Pena Solta por Lia Santos


Tempo de acontecer...
Hoje vou falar de casas, do tempo e talvez do passado se me lembrar dele... vou falar do sagaz exercício de um poder tão firme e silencioso como só houve no tempo mais presente. Estou rodeada de livros nesta grande biblioteca, sinto que esta é a fonte do conhecimento, no centro da grande capital este foi o sitio que hoje decidi sentar-me a divagar pelas letras...

Sorrindo com ironia e doçura no fundo de um alto segredo que os restitui à lama os meus pensamentos reflectem-se em palavras e variadas historias que anseiam chegar a esta folha de papel. as minhas doces mãos irreprimíveis capazes de escrever o mundo esperam apenas o começo... quero escrever sobre os meses, sonhados nas últimas chuvas...sobre as palavras subtis rodeadas em cima das nuvens...digamos que descobri amoras, a corrente oculta do gosto, o entusiasmo do mundo...descobri corpos de gente que se protege e absorve o silêncio admirável das fontes, pensamentos nas pedras de alguma coisa celeste como fogo exemplar....digamos que vejo as musas um pouco inclinadas para mim como estreitas e erguidas flores tenebrosas, e tenho memória e absorvente melancolia e atenção às portas sobre a extinção dos dias altos...
Não preciso lembrar de quem está em mim depois de amanhã fará um ano que passou lentamente e sem dar por isso esqueci o seu cheiro...é verdade, mas meu sorriso, seu sorriso minha alegria, sua alegria grita em mim e graças a Deus isso nunca perderei...a vida é engraçada, algumas pessoas até acham graça, nos pegamos o riso depois de perdas que mesmo sabendo que acontecem nunca esperamos, pedras no caminho nos transformam em ex-meninos, mas seguimos sempre seguimos meio na apneia sem tempo para pensar no que nos qualifica como seres humanos...suamos choramos e entra ano sai ano continuamos desejando o que não tem valor e deixando de aproveitar o que não voltará...por vezes desejamos tanto os sonhos que nos esquecemos da realidade.
Mas sempre fomos assim mais que não seja por um minuto na vida até que acordamos e muitas da vezes estamos no transporte para casa ou mesmo parados no meio da rua... ai sim voltamos a realidade de um dia igual a tantos outros. aqui sentada recordo alguns livros da nossa historia tentando perceber a mente do nosso passado com tantos feitos obtidos, nos somos o futuro dessa historia...e mesmo assim muitas vezes falhamos mesmo sabendo que esse era o caminho mais provável...talvez a culpa seja do sentido de poder que pensamos ter sobre o desconhecido, ou talvez seja mesmo de nós...segundo grandes senhores do passado, o impossível torna se realidade e talvez seja  por isso que nada acontece quando esperamos sem nada fazer para acontecer...
Hoje esqueço-me de quem sou ou de onde vim...do que anseio ou desejo...o conhecimento e folhas de papel que me rodeiam absorveram a minha alma sem dar lugar a mais nada para pensar... Gostava de não sair daqui mais, aqui sinto me segura do mundo la fora...das sombras que estão nas paredes ou mesmo das pessoas que não conhecemos...não entendo o presente reconhecendo o passado, mas anseio o futuro medrosamente... o engano deveria ser o nosso sobrenome pela forma que agimos mas mesmo assim continuo tentando me amar...
Deixo o relógio de lado e caminho ao contrário da minha sombra...
Lia Santos
Lisboa

Pena Solta, uma rúbrica que busca os pensamentos da alma e os cruza com experiências de vida e vivências. Sempre à quarta-feira ao fim da noite, com assinatura de Lia Santos


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