Austeridade vai trazer alarme social a Setúbal


Cáritas e Banco Alimentar Contra a Fome temem futuro

Em reacção às medidas de mais austeridade, anunciadas pelo primeiro-ministro, e vinculadas pelo ministro das Finanças, o presidente da Cáritas Portuguesa e do Banco Alimentar Contra a Fome do Distrito de Setúbal, defendem em uníssono que os elementares direitos das pessoas “não podem ser postos em causa”. Pedro Passos Coelho, entanto, está determinado em não recuar nas medidas e, como ontem disse à RTP, não excluiu a possibilidade de mais austeridade no futuro.


Austeridade pode trazer mais pessoas para a rua 
“Quem governa este país, tem de olhar seriamente para as consequências das sucessivas políticas impostas aos portugueses e ao país, e já chega de sobrecarregar os mais desfavorecidos, em favor dos mais abastados”.
Esta posição, já vista e ouvida noutras pessoas e lugares, foi dita  pelo presidente do Banco Alimentar Contra a Fome do Distrito de Setúbal.
Para António Alves não há quaisquer dúvidas: “Este imparável conjunto de medidas de austeridade anunciadas pelo governo nos últimos dias “vai fazer crescer ainda mais o número de pessoas e de famílias a baterem à porta de instituições de ajuda social”.
“Já temos uma enorme lista de espera de instituições no distrito à qual já não conseguimos dar resposta. Pior ainda é sabermos que essa lista vai aumentar devido ao actual estado de do país”, refere o responsável pelo Banco Alimentar da Fome, instituição que fornece regularmente géneros alimentícios a 145 instituições de solidariedade social do distrito, incluindo o concelho de Odemira, totalizando 23.650 pessoas directamente ajudada.
A lista de pedidos de ajuda é extensa. “Ocasionalmente, sempre que se torna possível, ajudamos mais 79 instituições, mas em lista de espera estão mais 55 instituições, às quais, infelizmente, não temos qualquer capacidade de resposta”, lamenta António Alves.

"Pessoas não podem ser postos em causa”
As políticas de austeridade só vêm dificultar as situações difíceis de muitas famílias em dificuldade extrema. Por isso, diz Eugénio da Fonseca, presidente da Cáritas, que os elementares direitos das pessoas “não podem ser postos em causa”.
O responsável pelo organismo da Igreja Católica solicita ao Governo para que afecte verbas do Orçamento de Estado de 2013, via Segurança Social, no sentido de “proteger socialmente as pessoas e famílias com mais dificuldades, no sentido de lhes proporcionar uma qualidade de vida minimamente aceitável”, diz.
Confessando duvidar se as novas medidas de austeridade, anunciadas pelo primeiro-ministro “venham a criar mais postos de trabalho”, Eugénio da Fonseca diz ainda “não ter a certeza se estão reunidas as condições para, a curto e médio prazos, se criarem mais postos de trabalho”.
Esta já não é a primeira vez que o responsável pelo organismo da Igreja Católica deixa tal alerta público. Já no início deste Verão, o setubalense e presidente da Cáritas Portuguesa e Diocesana Setubalense, havia dito que “o nosso povo já não consegue suportar mais medidas de austeridade”, criticando o governo por “uma obsessão muito grande pela superação do défice, numa rapidez intolerável para as condições que o país atravessa”.

Primeiro-ministro não recua
Cada vez mais pessoas pedem ajuda alimentar 

Eugénio da Fonseca diz que “os encargos decorrentes do compromissos com a troika têm de ser distribuídos com maior equidade social, o que não tem sido feito”, exemplificando os prejuízos “essencialmente causados à classe média, que está completamente esfrangalhada, e não se tem ido, muitas vezes, aos rendimentos dos que os possuem em maior abundância”. Estas são mais duas vozes críticas às políticas seguidas por Passos Coelho que, ainda ontem em entrevista à RTP, não excluiu a possibilidade de mais austeridade no futuro.
"Não é tudo permitido nem é tudo possível, mas a ideia de que nós fizemos o que era preciso, de que atingimos esse limite e que, portanto, não é legítimo pedir mais, eu infelizmente não posso dizer aos portugueses.”
Passos Coelho avisa que se o plano da "troika" falhar, se o país não regressar aos mercados na data prevista e não "corrigir estruturalmente os desequilíbrios" de que padece, tudo será ainda pior.
"Os limites serão agravados e os portugueses terão de sofrer penalizações muito maiores do que hoje, e os portugueses sabem disso porque vêem o que está a acontecer noutros países e eu farei tudo ao meu alcance para que isso não aconteça em Portugal", declarou o primeiro-ministro.

Agência de Notícias 

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