Manifestação contra as políticas de austeridade


100 mil nas ruas a protestar

"É Preciso Gritar. No dia 15 de Setembro, quem ficar calado não tem razão". O apelo é do escritor José Luís Peixoto, que se junta ao coro de vozes de um grupo de personalidades que decidiu criar no Facebook - e também num blog - um evento de protesto contra a troika e as medidas de austeridade actualmente impostas ao país. Hoje, por isso, é dia de protesto nacional e internacional anti-troika, convocado pela Internet. Lisboa, Setúbal e mais outras 31 cidades do país serão palco da voz de revolta do povo.


Manifestantes vão exigir melhor qualidade de vida 

"Que se lixe a troika - queremos as nossas vidas" é o nome dado ao protesto que vai ter lugar em várias cidades portuguesas e que está agendado para este sábado.
O 15 de setembro foi anunciado como dia de protesto por um grupo de cerca de 30 pessoas, de vários quadrantes sociais e políticos, na altura em que começou a quinta avaliação da troika ao programa de ajustamento português (28 de agosto) mas, nos últimos dias, tem ganho cada vez mais adeptos depois dos anúncios de austeridade feitos por Passos Coelho e Vítor Gaspar.
Os organizadores da manifestação apelam à participação "de todas as pessoas, coletivos, movimentos, associações, organizações não-governamentais, sindicatos, organizações políticas e partidárias" que não estejam de acordo com "a aplicação de medidas políticas devastadoras".
"Se nos querem vergar e forçar a aceitar o desemprego, a precariedade e a desigualdade como modo de vida, responderemos com a força da democracia, da liberdade, da mobilização e da luta. Queremos tomar nas nossas mãos as decisões do presente para construir um futuro", pode ler-se no apelo da organização.Na página oficial do movimento estão a ser publicados vários apelos individuais à mobilização para a manifestação deste sábado e entre os mesmos encontra-se um vídeo do rapper português Chullage, no qual o músico interpreta o tema "Que se lixe a troika!".
Na rede social, o evento conta neste momento com mais de 53 mil participantes. A ideia é que o número continue a crescer e que possa ser significativo, tal como aconteceu no ano passado, quando a Geração à Rasca juntou mais de 200 mil pessoas em Lisboa e cerca de 500.000 em todo o país.

Os objectivos da luta 
"Quero olhar o meu filho nos olhos e dizer-lhe.... 'Eu lutei por ti e para ti...'", diz um dos participantes. "Dia 15 não há praia! Temos um país para salvar", atira outro participante. E a cada "refresh", há novas pessoas a dizer que sim, que hoje lá estarão.
“É preciso fazer qualquer coisa de extraordinário. É preciso tomar as ruas e as praças das cidades e os nossos campos. Juntar as vozes, as mãos. Este silêncio mata-nos. O ruído do sistema mediático dominante ecoa no silêncio, reproduz o silêncio, tece redes de mentiras que nos adormecem e aniquilam o desejo. É preciso fazer qualquer coisa contra a submissão e a resignação, contra o afunilamento das ideias, contra a morte da vontade colectiva. É preciso convocar de novo as vozes, os braços e as pernas de todas e todos os que sabem que nas ruas se decide o presente e o futuro. É preciso vencer o medo que habilmente foi disseminado e, de uma vez por todas, perceber que já quase nada temos a perder e que o dia chegará de já tudo termos perdido porque nos calámos e, sós, desistimos”, diz a descrição do evento.
A austeridade que nos impõem, diz o manifesto, “destrói a dignidade e a vida não funciona e destrói a democracia. Quem se resigna a governar sob o memorando da troika entrega os instrumentos fundamentais para a gestão do país nas mãos dos especuladores e dos tecnocratas, aplicando um modelo económico que se baseia na lei da selva, do mais forte, desprezando os nossos interesses enquanto sociedade, as nossas condições de vida, a nossa dignidade. Grécia, Espanha, Itália, Irlanda, Portugal, países reféns da troika e da especulação financeira, perdem a soberania e empobrecem, assim como todos os países a quem se impõe este regime de austeridade”, sublinha este apelo à união “contra a inevitabilidade desta morte imposta e anunciada”, repetindo que “é preciso fazer qualquer coisa de extraordinário”.
Em Lisboa, o ponto de encontro será na Praça José Fontana, às 17 horas. A manifestação segue até à Praça de Espanha.

Um milhar a manifestar-se em Setúbal
Setúbal também espera muita participação na manifestação de hoje

À mesma hora, na Praça do Bocage, em Setúbal, mais gente sai à rua para opinar contra a vontade do Primeiro-ministro e companhia.
Segundo os organizadores, este evento tem como “finalidade única dar uma oportunidade aos cidadãos deste concelho de se manifestarem, em Setúbal, juntando-se às outras cidades do país, numa vasta jornada de união de propósitos, a nível verdadeiramente nacional”.
“Sem ter a intenção de retirar aos organizadores desta acção de luta a sua iniciativa, este evento tenciona fazer aderir a essa expressão de desagrado perante a troika e as medidas de austeridade, a voz do povo do concelho de Setúbal, que não possam deslocar-se a Lisboa” acrescentam.
De referir que até ontem estavam convidadas a comparecer na praça de Bocage mais de 20 mil pessoas, estando confirmadas já mais de meio milhar.
Um dos participantes é o professor Albérico Afonso que se mostra decepcionado com a reacção do Bloco de Esquerda às medidas anunciadas pelo governo de Passos Coelho. “Em relação ao Bloco a desorientação e falta de iniciativa começam a ser dramáticas” desabafa na sua página do facebook.
“Mas o que mais me enfurece é que perante esta hecatombe social, o meu BE, continua a utilizar um tom cordato, bem comportado, quase resignado neste combate político”, sublinha o responsável adiantando que “o Bloco foi mesmo o mais bem comportado dos partidos parlamentares”.
“O que é que os impede de sovar esta escumalha desqualificada e insensível que nos atola neste descontentamento? Que resposta/apoio pretender dar perante este abalo telúrico que nos desafia a todos para acção?” salienta Albérico Afonso.


O protesto a nível nacional
Num conjunto de 33 manifestações a nível nacional, são mais de cem mil pessoas as que já aderiram e confirmaram a participação. Mas não é só em Portugal que as vozes de protesto se vão fazer sentir: cerca de 500 pessoas vão concentrar-se nos consulados e embaixadas portuguesas de Berlim, Barcelona, Estados Unidos da América, Bruxelas, Fortaleza e Paris.
Em Lisboa, a adesão via Facebook à manifestação já ultrapassou os 50 mil participantes. E, no Porto, o número já vai nos 23 mil. A manifestação acontece, também, noutras cidades, de norte a sul do país, como Beja, Castelo Branco, Aveiro, Santarém, Funchal, Braga, Guarda, Coimbra, Loulé, Faro, Vila Real, Covilhã, Portimão, Leiria, Évora e Marinha Grande, entre outras.


Agência de Notícias 

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