portuguesas só comem na escola

São até ao momento 10 385 os alunos que 253 agrupamentos de escolas públicas sinalizaram como crianças com carências alimentares. O número foi revelado ontem pelo secretário de Estado da Educação, João Casanova de Almeida, durante a audição da comissão parlamentar de orçamento, finanças e administração pública.
Metade destas crianças está a ser apoiada através do programa “Pequeno-Almoço na Escola”. Os 5547 alunos que tomam a primeira refeição do dia na cantina da escola correspondem, segundo a tutela, a 51 por cento dos casos sinalizados pelos professores, mas Casanova de Almeida anunciou que também as famílias destas crianças serão apoiadas através do Banco Alimentar Contra a Fome.
Os números agora revelados surgem na sequência das confederações de associações de pais terem denunciado na véspera que o programa “Pequeno Almoço” – fornecido por empresas do sector alimentar e gerido pela tutela – não estaria a chegar a boa parte dos estabelecimentos de ensino.

Fome nas escolas está a aumentar
A CNIPE afirma que em vez do pequeno-almoço prometido pelo Ministério da Educação, os alunos passam fome. Questionada pelos deputados da oposição sobre este programa, lançado em fase piloto no final do ano lectivo passado, a presidente daquela confederação, Maria José Viseu, respondeu: “Não existe pequeno almoço, o que existe é fome nas escolas”.
A Confederação Nacional Independente de Pais e Encarregados de Educação (CNIPE) já tentou fazer uma sondagem a nível nacional, mas que não encontrou dados a este respeito. Também os deputados da oposição na comissão de Educação afirmaram que os dirigentes escolares nada sabem sobre este programa.
Ao final da manhã desta quarta-feira, foi também ouvida a Confederação Nacional das
Associações de Pais (CONFAP), que não dispunha igualmente de dados sobre o assunto. “Temos conhecimento de muitas famílias que não conseguem pagar os livros dos filhos, que não lhes conseguem dar uma refeição quente e isso muitas vezes só é conseguido à custa de grande esforço dos directores”, declarou a deputada socialista Odete João.
O presidente da CONFAP, Albino Almeida, confirmou que a fome nas escolas está a aumentar, constatando que à segunda-feira “os pratos ficam limpos”, mesmo quando os alimentos não são completamente do agrado dos alunos.
Além de também questionar a situação débil a que estão sujeitas muitas famílias, a deputada do PCP, Rita Rato, criticou, por sua vez, o Governo por “querer importar o modelo alemão” na vertente profissional e numa lógica “filho de operário é operário”.
Ana Drago, do Bloco de Esquerda, sublinhou que a crise está a ter “um impacto brutal nas famílias” e que as primeiras prejudicadas são as crianças: “As escolas desdobram-se em soluções. Pequeno-almoço? O ministério diz que está a andar, mas as escolas não sabem de nada, incluindo escolas que foram abrangidas pelo projecto-piloto no final do ano lectivo passado”.
O PSD sublinhou que o ano lectivo se iniciou com uma normalidade reconhecida pelos directores. Para Maria Viseu trata-se apenas de aparente normalidade. “As escolas portuguesas são hoje escolas onde se vive tristeza”, garantiu.

Ensino superior também em discussão
Cortes na educação foi aliás o principal tema e ponto de discórdia entre os deputados da oposição e a equipa de Nuno Crato, com especial atenção ao ensino superior. A contestação dos reitores das universidades e presidentes dos politécnicos levou o ministro da Educação a assumir ontem no parlamento que vai trabalhar com o ministro das Finanças Vítor Gaspar no sentido de encontrar uma solução para os problemas que as reduções orçamentais vão provocar no ensino superior. Nuno Crato assegurou que ambos os ministérios estão a negociar uma alternativa e têm “abertura” para “reunir com os reitores e os presidentes dos politécnicos”, garantindo também que o Ministério da Educação está atento à crise no ensino superior: “sabemos as dificuldades que têm e queremos estar do lado da solução”.
A solução contudo poderá passar também por as instituições de ensino superior encontrarem o seu próprio caminho. Nuno Crato destacou o “exemplo” da Universidade de Lisboa e Universidade Técnica de Lisboa, que têm em curso um projecto de fusão que é mais que uma “junção” das duas instituições. O ministro defendeu por isso que a racionalização da rede deve significar, à semelhança daquele processo de fusão, uma “real cooperação” entre instituições e “coordenação de oferta de cursos”.
A cooperação, segundo Crato, deve também ser um modelo a seguir pelos politécnicos e escolas secundárias com ensino profissional. Dessa união entre o secundário e o superior iria resultar um ensino mais integrado, defendeu o ministro: “Um dos caminhos que temos indicado é coordenarem-se com o ensino profissional secundário. Têm instalações, professores e especialistas que as secundárias não têm e podem oferecer uma experiência avançada mais cedo que o habitual”. A proposta de Crato, no entanto, parece ser mais do que uma simples orientação. “É algo para pôr em prática já este ano”, avisou.
O ministro defendeu também que os números do orçamento para a educação garantem o “respeito pelos contribuintes e o cumprimento do programa do governo”, numa distribuição de recursos em que “cada euro aplicado é um euro bem gasto”.


Agência de Notícias 

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